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Emoção toma conta do velório de Lídio Toledo

Filhos, amigos e outros familiares dão seu último adeus ao ex-médico da Seleção Brasileira

Velorio Lidio Toledo (Foto: Wagner Meier)  
Parreira e Runco comparecem ao velório de Lídio Toledo (Foto: Wagner Meier)
 
RENATO CHIANELLO
Rio de Janeiro (RJ)
 

O corpo do ex-médico da Seleção Brasileira, Botafogo, Fluminense e Vasco foi velado na manhã deste domingo, na Sede do Botafogo, em General Severiano. Na cerimônia estavam presentes seus três filhos com sua primeira esposa, dona Eliete Capelle Toledo, Lídio Toledo Filho, Lúcio Toledo e Luiz Fernando Toledo, além de sua última esposa, dona Neuka dos Santos Dionísio. Todos estavam bastante emocionados com a perda do ente.

 
Muitos amigos ilustres também compareceram ao velório do ortopedista. Entre eles, Zagallo, que é padrinho de seu segundo filho Lúcio Toledo, com quem conviveu por muitos anos trabalhando pela Seleção Brasileira e pelo Botafogo. O velho Lobo, com a voz embargada pela emoção, lembrou os momentos felizes com o companheiro e lamentou seu falecimento.

- A lembrança, evidentemente, é a amizade de muito tempo. A convivência aqui em General Severiano, conquistando títulos e vivendo dentro da Seleção Brasileira também. E aqui, em General Severiano, sempre vivemos momentos de alegria, mas hoje de tristeza. Uma pessoa comum, que era responsável em sua função. Infelizmente é um dia final, que nós todos vamos chegar - disse Zagallo, que foi campeão mundial ao lado do ex-médico nas Copas de 1970 e 1994.

Um fato que marcou a carreira do doutor no futebol, foi quando ele bancou a permanência do ex-lateral-esquerdo Branco na Seleção Brasileira para a Copa de 1994. Na ocasião, Branco estava retornando de lesão, mas o médico fez questão de mantê-lo no grupo. Ele parecia prever que Branco acertaria um chutaço em uma cobrança de falta e faria o gol da vitória sobre a Holanda, que classificou o Brasil para a final do campeonato.

- O doutor foi uma cara determinante na minha carreira. Além de 94, nós trabalhamos muitos anos juntos. Aquele momento foi decisivo. Ele acreditou no meu trabalho, na minha recuperação, no meu próprio potencial e graças a Deus fiz o gol. Na comemoração sai apontando para ele e para a toda a comissão médica, porque eu tinha prometido o gol para eles. Falei que quando eu voltasse faria um gol para eles e fiz. Ele não foi só importante para a História do futebol como um ícone da medicina esportiva. Foi importante e determinante na minha carreira e vai ficar marcado na história - lembrou Branco.

O ex-presidente do Fluminense Roberto Horcades, que é cardiologista e atendeu Lídio Toledo durante o período que que ficou internado, comentou seu

-  Eu operei o Lídio. Evoluiu muito bem durante um certo tempo, mas entrou em quadro de insuficiência renal, que foi o grande "X" de sua história. Ele sempre comeu muito, sempre gostou de alimentos fartos e a insuficiência renal não perdoa isso. Você deve estabelecer uma dieta extremamente rigorosa e tinha também de se cuidar pelo lado cardiológico. Tava cobrando da Elite (ex-esposa) que ele não ia no consultório e passei a saber do Lídio por pacientes comuns. Foi uma perda para medicina esportiva em geral. Era uma pessoa extremente competente e capaz no mundo do esporte e futebol, principalmente.

O Rei Pelé, que não compareceu, enviou uma coroa de flores ao velório com os dizeres "Com sentimento e saudade, do amigo Pelé". O Ortopedista morreu no sábado, às 11h, vítima de problemas cardíacos e insuficiência renal, no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Seu enterro será realizado no Cemitério São João Batista, às 16h, em Botafogo.


CONFIRA OS DEPOIMENTOS DE FAMILIARES E AMIGOS SOBRE LÍDIO TOLEDO

PARREIRA (técnico) - "Foi um privilégio ter tido um companheiro como o Lídio. Minha primeira experiência foi logo em 1970, na Copa do Mundo, quando eu o conheci. O Lídio, o Zagalo, o Chiló, aquela turminha do Botafogo que ficaram meus amigos até hoje. Então acho que eu comecei bem. E o Lídio é um marco na medicina esportiva do Brasil. Pelo lado profissional foram seis Copa do Mundo à frente da Seleção Brasileira. É um dos grandes cirurgiões de joelho aqui do Brasil. O pioneiro da artroscopia quando essa técnica foi introduzida no futebol. E era uma pessoa maravilhosa, porque além desse trabalho, serviu por 40 anos o Hospital Miguel Couto, atendendo pessoas humildes. Sem contar a lealdade ao Botafogo, que foram mais de 30 anos como médico. É alguém vai fazer falta e deixar espaço no futebol por tudo que ele fez. A gente fica feliz de ter sido amigo dele e tido o respeito dele e convivido com a pessoa que marcou época na história do futebol Brasil. Vai deixar saudade."

