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Caixa reconhece problemas e promete mudanças profundas na Timemania

por Camila Mattoso - Coluna De Prima

 
Cinco anos depois do lançamento oficial, a Caixa Econômica Federal prepara mudanças profundas no formato da Timemania para serem implementadas a partir do ano que vem. A iniciativa, idealizada para ajudar os clubes a pagarem as dívidas fiscais que têm com a União, foi fracassada até o momento, arrecadando apenas metade do projetado, cerca de R$ 250 milhões ao ano, dos quais 22% são repassados aos times endividados – dinheiro que automaticamente é direcionado para o abatimento dos débitos.

Reconhecendo a pouca adesão, a Caixa estuda quais mudanças podem ser feitas para ajudar na popularização do produto e a resgatar as expectativas inicialmente colocadas no programa. Entre os motivos apontados para a baixa procura, o gerente nacional de Loterias da Caixa, Edilson Carrogi, cita a premiação como um dos elementos a serem repensados.

- Primeiro que a Timemania é uma modalidade muito ligada ao âmbito do esporte e do futebol e isso traz um público bastante significativo, mas que tem muita peculiaridade. Acaba trazendo um público muito específico. Há outra coisa que é a questão dos prêmios. Ao longo do ano, no conjunto, não há uma premiação expressiva para o apostador, como tem a Megasena – afirmou.

Ainda em busca de alcançar uma arrecadação de R$ 500 milhões, a Caixa aposta que, a partir desta análise de performance que está sendo feita, possa ter até o final deste ano uma proposta mais concreta com mudanças a serem feitas, tanto no aspecto visual quanto na mecânica da loteria. Em entrevista à De Prima, o gerente nacional de Loterias do banco falou em uma “nova Timemania” e disse que até mesmo o nome pode mudar.

- Eu mencionei nova Timemania porque é um produto que viria com bastantes e profundas alterações. Tanto do ponto de vista visual quanto da mecânica da aposta. Ainda não sabemos se o nome muda, por exemplo. Ou se o concurso vai voltar a zero, por exemplo. Se a gente muda o nome do concurso, tem que voltar a zero. Ou se vamos manter o nome da modalidade e vamos dar sequência a edição que estamos. Isso tudo faz parte do estudo – explicou Edilson Carrogi.

A partir desta terça-feira, a Timemania passa a ter três sorteios semanais – antes eram dois. A alteração já é parte do projeto de tentativa de reposicionar o programa e massificá-lo. Com a mudança, a Caixa espera aumentar a arrecadação entre 10 e 15%, uma diferença de cerca de R$ 35 milhões ao ano.

Confira na íntegra a entrevista do gerente nacional de Loterias da Caixa, Edilson Carragi, para a 
 De Prima.

Qual o balanço que a Caixa faz da Timemania nestes cinco anos?
Importante dizer que a Timemania é hoje uma modalidade do portfólio da Caixa que tem uma característica muito especial. Ela se diferencia bastante das outras por causa da especificidade que ela traz. Tanto na questão da mecânica que compõe as apostas, como a questão de ter a função de levantar recursos para alimentar os credores dos clubes que estão em dívida com a União, de modo que a sociedade recupere esses valores, de um jeito que todo mundo saia ganhando com isso, inclusive os apostadores.

A Timemania é uma modalidade que tem historicamente uma grande sequência de acumulados e há ocasiões em que ela acaba pagando mais que a Megasena, em algumas situações. Isso já aconteceu, apesar de não ser frequente. Muito se fala também da arrecadação da Timemania, que não se alcançou o nível projetado em seu lançamento, em 2008. Embora isso seja verdadeiro, do valor do montante da arrecadação, à época, pesquisas que foram feitas, qualitativas e quantitativas, indicavam que seria possível arrecadar R$ 500 milhões por ano. Hoje, a gente alcançou um patamar de mais de R$ 250 milhões, 50% do que foi projeto à época. Há que se ver que por questões específicas não seu foi alcançado o que aquelas pesquisas mostraram. Mas há diversas explicações para isso.

