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Muricy quebra o silêncio e explica por que não assumiu a Seleção

'Sou do tempo em que quando você assina um contrato tem que cumprir'

Por Thiago Lavinas
Rio de Janeiro


Uma pessoa certa das suas convicções e dos seus valores. Muricy Ramalho quebrou o silêncio pela primeira vez, neste domingo, após o empate por 1 a 1 do Fluminense com o Botafogo, e falou sobre a decisão de recusar o convite da CBF para assumir a Seleção Brasileira. O treinador se classificou como uma pessoa de princípios e disse que não poderia abandonar o Fluminense no meio de um projeto desenvolvido por ele e fechado com a diretoria.

- Podem pensar que esse cara é louco. Mas eu não sou louco. Sou do tempo em que quando você assina um contrato tem que cumprir. Se hoje não é isso que a gente vê... faço a minha parte. Acho que a vida é assim. Você escolhe um rumo na vida. Sou uma pessoa que respeita o que assina, que respeita a instituição, o patrocinador, a história, a torcida. Acredito que você precisa respeitar as pessoas. Sei que seria uma oportunidade para mim. Não é fácil. É complicado. Um convite desse
é difícil.

Muricy Ramalho disse que segue a educação dada pelo pai, Marinho Ramalho. E lamenta que os valores passados a ele foram se perdendo ao longo dos anos na sociedade. Mas ele espera servir de exemplo para os filhos.

- Para mim isso é natural (cumprir o contrato com o Fluminense e recusar o convite da seleção). Todos os lugares em que eu estive eu agi assim. No Internacional, estive por três anos e recebi umas três ou quatro propostas do São Paulo. E a minha família era tricolor e morava em São Paulo. E eu sempre agradecia e permanecia no Internacional. Dizia que não poderia ir porque estava em um projeto importante. Se eu quisesse poderia ir embora porque não tinha multa no contrato, não tinha nada. Meus filhos e meus amigos falavam que eu era maluco em ficar porque eu podia voltar para São Paulo, ficar perto da minha família e treinar o clube pelo qual eles torciam. Mas tenho isso comigo. Foi o que o meu pai me ensinou. Tenho que cumprir sempre os meus compromissos. Preciso dar o exemplo para a minha família.


Muricy Ramalho durante o empate ente Botafogo e
Fluminense no Rio (Foto: Agência Photocâmera)

O treinador garante que não tem receio de ter fechado as portas na Seleção Brasileira. Muricy Ramalho prefere não pensar nas consequências da sua atitude e disse que só tem medo de uma coisa: da morte.

- Tudo o que eu faço não tenho segunda intenção nenhuma. Não faço algo querendo nada na frente. Não temo nada também. Só tenho medo de morrer porque os meus filhos não estão bem criados ainda. Porque quando eles estiverem não terei nem medo disso. Se estivesse livre estaria lá na Seleção. A gente sempre pensa no melhor e que vai dar certo. Mas tinha essa possibilidade de o Fluminense não me liberar. Então é isso. Sou um cara que vive na realidade.

Muricy Ramalho não está preocupado com o futuro e não teme que uma fase ruim faça a lua de mel com o Fluminense acabar. O treinador sabe que no mundo do futebol é possível ir do céu para o inferno rapidamente. Com o empate com o Botafogo, o Tricolor perdeu a liderança do Campeonato Brasileiro para o Corinthians.

- Perguntavam para mim... mas e se o Fluminense depois te mandar embora? Aí é um problema do Fluminense. Agi da forma que acho certo. Aprendi na vida que precisava respeitar as pessoas que lhe tratam bem, com quem você tem contrato. Conversei com os dirigentes do Fluminense e não houve a liberação. (Fiquei) Triste porque era uma oportunidade. Mas procurei este lado para a minha vida. Para assumir algo tenho que estar com a vida bem resolvida. Sobre a liberação poderia fazer uma pressão, pedir um aumento, essas coisas. Mas não é a minha linha. Deixei o Fluminense decidir. Sobre o papo da multa. Acertamos o contrato de dois anos e meio na palavra. Para vocês sentirem como eu sou.

Apesar da decepção de não ir para a seleção brasileira, Muricy Ramalho garante que é uma pessoa realizada. Tanto no lado profissional como pessoal.

- O que me realiza é andar na rua e de cabeça erguida. Isso é o que me deixa feliz. Eu poderia até estar em um lugar melhor (na seleção), mas eu não estaria bem comigo. Deixaria as pessoas no meio do caminho de um projeto que eu montei, combinei e assinei. Foi o rumo que dei para a minha vida. Se eu mudar eu vou me sentir mal.

Por fim, Muricy Ramalho desejou boa sorte ao amigo Mano Menezes, que aceitou o convite e vai ser apresentado nesta segunda-feira como o novo técnico da Seleção Brasileira.

- Tivemos juntos uma passagem no Sul e por um período vivemos no mesmo flat. Lá (em Porto Alegre) a rivalidade é muito grande que os técnicos nem podem conversar. Mas como o restaurante (do flat) era no último andar e ninguém poderia subir, a gente conversava muito. Então a gente se conhece bem, por isso desejo muita sorte ao Mano. Em relação à pressão, não é no Brasil. Em qualquer Copa do Mundo, o técnico vai ser pressionado. E a gente (treinador) está acostumado.