RUNCO (médico do Flemengo e da Seleção Brasileira) - "O Lídio é um símbolo da medicina no futebol e com certeza uma pessoa que deixou um espaço e colocou a medicina do Brasil em um nível muito alto com sua habilidade em cuidar das pessoas e todas as  que tiveram a oportunidade de trabalhar com ele, como eu tive diretamente, aprenderam muito. Deixa um legado a todos nós, médicos, para continuar o trabalho que ele fez e que a gente possa dar sequência a essas coisas. Sempre foi pessoas respeitado no mundo do futebol e na medicina brasileira."

LÍDIO TOLEDO FILHO (filho) - "A melhor lembrança é do pai divertido que ele era, fazia piadas sem graças e só ele ria. O lado esportivo, apaixonado pelo Botafogo, como nós, os filhos. Deixou uma lembrança. Nos ensinou a ter amor a minha profissão e de meus irmãos. Nos ensinou caridade, ter disciplina, bom pai, bom amigo e com certeza vai fazer muita falta."

BRANCO (ex-jogador) -  "O doutor foi uma cara determinante na minha carreira. Além de 94, nós trabalhamos muitos anos juntos. Aquele momento foi decisivo. Ele acreditou no meu trabalho, na minha recuperação, no meu próprio potencial e graças a Deus fiz o gol. Na comemoração sai apontando para ele e para a toda a comissão médica, porque eu tinha prometido o gol para eles. Falei que quando eu voltasse faria um gol para eles e fiz. Ele não foi só importante para a História do futebol como um ícone da medicina esportiva. Foi importante e determinante na minha carreira e vai ficar marcado na história."

"Era extremamente divertido, maravilhoso, além da sua competência como um médico. Ele era uma cara que levantava o astral do grupo, era brincalhão, positivo. Eu estava com uma contusão quase sendo cortado e ele acreditou em mim e me bancou, mas sempre com bom humor. Uma das marcas dele, um astral para cima e mantinha o grupo confiante. Hoje vim aqui para me despedir pela última vez dele."

AMÉRICO FARIA (ex-diretor de Seleções da CBF) - "Uma figura humana sensacional, um amigo. Trabalhou muito tempo nas Seleções Brasileiras. Acho que as gerações que eram cuidadas por ele o tem como um exepmlo positvo. Mas sobre tudo a amizade. Uma pessoa que sempre tentava ajudar a todos e eu acredito que o mundo do futebol perdeu uma "ave rara". mas de qualquer forma foi bom, porque ele estava sofrendo muito e descansou. Acho que só vai deixar boas lembranças, sobretudo com aqueles amigos que tiveram a oportunidade de conviver com ele."

"Eu tive a oportunidade de trabalhar com o Lídio durante muitos anos na Seleção. Depois também fomos trabalhar juntos no Fluminense, onde ele foi chefe da comissão médica na campanha do título da Série C do Fluminense. Ele é um amigo. Sempre alegre, os jogadores gostavam muito dele. No futebol, você ser bem quisto pelos atletas e pela comissão técnica é muito bom. Bem quisto por ser uma pessoa alegre com sempre foi. Eu tive esse prazer de poder trabalhar com ele."

LUIZ FERNANDO TOLEDO (filho) - "Meu pai, desde que eu era pequeno, falava que a gente só tinha três opções de time e três opções para seguir uma carreira. Botafogo, Botafogo ou Botafogo e Medicina, Medicina ou Medicina. Influenciou nos trazendo para o clube do Botafogo para acompanhar treino, levava a gente para as cirurgias para tirar foto, filmar. Sempre  mostrando o lado bom da medicina. A gente sempre teve interesse em ser médico, ele influenciou, mas nunca nos obrigou a seguir."

ZAGALLO (ex-jogador e treinador) - "A lembrança, evidentemente, é a amizade de muito tempo. A convivência aqui em General Severiano, conquistando títulos e vivendo dentro da Seleção brasileira também. E aqui sempre vivemos momentos de alegria, mas hoje de tristeza. Uma pessoa comum, responsável pelo que fazia na sua função. Infelizmente é um dia final, que nós todos vamos chegar um dia."

"O Lídio na parte médica era responsável tanto aqui no Botafogo como na Seleção, a palavra média era importante dentro da função que ele exercia. Então eu só poderia escalar um time ou uma Seleção após a palavra final sobre o jogador que estava machucado ou não. Sua palavra era importante. Ele tem seis Copa e eu sete. Isso dentro do Brasil."

