Da opção pelo futebol à paixão pelo esporte, episódios vividos em Minas e no Uruguai mostram que trajetória do atacante é peculiar
Loco Abreu criança: travessuras em Minas
(Foto: Gustavo Rotstein / GLOBOESPORTE.COM)
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“O maior inconsciente que eu conheci”. A frase escrita pelo goleiro Castillo numa das paredes de seu museu resume perfeitamente o que o senso comum diz sobre Loco Abreu. A análise comum dos mais próximos é que se trata de uma pessoa que combina coração e racionalidade, aspectos muitas vezes traduzidos nas famosas cavadinhas em momentos de decisão. Uma volta por Minas, cidade natal do jogador – localizada a cerca de 120 quilômetros de Montevidéu – e conversas com gente que conviveu com o atacante desde a sua infância apontam características de alguém que coleciona histórias marcantes e que, de certa forma, justificam o seu apelido.
A opção pelo esporte que o tornou ídolo do Botafogo, por exemplo, nasceu de um caso de indisciplina. Loco Abreu integrava, ao mesmo tempo, as seleções uruguaias sub-17 de basquete e de futebol. Às vésperas do início de uma competição, entretanto, ele foi desligado da equipe celeste de basquete.
- Sebastián estava concentrado com o time, mas um dia fugiu da concentração com um companheiro para ir a uma festa. Uma pessoa viu e denunciou ao treinador, que o expulsou. Então ele ficou somente no futebol, se destacou no Sul-Americano do Peru e, quando voltou a Minas, três clubes de Montevidéu queriam contratá-lo - contou Roberto “Cabeza” Correa, amigo de Abreu há 20 anos.
Maior artilheiro da seleção do departamento de Lavalleja, local do qual a cidade de Minas é a capital, Washington Miguel, pai de Loco, acreditava que o ideal seria que o filho jogasse basquete, por causa de sua altura. Mas a certeza de todos sempre foi de que ele havia nascido para praticar esportes. A obsessão por eles, aliás, rendeu histórias engraçadas.
A mãe Marita em seu programa de rádio em Minas
(Foto: Gustavo Rotstein / GLOBOESPORTE.COM)
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- Uma vez, Sebastián saiu da sala de aula para ir ao banheiro, e quando voltou mal conseguia ficar sentado em sua cadeira, tamanha era sua agitação. Ninguém entendeu nada, até que tudo foi explicado. Ele havia subido numa árvore para colher limões que lhe serviriam de bolas. Ele os colocou nos bolsos, mas as frutas estavam cheias de formigas que as picavam e logo fizeram o mesmo com seus colegas de classe - disse Marita Gallo, mãe do jogador.
Marita é, inclusive, uma personalidade de Minas quase tão destacada quanto seu filho. Apresenta um programa de autoajuda (chamado "Sentidos por siempre") todos os dias numa rádio local e faz pinturas, sendo que muitas delas têm Loco Abreu como tema. Algumas estão expostas num clube no centro da cidade. Segundo ela, Sebastián herdou muito de sua personalidade, que, dependendo da análise, pode justificar o apelido.
- Quando alguém faz algo fora do convencional, muitas vezes é taxada de louca. Mas por que não fazer o que se tem vontade e dizer o que pensa, dentro das normas morais? Se a pessoa tem vitalidade e boas facetas, deve mostrá-las com bom humor. Meu filho sempre fez picardias, mas picardias sãs. Ele é assim. Uma pessoa respeitosa, que sempre valorizou a família e gostou de ouvir meus conselhos. Nós sempre conversamos muito - destacou.
Baixas notas na escola e grande amor pela família e pela cidade
A mãe definiu o filho como uma criança muito agitada, que dormia com a bola debaixo dos braços e que organizava diversos campeonatos esportivos com os amigos. Na escola, entretanto, Loco Abreu não tinha boas notas, o que não significava que era um mau aluno.
- A escolaridade de Sebastián foi irregular. Por causa de sua agitação, tirava notas baixas, apesar de assimilar o que lhe era ensinado. No entanto, no último ano do ensino fundamental, um professor o descobriu como um líder e logo o destacou para organizar as tarefas da turma.
Loco Abreu e chave de Lavalleja: status de herói
(Foto: Gustavo Rotstein / GLOBOESPORTE.COM)
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Clarisa, irmã mais nova, define Abreu como uma pessoa de inteligência acima da média, que além de tudo é brincalhão e preza pela união de sua família. O primo Ruben garante que o apelido deve ser encarado apenas como uma marca.
- De louco ele não tem nada, só dentro de campo. Sebastián sempre foi muito inquieto, mas ao mesmo tempo racional e companheiro.
Todas essas características, agregadas à vocação para marcar gols, fazem de Loco Abreu o orgulho de Minas. Sua casa virou ponto turístico, e o Governo de Lavalleja utiliza sua imagem para projetar o local. O atacante, entretanto, garante não pedir nada em troca e mostra apenas orgulho por levar o nome do lugar onde nasceu para o Brasil e para o mundo. Após sua participação na Copa do Mundo, retornou com uma carreata que parou todas as ruas e culminou no recebimento das chaves do departamento, algo inédito.
- Sei que tenho um papel importante aqui, e fico muito feliz pelo carinho que recebo. Quando criança, não pude estar pessoalmente com meus ídolos. Então, faço questão de voltar sempre a Minas e ter contato com as pessoas, porque me orgulho do lugar de onde vim e porque sei que elas querem me ter por perto - disse o camisa 13 do Botafogo.