Caio Jr.: 'Chance muito grande do Botafogo ser de ponta em 5 anos'
Extra
A identificação de Caio Júnior com o Botafogo veio em um momento em que tanto clube como treinador amadureceram profissionalmente. Aos 46 anos, o técnico chegou em meio a um projeto que mistura investimentos dentro e fora de campo, com a chegada de reforços de expressão e a potencialização da marca do clube, com o uso cada vez maior do Engenhão para gerar receita. As inspirações vão de José Mourinho, a quem recebeu no Brasil quando estava no Coritiba, a Paulo Autuori, amigo e espelho. Mas, ainda em busca de um título expressivo no futebol brasileiro, o treinador ignora comparações, deixando claro seu jeito próprio de agir:
— Estilo cada um tem o seu. Nunca xinguei jogador.
Você jogou na base do Grêmio, logo depois do título mundial em 1983. O torcedor do Botafogo pode sonhar com um título expressivo breve?
Quando comecei no Grêmio em 1980, era uma filosofia que estou tentando implantar aqui: ter categoria de base forte. Tem que surgir jogador a todo momento. Precisa de uma estrutura muito boa, que ainda não tem. Para pensar em Brasileiro, Libertadores, tem que ser forte fora do campo também. O Botafogo hoje tem organização financeira, um estádio em que o torcedor se sente grande, e está planejando a longo prazo. A chance nos próximos cinco anos de ser uma equipe definitivamente de ponta do futebol brasileiro é muito grande.
Você também trabalhou em Portugal, terra onde hoje estão os treinadores da moda. O que dizer deles?
Essa nova geração liderada pelo Mourinho que é de sucesso. Ele fez com que surgissem treinadores jovens, com ideias novas. Antes era um perfil mais antiquado. Quando era supervisor do Coritiba em 2001, eu o recebi, ele treinava o União de Leiria, foi ver jogadores. Tenho essa relação e gostaria de poder usar ao meu favor, observar diretamente o trabalho dele. É um cara estudioso. A figura dele alavancou novos treinadores.
No Brasil hoje quem dá bola é o Muricy Ramalho?
Nessa década, é o que mais conquistou títulos. O estilo dele é bem diferente do meu. Não quer dizer melhor ou pior. Tem que ser autêntico. Isso é o melhor dele. Tem cheiro de futebol, sabe mexer com um vestiário. Meu estilo é meu. Não quero copiar ninguém. Mas o treinador que tenho como parâmetro é o Paulo Autuori. Meu amigo, um cara sensacional.
Você sempre passa tranquilidade nas conversas. Nunca saiu do sério feio?
Existe de eu me estressar, ficar indignado, é normal. Mas nunca na minha carreira xinguei um jogador. Posso até perder a cabeça, mas procuro manter o respeito.
As passagens no Japão e no Qatar acrescentaram muito?
Aprendizado mesmo no Japão eu tive mais, em termos de organização. Minha metodologia de treino da semana tem a ver com os japoneses. É uma semana muito organizada. Outra questão legal foi a forma como eu direciono o trabalho com a comissão. Sempre nos reunimos meia hora antes do treino, e todos sabem o que vão fazer. Todos têm oportunidade para falar. Isso aprendi com os japoneses. Delego muito poder, mas gosto de cobrar.
Como você, pai de um menino de 19 anos (Matheus), vê essa geração do Neymar?
Ter um filho de 19 faz eu entender bem o Neymar. Nós não podemos querer que eles sejam parecidos com a gente. A geração internet é diferente da minha e da mais recente. Há muita informação, eles veem a vida de forma acelerada. O prazer deles é diferente. Tem que entender isso. A nossa obrigação é fazer o jogado render o máximo dentro de campo. Precisamos conhecer ele, por isso adoro trabalhar com psicólogo, para saber como identificar a personalidade de cada um.
Joel Santana deixou o Botafogo batendo de frente com o Loco Abreu. Como é sua relação com o ídolo?
Eu me identifico quando encontro jogadores de nível intelectual, como é o caso dele. Eu troco ideia, tento ganhar através do argumento. Se ele souber mais que eu, vou reconhecer, mas precisa entender, porque eu me preparo. Abreu vai ser treinador. Ele conversa, participa. Eu era assim também.