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O chefe do vestiário: Renato Gaúcho supervisiona tudo o que acontece

Técnico do Grêmio acompanha os passos de cada jogador no clube que dirige

Por Eduardo Cecconi Porto Alegre
renato gaucho abraça jonas grêmio comemoração 
Renato Gaúcho recebe abraço do atacante Jonas
(Foto: Divulgação / Edu Rickes)
 
Ser ídolo pode até facilitar o trabalho de Renato Gaúcho na intenção de manter o grupo do Grêmio sob seu controle. Afinal, nenhum jogador conseguiria confrontá-lo, se assim quisesse, perante uma torcida que mantém o treinador gremista ungido de poderes quase místicos. Mas ele garante que a ascendência sobre os demais acontece em qualquer clube onde trabalha.

Dirigir o vestiário com atenção a cada detalhe e acompanhar passo a passo todos os processos que envolvem os atletas - preparação física, nutrição fisiologia, departamento médico - são características de Renato Gaúcho. Descritas por ele na última parte da entrevista exclusiva concedida ao GLOBOESPORTE.COM.
 
Essa idolatria da torcida te permite ser um técnico mais rigoroso, por ter todo esse crédito?

Onde eu passo é assim, isso não acontece no Grêmio porque sou ídolo. Sempre trabalho assim, fiz o mesmo no Vasco, no Fluminense, no Bahia. Não teria porque mudar. Minhas decisões são iguais em qualquer clube.
É importante ser um líder de vestiário?


Claro, se o técnico não tem o vestiário, não pode ser técnico. É como o pai que não conduz a família.

Isso inclui, também, ser um motivador?

Motivação é uma qualidade que eu tenho. Muitos treinadores dizem que são motivadores, mas não sabem fazer. Eu me garanto na motivação, e também no padrão tático. Assisto aos jogos da Série A, da Série B, estou sempre aprendendo e me atualizando. É muito importante.

Andre Lima Renato Gaucho GrêmioMotivador, Renato Gaúcho conta com o carinho dos jogadores, como André Lima (Foto: Ag. Estado)
 
Falando em padrão tático, como foi encontrar este 4-4-2 com meio-campo em losango?


Era o que a equipe estava precisando, o padrão deste losango. Mas isso não quer dizer que eu não tenha um plano B, um plano C, um plano D. É importante ter variações, alternativas, sempre utilizando esse conhecimento. E todas essas alternativas são treinadas.
Quem critica a teoria tática diz que muitos jogadores não têm capacidade para compreender orientações complexas. Isso é verdade?

Os jogadores são inteligentes sim, e eu treino eles. Eles têm comigo a teoria e a prática. Meu time sabe exatamente o que deve ser feito porque a gente treina muito. Ao invés dos coletivos, que são cansativos, fazemos muito esse treino tático, de posicionamento e movimentação. Assim eu posso cobrar deles depois. 'Porque você não fez isso ou aquilo, se estava combinado?'. Os jogadores entram em campo sabendo o que eu quero.

Além da liderança de vestiário, da motivação e da parte tática, você gosta de se envolver em outros processos do futebol do clube?

Isso é fundamental para o treinador. Tudo passa pelas minhas mãos. Eu resolvo tudo. Quem pode ter o controle é o cara que se garante. Entro em todas as salas e pergunto para os jogadores: 'quer a bênção?'. Porque é só participando de tudo que o treinador vai poder prevenir situações, não deixar acontecer os problemas.

Mas você não teme que, assumindo a frente de tudo no vestiário, qualquer problema estoure exclusivamente em ti?


Eu prefiro que seja assim. Eu quero que venham em mim. Joguei 20 anos, sou treinador há algum tempo, eu sei como as coisas funcionam. Prefiro que as críticas venham em mim, eu mato no peito.

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Renato, em cena de descontração com o grupo
(Foto: Divulgação / TXT Assessoria)
 
E como é essa rotina de verificar tudo o que está acontecendo?


Eu chego uma hora e meia antes do treino, todos os dias. Vou em todos os lugares. No departamento médico, na rouparia, na fisioterapia. Vejo tudo o que está acontecendo, converso com todo mundo, quero saber cada detalhe. Quer ver uma coisa? Quando eu cheguei aqui tinha muita gente no departamento médico. Agora tem briga para sair de lá e vir para o grupo. O pessoal sente que o clima é bom, que as coisas estão funcionando. O Gabriel quando lesionou ficou desesperado, não queria sair do time de maneira nenhuma. Eu falei para ele: 'calma, te recupera, você vai jogar na última rodada'. Hoje os jogadores treinam até machucados, com alguma dorzinha, para não perder o lugar. Porque se eu entro no departamento médico e vejo um jogador ali, só no olhar eu já sei se ele tem alguma coisa. Ninguém me engana.