LNET! teve acesso ao documento que pode mudar o futebol brasileiro
Daniel Leal e Leo Burlá
O dossiê entregue à CBF para a possível unificação dos títulos brasileiros a partir de 1959, ao qual o LANCENET! teve acesso com exclusividade, trata a imprensa como "a testemunha mais importante" para o reconhecimento da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa como campeonatos nacionais.
O documento afirma que "a cobertura dos jornais deixava claro que a competição dava ao seu vencedor o título de campeão brasileiro". No entanto, uma pesquisa na Biblioteca Nacional do Rio revela que o tema dividiu opiniões (ver quadro).
A proposta do dossiê é de que os títulos da Taça Brasil (1959 a 1968) e do Robertão (1967 a 1970) sejam equiparados aos do Campeonato Brasileiro disputado a partir de 1971. O primeiro, de fato, surgiu como uma competição reconhecidamente nacional. Jornais da época exaltaram sua criação, que teve como objetivo indicar o representante do país na Copa Libertadores (veja abaixo reações da imprensa sobre as competições).
Sobre o primeiro campeão brasileiro | |
O GLOBO - 20/12/1971 Sobre o primeiro Brasileiro, em 1971 “O Atlético é o primeiro campeão nacional de clubes, título conquistado justa e merecidamente, ao derrotar por 1 a 0 o Botafogo no Maracanã.” | GAZETA ESPORTIVA - 30/3/1959 Sobre a primeira Taça Brasil, em 1959 “Foi a vez do E.C. Bahia vencer a Taça Brasil, o primeiro campeonato brasileiro de clubes.” |
Opiniões ilustres | |
JORNAL DO BRASIL - 8/12/1966 Armando Nogueira, sobre a Taça Brasil de 1966 “O campo enlameado do Pacaembu consagrou, ontem à noite, o grande campeão do Brasil, o Cruzeiro de Tostão, Dirceu lopes, Natal e Raul.” | O GLOBO - 20/12/1971 João Saldanha, sobre o Brasileiro de 1971 “(...) o primeiro Campeonato Brasileiro de Clubes joga também a primeira pá de cal nos campeonatos de secundária importância e que são disputados deficitariamente (...).” |
Brasileiro ou Robertão? | |
JORNAL DO BRASIL - 11/12/1968 Sobre o Robertão de 1968 “O Santos conquistou o título de campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ao derrotar o Vasco por 2 a 1, ontem à noite (...)” | O DIA - 11/12/1968 Sobre o Robertão de 1968 “Não há dúvida alguma quanto à justiça da conquista do time praiano, que provou ser o melhor do Brasil através deste torneio de caráter nacional.” |
Qual foi o primeiro? | |
O GLOBO - 28/5/1984 Sobre o Brasileiro de 1984 “E o time tricolor, assim, conquistou o título de campeão brasileiro, pela primeira vez em sua história (...)” | O GLOBO - 21/12/1970 Sobre o Robertão de 1970 “Fluminense, campeão do Brasil” |
Brasileiro ou Taça Brasil? | |
FOLHA DE S. PAULO - 3/4/1963 Sobre a Taça Brasil de 1962 “Realizando uma de suas grandes exibições, o Santos conquistou ontem à noite, pela segunda vez, a Taça Brasil, obtendo consequentemente o título de bicampeão brasileiro de futebol.” | O GLOBO - 3/4/1963 Sobre a Taça Brasil de 1962 “(...) o Santos ganhou a partida e ficou, pela segunda vez consecutiva, com a Taça Brasil.” |
João Havelange, então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual CBF), anunciou na época em tom claro: a Taça Brasil apontaria o campeão do Brasil e indicaria o representante para o Campeonato Sul-Americano de Clubes (atual Libertadores). Em princípio, a imprensa seguiu o mesmo raciocínio, assim denominando o vencedor do torneio.
Em poucos anos, no entanto, parte dos veículos mudaram seus critérios e passaram a denominar os vencedores apenas como "campeões da Taça Brasil". No dia 4 de setembro de 69, o jornal "Estado de São Paulo" estampou: "Botafogo ganha a Taça". No texto, o clube carioca não é tratado como campeão brasileiro.
A divisão se agravou com a criação do Robertão, em 1967. O torneio, que por dois anos concorreu com a Taça Brasil, era entendido como ampliação do Rio-São Paulo. O "Jornal do Brasil", maior diário do país à época, nunca negou o valor da competição, tida como a mais importante do país. O "JB", porém, não o via como um Nacional.
"O Roberto Gomes Pedrosa continua sendo uma espécie de meio caminho para um futuro campeonato nacional de clubes, solução única para o futebol profissional no Brasil", afirmou o "Jornal do Brasil" na edição de 6 de setembro de 68.
Confira um bate bola exclusivo com Odir Cunha, autor do dossiê:
LANCENET!: Há muitas críticas em torno do possível reconhecimento da Taça Brasil como um título brasileiro. Como o senhor encara isso?
ODIR CUNHA: Não interessa o número de participantes e de jogos da competição, o que importa é a finalidade, que era apontar um campeão brasileiro. O formato utilizado era o possível para a época. Muitos clubes brasileiros são campeões mundiais com apenas um jogo, e não devem ser contestados como tal. A Taça Brasil foi a competição mais ética de todas, pois não houve uma única mudança ou virada de mesa. As pessoas podem alegar que a competição era precária, mas era precária em relação ao país de hoje. Não se pode renegar os primórdios.
LNET!: Outro tema controverso sobre a unificação é o fato de que haveria dois campeões brasileiros nas temporadas de 67 e 68. Não é estranho?
Essa é uma discussão que pode acontecer. Mas, se formos honestos, veremos que há muitos precedentes no Brasil. Há vários títulos estaduais divididos no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. O Flamengo ganhou dois Campeonatos Estaduais em 1979. Creio ser melhor
incluir do que excluir.
LNET!: O dossiê deixa margem para alguma contestação? A unificação dos títulos está garantida?
As provas apresentadas no documento são concretas. Não há como a CBF não unificar. Se partir do critério técnico, não há como.
As provas apresentadas no documento são concretas. Não há como a CBF não unificar. Se partir do critério técnico, não há como.
Queria que todos encarassem isso pelo lado positivo. O passado dos grandes clubes brasileiros será mais estudado e valorizado.