 Primeiro que a Timemania é uma modalidade muito ligada ao âmbito do esporte e do futebol e isso traz um público bastante significativo, mas que tem muita peculiaridade. E ainda que a Timemania não seja uma loteria esportiva, já que não está ligada aos resultados da rodada do futebol, mesmo tendo um apelo muito forte em relação ao futebol. E essa era mesmo a ideia, mas acaba trazendo um público muito específico. Há outra coisa que é a questão dos prêmios. Ao longo do ano, no conjunto, não há uma premiação expressiva para o apostador, como tem a Mega. Então, esse valor que ficou aquém das expectativas tem essas explicações. Por outro lado, se você for ver, a Timemania é uma das modalidades que tem apresentado maior crescimento de arrecadação ao longo dos anos. O ano passado, por exemplo, o aumento foi de cerca de 40%.

 A Caixa tem investido também em publicidade, tanto em mídia espontânea quanto em termos de campanhas. No caso da Timemania, elas são mais pontuais. E, para o futuro, tem uma série de propostas para remodelar o produto e torná-lo mais atraente, tanto do ponto de vista da mecânica, como do visual, para dar mais visibilidade. Estamos pensando muito nisso.

Do ponto de vista dos clubes, eles estão cumprindo as obrigações que têm?
Uma das bases de sustentação da Timemania é a divulgação por parte do clubes, já que eles são apontados como os times de coração no volante de aposta. E claro que interessa ao clube fazer essa divulgação. Tem alguns que se esforçam mais para isso, fazendo divulgação nos jogos, nos estádios, no sistema de som e isso acaba incentivando bastante as apostas. E, anualmente, a Caixa faz uma apuração dos times que mais foram indicados como “time do coração”. É feito um ranking e, de acordo com a lei, de modo que todos os times que fazem parte do programa são divididos em quatro grupos e eles recebem um valor de acordo com o grupo que estão. Quando a gente fala que o time recebe é no sentido amplo, já que quem recebe é quem o time precisa pagar, diretamente. Depois desta fase de quitação das dívidas, aí sim, os clubes passarão a receber a receita para eles.

Então, o clube pode ser beneficiado duas vezes?
Ele vai receber o que lhe cabe na arrecadação, nada a mais do que isso. Um clube tem duas fontes de receita na Timemania. A primeira é por meio das apostas: cada vez que ele for indicado como “time do coração” ele recebe um valor disto. Uma outra fonte de receita é por meio da avaliação que a Caixa faz, de quantas apostas este time teve como indicado, e o ranking feito com base nisto. De acordo com o grupo que ele está, ele recebe uma outra porcentagem. São duas partes e cada uma ele recebe de um jeito. Portanto, por serem duas formas, é de interesse do clube divulgar o programa.

No acordo, existe uma obrigação de divulgação?
Quando ele faz a opção de participação na Timemania, entre outras coisas, ele está firmando o compromisso de participar da divulgação da Timemania e dar os detalhes para os torcedores, de como eles podem participar. Eles têm interesse nisso.

Mas isso é colocado como no contrato?

O contrato não prevê a forma. Se ele tem de fazer uma coisa ou investir tantos reais, não existe. Só existe a obrigação de fazer e dar os esforços necessários pelos meios que eles avaliarem serem os mais adequados.

A Caixa controla isso de alguma maneira?
Não, porque é a parte do acordo que lhes cabe. Como há muito interesse dos clubes, subentende-se que ele vai tomar as medidas necessárias para fazer isso acontecer. Cada parte tem a sua obrigação na parte da divulgação. A Caixa faz as medidas que acha adequada para a divulgação do produto.

O que vocês pensam em mudar para tornar a Timemania mais atrativa?
Como eu havia falado no começo, a Timemania faz parte dos planos principais da Caixa. A gente tem uma equipe trabalhando o tempo todo para avaliar a performance do produto. Estão fazendo um estudo também sobre o público que aposta. Isso inclui também a exposição da Timemania na mídia, os resultados que tem rendido, tanto para os credores como para os apostadores. Diante disso, nossa equipe tem nos planos, que inclui um possível redesenho na mecânica de apostas, na própria matriz numérica, usando elementos mais visuais, que remetam aos clubes.

