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Em parceria com o Botafogo, clube holandês tenta espantar a crise

Com importantes títulos, mas sem grana, Fortuna Sittard amarga perigo de ir para Terceira, venera cariocas e aposta nos alvinegros João Marcos e Diogo

Por André Casado Rio de Janeiro
João Marcos Diogo Fortuna Holanda 
Diogo e João Marcos na apresentação ao Fortuna.
Na época, o sol brilhava (Foto: Arquivo Pessoal)
 
A idolatria ao Botafogo já foi alvo de visita e admiração pela delegação alvinegra, em 2009, no primeiro passo oficial de aproximação entre os clubes. Na ocasião, um time de juniores foi enviado, venceu um torneio e disputou amistosos em quase um mês de intercâmbio. O Fortuna Sittard, então, propôs um acordo mais estreito à gerência da base do Glorioso, que enviou os jovens João Marcos e Diogo para, a princípio, um período de treinos. Eles agradaram, permaneceram e vão completar um ano em junho do ano que vem. Para isso, precisam driblar o frio cortante e a neve.

Não é novidade que existam centenas de jogadores brasileiros espalhados pelo mundo. Mas com idade menor a 20 anos, em geral, só em grandes times, que enviam observadores para levarem futuras joias ainda necessitando de lapidação. Assim, a aventura desses dois, por meio da parceria inédita, é recheada de coragem, pelo afastamento da família em hora crucial: a profissionalização.

- Não está sendo fácil, mas é um preço a se pagar. A experiência é importante, apesar de o caminho ser diferente do normal. Mas estou gostando muito, vou evoluir como jogador. Tem situações engraçadas, porque aprender a falar holandês é quase impossível (risos). Pedir comida a garçom é tenso. Um cara já me olhou com espanto quando pedi algo, me confundiu com tanto "yes" e "no" (sim e não, em inglês) deles que fez desistir - conta João Marcos, volante, que começou no Vasco, e teve a visita do pai por duas semanas em novembro.

Botafogo Fortuna homenagem 
Botafogo leva bandeira brasileira ao estádio do Fortuna Sittard, em 2009 (Foto: Site Oficial do Botafogo)
 
- Os jogos estão sendo cancelados por causa da neve. A temperatura está negativa, é até engraçado tentar treinar. Nem os holandeses se acostumam. Agora, estamos aproveitando para praticar o inglês e nos adaptarmos mais à cultura. Até aqui, tudo o que técnico quer falar precisa nos chamar por fora - explicou o meia Diogo, que já fez seis gols em dez partidas pelo clube.

João Marcos botafogo fortuna 
João se protege da neve (Foto: Arquivo Pessoal)
 
O Fortuna se divide entre a Série B do país, em que está a perigo na penúltima posição, e a Copa KNVB (equivalente à Copa do Brasil), competição já vencida duas vezes, em 1957 e 1964. Na temporada 1956/57, inclusive, foi vice-campeão nacional, atrás do Ajax. Essa glória toda foi deixada para trás após uma grave crise financeira, em parte em virtude de más gestões. Houve até uma fusão em 1968, que deu origem ao nome atual. Desde então, só um título da Segundona: 94/95.

Na ânsia de resolver o problema, a diretoria aposta em uma solução canarinha. Antepassados veneravam o Botafogo de Garrincha e Didi e até pagaram uma grana preta para trazê-los em excursão no fim da década de 50. Daquilo, foram guardadas reportagens, expostas no museu do Fortuna, e uma homenagem em forma de nome de rua perto da sede.

A Holanda é uma porta secundária na Europa. O Bota está colocando seu pezinho lá fora. A marca é muito forte"
Sidnei Loureiro
 
- Eles precisavam de jogadores, e nós cedemos gratuitamente. Estão encantados com João e Diogo. A Holanda é uma porta secundária na Europa, mas com visibilidade para outros mercados. Temos projetos de relações internacionais, já fomos à Alemanha e aos Estados Unidos também em vários torneios. O Botafogo está colocando seu pezinho lá fora. A marca é muito forte, precisa ser cada vez mais explorada. Junto com o Santos, é a principal bandeira de clube brasileiro lá fora, é só comparar - disse Sidnei Loureiro, gerente da base alvinegra.

Existe a opção de compra dos direitos econômicos ao fim do vínculo, mas, antes de considerar isso, o clube espera expandir esse trabalho, lucrando com produtos e venda de jogadores em breve. Não está descartada a ligação com outro time com maior poder aquisitivo.

- Isso faz parte da formação do jogador, reunir experiências. Se a estrutura ainda não é a ideal aqui, compensamos de outras formas. O último jogador formado na base do Botafogo que foi negociado por um valor alto foi o Beto, em 1996 - citou Sidnei, em referência à transferência do volante, campeão brasileiro em 1995, para o Napoli-ITA.

Em outras frentes, o Glorioso já tem marcado o Botafogo Camp, que em janeiro terá sua primeira edição, e prepara a confirmação do Bota Day. Nesse projeto, pessoas de fora vem ao Rio conhecer tudo sobre o clube.