Botafogo planeja devolver Engenhão à Prefeitura
O Globo
- Decisão será tomada na quinta-feira
- Na ocasião, conselheiros e todos os poderes do clube vão se reunir
RIO - Há cinco dias, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção,
dizia que a devolução do Engenhão à prefeitura não estava em pauta. A
princípio. Os dias se passaram, as dificuldades e as perdas financeiras
se mostraram grandes, e o dirigente está perto de devolver à prefeitura
as chaves do estádio, casa do alvinegro nos últimos seis anos. Na
quinta-feira à tarde, todos os conselhos e poderes do clube vão se
reunir na sede de General Severiano para tratar do assunto e respaldar a
decisão do presidente, que tende pela rescisão do contrato de
concessão.
Ainda esta semana, Maurício Assumpção irá se encontrar com Eduardo Paes. Uma dos inúmeras conversas o prefeito do Rio para tentar minimizar as perdas que o clube coleciona desde a interdição do estádio, há uma semana. A principal delas, a iminente assinatura do acordo dos naming rights (direitos de propriedades do nome do Engenhão), que valeria aos cofres do clube cerca de R$ 30 milhões. O Botafogo já foi informado por uma empresa com a qual negociava que não há mais interesse, nem futuramente.
O
movimento de devolução do Engenhão é encabeçado pelo ex-presidente e
conselheiro do clube Carlos Augusto Montenegro, que tem conversado com
Assumpção. Ele afirma que até mesmo a pequena oposição alvinegra está a
favor da entrega do estádio aos donos.
— Não estamos vendo outra
solução. Não há. A serventia para o Botafogo acabou. O clube não tem
condições de gerenciar. Mesmo que a prefeitura arque com a manutenção,
não haveria tanto lucro — afirma Montenegro, que garante que não haverá
problemas jurídicos na devolução. — É melhor devolver para que eles
tenham tranquilidade de fazer os ajustes necessários. Vai ser mais fácil
para as reformas para as Olimpíadas.
O Botafogo já formou uma
junta de advogados para buscar os responsáveis pelos danos financeiros.
Sem poder mandar jogos e alugar o estádio para grandes eventos, o clube
terá de rever seus contratos relativos aos camarotes vendidos, locações e
placas de publicidade.
O clube se exime de todos os problemas
estruturais que o estádio apresenta desde o início da concessão, em
2007. De acordo com o alvinegro, a manutenção sempre foi feita, mas
havia questões que só uma grande reforma resolveria. Em uma das reuniões
na prefeitura, o presidente alvinegro apontou outros problemas, que
raramente vinham a público. Assumpção afirma que o clube tentava
resolver com paliativos e, depois, procurava quem deveria pagar pelos
gastos. Desde falhas no sistema hidráulico ao sistema elétrico, que
foram responsáveis pelos constantes apagões nos primeiros anos de uso e
pela falta de água até hoje em alguns pontos do estádio em dias de jogo
de maior público. Até o placar eletrônico, que não está funcionando há
algum tempo, e os telões apresentam defeitos de fábrica.
Porém, a
interdição do estádio ocorreu por um motivo maior. Na última
terça-feira, o prefeito Eduardo Paes anunciou o fechamento do Engenhão,
por tempo indeterminado, devido ao deslocamento, além do previsto no
projeto original, dos arcos de sustentação das coberturas dos setores
Leste e Oeste. A empresa alemã SBP emitiu um laudo que dizia que ventos
acima de 63km/h poderiam fazer as estruturas de concreto ruírem.
A
prefeitura recebeu o documento na terça-feira passada e anunciou a
interdição imediata. No dia seguinte, no entanto, a maior parte das
atividades no estádio —,como o uso por atletas da pista de atletismo e
do campo principal, a área administrativa e o campo anexo para os
treinos do Botafogo — foi liberada.
Em 2010, laudo da empresa
portuguesa Tal Projecto já recomendava a interdição parcial do Engenhão,
com a restrição de uso para ventos acima de 115km/h. Em 2007, a Alpha
Engenharia e Estruturas, responsável pela construção da cobertura,
afirmou que não havia os problemas. Agora, engenheiros da mesma empresa
negaram conhecer qualquer problema estrutural, mas confirmaram que o
teto deve ter acompanhamento contínuo.
Time com Bruno Mendes
Caso
receba o Engenhão de volta, a prefeitura deverá fazer novo edital de
licitação para a concessão do estádio. Como não está previsto no
orçamento o custo para manter o espaço, o processo licitatório poderá
ser feito em caráter de urgência. Especula-se que uma empresa que
estaria interessada no Maracanã também poderia ficar com o Estádio João
Havelange.
Enquanto não decide o futuro da sua casa, o Botafogo se
prepara para o clássico com o Vasco, que será em Volta Redonda. Desde
2011, o alvinegro não joga no Raulino de Oliveira, quando empatou com o
Fluminense por 1 a 1, na última rodada do Brasileiro. Porém, com a
interdição do Engenhão, o chamado Estádio da Cidadania, como é
conhecido, será o palco de Seedorf e Cia. na maioria dos jogos.
Incluindo a final do Carioca, na qual o time de Oswaldo de Oliveira tem
presença garantida, por ter vencido a Taça Guanabara. No Brasileiro, o
clube ainda estuda onde fará seus jogos como mandante até que o Maracanã
possa ser usado. Assumpção já admitiu não acreditar que o estádio seja
liberado para os grandes cariocas antes da Copa de 2014.