Eu não posso entrar em muitos detalhes ainda, por uma questão do sigilo do desenvolvimento, mas a gente está pesquisando, estudando e testando, inclusive em campo. A gente está procurando, assim, definir um modelo que vá dar maior envergadura para a Timemania, dentro do portfólio que a gente tem. A gente sabe que há oportunidades e a Caixa está trabalhando forte para trazer algumas mudanças. E, a mais recente, é que a gente incluiu o terceiro sorteio semanal, que começou nesta semana. As apostas que foram feitas desde sábado às 21 horas, já estão sendo feitas para o concurso que vai ser sorteado amanhã, não mais na quarta. Antes era de quartas e sábados.

A partir desta semana, eles vão acontecer de terças, quintas e sábados. E não é tão simples quanto parece. O apostador tem mais chances de ganhar, na medida que ele tem mais oportunidades de apostar. E, além disso, isso distribui melhor o nosso portfólio e dá maior foco para a Timemania. O apostador vai conseguir perceber isso.

Com essa mudança, vocês têm qual expectativa?
Só com a alteração dos sorteios, a gente espera aumentar entre 10 a 15%, apenas com esta alteração. Sem mudar mecânica e outras coisas. Como é previsto um aumento de 7%, que a gente chama de crescimento vegetativo anual, que é o crescimento natural de apostas, o aumento pode ser de até 22%. Como teve um desempenho muito bom no ano passado, a gente espera que com o passar dos anos vá melhorando ainda mais. Com o esforço dos clubes e da Caixa, o público apostador vai tomando conhecimento cada vez mais. E isso vai aumentando, claro, o repasse para os clubes e sociedade.

Existe perspectiva de mudar de preço?
Não, não há perspectiva de alteração. Hoje custa R$ 2,00 por aposta. É lógico que esta questão também faz parte do estudo que está sendo feito, já que é um elemento muito importante na análise do desempenho. Mas o custo da aposta não compete à Caixa e sim ao ministério da Fazenda. Eles que autorizam a Caixa a fazer alterações, mas não houve até o momento um pedido nosso para esta alteração.

Do ponto de vista do pagamento das dívidas, você acha que a Timemania tem sido eficaz?
Sem dúvida nenhuma a Timemania é um instrumento muito importante para esta finalidade, mas não é só o angariamento destes recursos que a Timemania previu. Além da Timemania, ela prevê uma série de obrigações. Uma delas é que a dívida dos clubes precisa ser parcelado. Existe um contrato com reconhecimento das dívidas e parcelamento destes valores. Uma parte destes valores é amortizado com a arrecadação da Timemania, mas outra parte é também repassada pelos próprios clubes, com recursos próprios. A Timemania tem uma participação nisso. Então, existe toda uma engenharia financeira legal que foi construída para que as dívidas sejam de fato amortizadas. É bom frisar que a Timemania não é a única, mas é auxiliar. A obrigação é do clube e está prevista na legislação.

A Caixa pretende aumentar a divulgação da Timemania?
Não há neste momento uma campanha massiva da Timemania projetada. A Caixa está em estudo da forma mais adequada para divulgar o terceiro sorteio semanal, que foi o que já foi feito. Está em estudo pelo setor de comunicação da Caixa a forma de fazer a comunicação desta alteração. Para o futuro, a comunicação da divulgação também faz parte deste estudo maior que estamos fazendo.

O estudo vai ficar pronto quando?
A gente não tem uma data ainda de previsão para finalização. Ao longo deste ano a gente vai dar um foco neste projeto e a gente entende que para o final do ano vamos ter ele mais concreto, com propostas mais concretas, analisadas com dados reais. Assim, a gente consegue chegar em um modelo mais concreto do que seria uma nova Timemania. Mas ainda não temos uma data precisa para dar como previsão.

Mas vocês querem iniciar isso no ano que vem?
Não sei se iniciar, mas queremos ter um projeto mais concreto. Se ele estiver já para execução, melhor e a gente pode dar a maior velocidade possível. Se ainda não estiver, vamos continuar trabalhando para acontecer o mais rápido possível.