ANTÔNIO CARLOS MANTUANO (Vice-presidente geral do Botafogo) - "Com certeza nós iremos fazer uma homenagem ao doutor Lídio Toledo. O esporte está de luto e o futebol como um todo, não só o Botafogo, por ele prestar serviço por longos anos. Era um médico de extrema competência, vitorioso. Começou muito cedo no Botafogo, na década de 60. Naquela época ele já tinha um diferencial: ele não atendia somente os atletas do futebol, como também todos os atletas de esportes olímpicos. Uma pessoa ímpar com um significado importante e expressivo no mundo do esporte. Uma perda considerável. O mínimo que o Botafogo poderia fazer é esse pequeno gesto de oferecer a casa para ele ser velado. No Botafogo a gente tem esse costume de homenagear pessoas que foram importantes para o clube e não será diferente agora."

JOEL SANTANA (técnico) - "Eu não conheci o doutor Lídio só do meio do futebol. Nós trabalhamos juntos aqui no Botafogo e no Vasco. Mas ele também foi meu professor de Socorros Urgentes, na Federal de Educação Física. Ele sempre foi querido e amado por todos que o conheceram e tiveram a honra de ter trabalhado com ele. Uma perda muito grande Era amigo e grande profissional. Serviu não só ao Botafogo, mas o vários clubes aqui do Rio de Janeiro e a Seleção Brasileira."

STEPAN NERCESSIAN (ator botafoguense) - Sempre foi um homem muito bom. Solidário, prestativo, um médico com um sucesso extraordinário profissional e ao mesmo tempo humanista, não deixava de atender ninguém. Fui atendido pelo doutor Lídio quando era mais novo, no Miguel Couto. Quando estavamos "duros", ele mandava a gente ir lá mesmo assim. A característica que eu gostava mais dele era isso: ele fazia um esforço danado para atender a todos igualmente. Era tão conhecido como a Estrela Solitária. Ele tem a marca da Estrela Solitária. A gente fica triste. Era um médico corajoso e isso fará muita falta.

ROBERTO HORCADES (ex-presidente do Fluminense) - O Lídio sempre foi companheiro amigo, camarada. Apesar de ele parecer ser umuito mais velho que eu, nós temos quase a mesma idade de profissão. Já tenho quase 45 anos de formado. Convivemos longos anos trbalhando juntos na CBF como também no próprio Fluminense. Quando assumi o Flu, levei quase toda a comissão técnica da Seleção Brasileira. Tenho uma relação familiar, conheços sua mulher e seu filhos. Éramos muito amigos. Eu operei o Lídio. Evoluiu muito bem durante um certo tempo, mas entrou em quadro de insuficiência renal, que foi o grande "X" de sua história. Ele sempre comeu muito, sempre gostou de alimentos fartos e a insuficiência renal não perdoa isso. Você deve estabelecer uma dieta extremamente rigorosa e tinha também de se cuidar pelo lado cardiológico. Tava cobrando da Elite (ex-esposa) que ele não ia no consultório e passei a saber do Lídio por pacientes comuns. Foi uma perda para medicina esportiva em geral. Era uma pessoa extremamente competente e capaz no mundo do esporte e futebol, principalmente.

LÚCIO TOLEDO (filho) - "Meu pai era um cara divertido. Aquela fisionomia sisuda dele, que algumas pessoas que não o conheciam, não era seu habitual. Ele ficava ali no banco de reservas sempre atento ao jogo e concentrado, mas não era assim no convívio. Ele era um piadista. Suas piadas nem sempre eram boas, mas sua gargalhada no final é que tornava a situação engraçada. Como ele não teve muito contato com o pai dele, a maneira de cultivar o convívio com os filhos era nos levar aos treinos Botafogo e fazer visitas no hospital. Ele nos incentiva a ir, primeiro para nos ensinar a ser botafoguense e segundo para a gente ficar juntos. Ele trabalhava muito e saia cedo, então os fins de semana eram divertidos. Nossa mãe ficava em casa e a gente ia para a rua com ele."

"Torcer pelo Botafogo foi natural, porque meu pai nunca encarou o Botafogo como um emprego. O Botafogo sempre deu teto, chão e essas amizades de 40 anos. O Botafogo projetou ele no consultório privado, na Seleção Brasileira. O Zagallo é meu  padrinho de batismo. Ele era muito rigoroso com os estudos. Ele nos acordava para estudar no vestibular, as vezes até exagerado, mas deu certo. Hoje nós três somos médicos, trbalhamos e gostamos do que fazemos. Não foi muito difícil gostar do Botafogo e de ser médico. Hoje eu quero ser um pouquinho do que ele foi.