Atlético-MG: compra de equipamentos com verbas públicas, em 2009, chega à Polícia Federal
No início de 2009, Bebeto de Freitas — ex-presidente do Botafogo — 
assumiu a diretoria de futebol do Atlético-MG a convite do presidente 
Alexandre Kalil. Logo que chegou, organizou a compra de equipamentos de 
ginástica com verbas da Lei de Incentivo ao Esporte. O Galo aplicou R$ 
510 mil em aparelhos de musculação comprados de duas empresas. Com um 
problema: a negociação foi alvo de denúncia ao Ministério Público, que 
levou o caso à Polícia Federal, em 29 de junho de 2011, por indícios de 
irregularidades.
— Soube da denúncia, mas não busquei mais 
informações porque já estava sendo investigada pelas partes competentes —
 admite Fabiano Lopes, ex-presidente do Conselho Fiscal do Galo.
Na
 denúncia, há as suspeitas de fraude, falsidade ideológica e formação de
 quadrilha, e o Galo é acusado de adquirir os aparelhos de ginástica, 
com verbas públicas, de forma irregular. Sem participar do processo de 
concorrência para a venda dos equipamentos, a empresa Technofitness, 
sediada em Engenheiro Paulo de Frontin, no interior do estado do Rio, 
recebeu R$ 440 mil do clube, enquanto a carioca Áquila Fitness — efetiva
 vencedora da concorrência — ficou com os R$ 70 mil restantes. Ambos os 
valores foram pagos em cheques de conta aberta no Banco do Brasil, 
exclusiva para os incentivos estatais.
— A compra de equipamentos 
de musculação realmente existiu e com recursos federais. Na minha 
opinião, existem fortes indícios de irregularidades de ambas as partes 
(venda e compra), mas não cabe a mim apontá-los — confirma Sandro 
Juliano, ex-funcionário do Galo procurado pelo Jogo Extra.
Já o Atlético-MG informou que os documentos relativos à compra
 dos equipamentos já foram enviados às autoridades, e que o presidente 
Alexandre Kalil não se pronunciaria sobre o assunto, relativo ao setor 
jurídico do clube. Na denúncia, consta que o Galo não possui os 
originais das notas fiscais emitidas pelas duas empresas — apenas as 
cópias reproduzidas pelo Jogo Extra, que procurou Bebeto de Freitas em 
números de celular e residenciais, sem sucesso.
Terça-feira, foi 
solicitada ao Ministério do Esporte a prestação de contas do Galo. A 
assessoria do órgão garantiu que, até sexta-feira, emitiria um 
posicionamento — o que não ocorreu.
Technofitness: sedes difíceis de encontrar
Quando
 fechou um negócio de R$ 440 mil com o Atlético-MG, a Technofitness 
contava com seis meses de existência. Nas duas notas fiscais da empresa 
(assinadas pela mesma pessoa que emitiu a da Áquila), consta um endereço
 às margens da rodovia RJ-127, que corta a cidade de Engenheiro Paulo de
 Frontin. O CEP — 26.650-000 — é genérico e não se refere a nenhuma 
localidade específica. Só pelo número do imóvel, 22.140, foi possível 
encontrar um local em que a loja pudesse manter uma sede. No caso, uma 
construção de dois andares, em frente à 98ª DP.
O Jogo Extra foi 
ao imóvel e conversou com uma senhora, dona Zeni, que informou que a 
empresa, há cerca de quatro anos, alugou uma sala por dois anos, mas 
saiu após um ano no local. Bons pagadores, não deixaram dívidas.
O
 endereço que consta na nota fiscal, porém, não é o mesmo registrado na 
Receita Federal. Para o governo, a Technofitness está no quilômetro 18 
de outra rodovia que passa por Engenheiro Paulo de Frontin, a RJ-121, na
 sala 101 do número 9. Só que não existe nenhum imóvel ao longo do 
quilômetro 18, às margens da rodovia. A única construção, 
coincidentemente, é a de outra unidade policial — o posto da Polícia 
Rodoviária de Palmas, na fronteira com o município de Vassouras.
—
 O lugar em que você foi (na RJ-127) é mesmo a sede da empresa. 
Funcionamos até 2012. Tínhamos clientes no Brasil inteiro, não lembro 
dos detalhes da venda ao Atlético-MG — afirmou Pedro Alexandre Gama, 
dono da Technofitness, que desconhece a Áquila e o endereço na RJ-121. —
 Só se mudaram depois.
Ajuda das empresas: O Atlético-MG 
recebeu cerca de R$ 5 milhões, em 2007 (ainda na gestão do ex-presidente
 Ziza Valadares), pela Lei de Incentivo ao Esporte (n 11.438, de 29 de 
dezembro de 2006), que permite repassar um percentual do imposto pago 
por empresas e pessoas a entidades que invistam na formação de atletas, 
em ações educativas e de viés social. Assim, o Galo captou recursos do 
Banco BMG, da Fiat e da estatal Cemig (Companhia Energética de Minas 
Gerais).
Academia nova: Em 2009, ainda sobrava 
cerca de R$ 1 milhão da verba pública, e o Atlético-MG abriu 
concorrência para comprar aparelhos de ginástica. A Life e a Reebok, 
duas empresas reconhecidas no setor, ofereceram valores entre R$ 360 mil
 e R$ 380 mil. A Áquila, representada por um vendedor chamado J. Amaral,
 venceu a disputa. O Galo pagou cerca de R$ 130 mil a mais do que o 
ofertado pelas outras interessadas.
Duplo investimento:
 A Lei de Incentivo ao Esporte restringe a aplicação de recursos apenas 
aos projetos devidamente aprovados pelo governo. Em 2008, o Atlético-MG 
já havia usado verbas para comprar aparelhos para as categorias de base 
do clube. Depois, usou novamente os mesmos recursos para adquirir mais 
equipamentos — vistos em várias fotos com jogadores do elenco 
profissional.
Leia mais: http://extra.globo.com/esporte/atletico-mg-compra-de-equipamentos-com-verbas-publicas-em-2009-chega-policia-federal-8043776.html#ixzz2Q1yQVBhC
 
 