Acha que ainda é possível chegar ao valor de R$ 500 milhões inicialmente pensado?
Existe, claro. Lógico que tudo que se fala nesta matéria é no campo da previsão. Não há como, em nenhum produto, em nenhuma empresa, saber exatamente o valor da arrecadação. Mas no campo das ideias nós temos muito claro de que esse valor é atingível sim, desde que algumas mudanças sejam feitas e torne o produto mais fácil, mas acessível, mais prático, mais conhecido. É possível até de chegar em um número maior do que a previsão inicial.

Em quanto tempo?
Pelas mesmas razões que disse antes, não consigo te dar uma previsão temporal para isso. Mas, pelo histórico de evolução da Timemania, e somado a isso todas as alterações que estamos tentando implementar no produto, não é um futuro muito longínquo não. Nos próximos anos, provavelmente, desde que a gente consiga implantar as mudanças que queremos.

Você usou o termo “nova Timemania”. A ideia é reformular bastante mesmo, então?
Eu mencionei nova Timemania porque é um produto que viria com bastantes e profundas alterações. Tanto do ponto de vista visual quanto da mecânica da aposta. Ainda não sabemos se o nome muda, por exemplo. Ou se o concurso vai voltar a zero, por exemplo. Se a gente muda o nome do concurso, tem que voltar a zero. Ou se vamos manter o nome da modalidade e vamos dar sequência a edição que estamos. Isso tudo faz parte do estudo.

Que mudanças visuais vocês estão pensando?
No volante. Estamos falando da forma como o cliente percebe a modalidade. Então, ela pode ter uma cara diferente mesmo, com um volante completamente reformulado. Com, inclusive, uma identidade visual maior com os clubes, por exemplo, como eu havia mencionado, que está em análise. O sorteio seria feito com o uso dos escudos dos times, em uma das possibilidades, por exemplo. Hoje são sorteados números e passariam a ser sorteados escudos, para gerar uma identidade visual maior com os times. Eu só friso o tempo todo que estamos falando de um estudo, não tem nada fechado ainda.

Como funciona atualmente?
O volante da Timemania hoje tem duas partes, uma com números e outra com os nomes dos times. São 80 times que aparecem ali, embora o total de participantes seja de 98. Os outros 18 também recebem parte da arrecadação. Dos 80 que estão no volante, o apostador marca apenas um time, o do coração dele. Você marca dez números na matriz numérica e o seu time. Nesta proposta que a Caixa está estudando não haveria matriz numérica, apenas os escudos dos times. E aí o apostador escolheria os times e não os números. Seriam dez times e mais um, o do coração. Isso é estudo. Um outro estudo já colocaria quatro matrizes. Há várias formas e a gente está estudando isso. O que é importante do que eu estou falando é uma maior identidade visual dos times no volante da aposta, com uma possível exclusão da matriz numérica.

Existe uma previsão de mudança na distribuição do dinheiro para os clubes?
A Caixa só define o formato da aposta. É de competência do poder legislativo definir sobre o resto. Para haver alteração no repasse para os clubes seria necessária uma alteração na lei, o que extrapola a atuação da Caixa. Existe sim um projeto que prevê alterações, que está na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados. Existe um projeto nessa lá em estudo. Em havendo qualquer alteração, a Caixa vai dar cumprimento. Caso não haja, mesmo com o que a gente está chamando aqui de nova Timemania, não haveria alteração.

Você acredita que isso ajudaria na massificação?
É difícil de eu te responder esta pergunta. A Timemania tem uma característica muito focada nesta questão dos clubes e tem a questão lotérica. Ela tem toda uma questão técnica que precisa ser viabilizada. Se a modalidade lotérica, do ponto de vista da premiação, não for boa, ela não vende. Não tem jeito. Tem que haver um equilíbrio nisso. O que precisa é que a loteria seja viável. Que ela seja fácil, tenha capacidade de atrair apostadores para se jogar, que tenha elementos visuais que despertem o interesse e que, sobretudo, ofereça bons prêmios. E esta é a parte da Caixa. O repasse é fora da competência.

Os parcelamentos dos clubes vão continuar os mesmos com as mudanças?
Isso também depende da lei. Se a lei mudar, dando mais prazo, ou diminuindo encargos, a Caixa vai cumprir isso. Mas tudo depende da lei.