Apesar de também liderar o ranking dos lesionados, Raposa soma 33 pontos durante as 14 rodadas disputadas no meio e no fim de semana
Por Diego Rodrigues e Guilherme Maniaudet
Rio de Janeiro
Ufa! Acabou. Depois de 14 rodadas com jogos no meio e fim de semana, com tempo máximo de quatro dias de intervalo, o Campeonato Brasileiro vai “acalmar”. Foram 47 dias de uma maratona cansativa. Viagens, encontros decisivos, lesões, pressão da torcida, demissões de técnicos... reclamação. Essa última palavra resume tudo. Era treinador resmungando das baixas no seu time, jogador que não suportava mais a sequência de partidas, e médicos e preparadores trabalhando a todo vapor.
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- Ninguém se importa com o jogador de futebol. Somente nós sabemos o que passam Fábio Ferreira e Maicosuel (ambos machucados e fora do Brasileiro), por exemplo. Nosso interesse é fazer o melhor, mas o corpo não é uma máquina. Mas o futebol é um negócio e, como em qualquer empresa, o que interessa é o superávit no fim do ano – reclamou o atacante uruguaio Loco Abreu, do Botafogo.
Mas chegou a hora de respirar mais aliviado. Somente da 31ª rodada para a 32ª – para alguns times - e da 33ª para a 34ª, o período de descanso será menor, porém, nada como as nove rodadas em apenas um mês, como aconteceu em setembro.
Melhor para quem aproveitou para engatar a quinta e acelerar rumo ao topo durante o período. O Cruzeiro, por exemplo, assumiu a liderança da competição no domingo ao vencer o Fluminense por 1 a 0. Acaso? Parece que não. O time celeste do professor Cuca se saiu bem e fez a lição de casa nessas 14 difíceis aulas. De todos, tirou a melhor nota. Somou 33 pontos desde a 16ª rodada e fez 14 a mais que o time carioca de Muricy Ramalho.
- Perdemos jogadores mesmo. Por cartões, por lesões. Os atletas estão no limite físico. É viagem, é pouco tempo para treinar, para recuperar, é só jogo duro, pegado. Claro que todos os clubes estão sofrendo com isso. Quem tem time e não um grupo tem dificuldades. O Cruzeiro montou um bom elenco – explicou Cuca, que não tomou conhecimento dos 11 jogadores machucados e dos cerca de 10.542 km percorridos, antes mesmo de assumir o topo.
As lesões
Porém, a coisa ficou feia para alguns, que viram seus principais atletas fora de combate (veja ao lado a contusão do volante do Tinga, do Inter). Foi o caso do próprio Botafogo, de Loco Abreu. O apoiador Maicosuel, o zagueiro Fábio Ferreira e o atacante Herrera só voltam em 2011. Ao todo, foram 140 lesionados durante este período. Resultado: reclamação.
- A pior coisa que tem no futebol é a contusão. Isso é pior que cansaço, que você muda um ou outro jogador. Fizemos um levantamento do número de lesões (de todos os times) do ano passado para esse ano e vimos que dobrou. Alguma coisa não está bem. A musculatura não suporta a carga com o excesso de jogos, as viagens. São viagens longas, muito calor. Afeta também a parte mental – alertou o técnico do Fluminense Muricy Ramalho.
Até quem veio do futebol europeu recentemente chegou resmungando. O meia do Fluminense Deco, que defendeu o Chelsea, da Inglaterra, no início da temporada, não aguentou. Antes do jogo de domingo, contra o Cruzeiro, deu sua opinião sobre o assunto:
- O problema não é jogar quarta e domingo. É jogar assim por dois meses seguidos. Até porque, o Brasileirão tem muita viagem. É complicado para gerir lesões. É desgastante. A maioria dos problemas são musculares pelo cansaço. O tempo de recuperação é curto e fica difícil chegar 100% todos os jogos. A qualidade das partidas também diminuiu. As lesões complicam demais a vida dos jogadores. Daqui para frente, com mais tempo, isso tudo vai melhorar.
A perspectiva era boa. Mas ele também entrou para a estatística. As dores na coxa direita preocupam o movimentado departamento médico tricolor e não há previsão para seu retorno. A lesão muscular do meia até pode ser justificada pela rotina desgastante do futebol brasileiro. No entanto, existem casos que não são vinculados aos seguidos confrontos.
Em 2009, a maior sequência de jogos no meio e fim de semana foi de nove rodadas. Na ocasião, cerca de 139.118 km foram percorridos. Neste ano, nas 14 rodadas, foram 246.042 km aproximadamente.
- (A seqüência) Aumenta a chance de lesões musculares. O desgaste é grande e tudo isso conta. Mas hoje eu tenho três jogadores machucados seriamente (Maicosuel, Fábio Ferreira e Herrera) e nos três casos foram acidentes. O Maicosuel, por exemplo, tentou alcançar a bola e se machucou. É claro que, quando aumenta o número de jogos, cresce também a chance de lesões, mas não há uma pré-disposição para que a lesão no joelho, por exemplo, seja ocasionada pela seqüência de jogos – defende o chefe do departamento médico do Botafogo Luiz Fernando Medeiros.
Sobrou para os treinadores
O problema é que as lesões, somadas às suspensões e agravadas com a falta de treinos específicos, como coletivos e táticos, cai na conta de quem? Do treinador. É, alguns não tiveram tempo para mexer na equipe, ou mexeram sem tempo para testá-las, e, se o resultado não veio, rua para os “professores”.
Vanderlei Luxemburgo Demitido do Atlético-MG
Antônio Lopes Demitido do Avaí
Mário Sérgio Demitido do Ceará
Adilson Batista Demitido do Corinthians
Rogério Lourenço Demitido do Flamengo
Silas Demitido do Flamengo
Emerson Leão Demitido do Goiás
Antônio Carlos Demitido do Prudente
Marcelo Rospide Demitido do Prudente
Ricardo Silva Voltou a ser auxiliar no Vitória
Dorival Júnior Demitido do Santos
Até o momento o Campeonato Brasileiro foi responsável por 30 mudanças. Somente neste período, 11 técnicos perderam o emprego (confira a lista ao lado). Um deles é Antônio Lopes, demitido do Avaí após ser derrotado por 3 a 0 pelo Grêmio, na 23ª rodada.
- Sem dúvida isso é muito ruim (sequência de jogos) e ocasiona essa queda de rendimento. Na maioria dos clubes aconteceu isso. O que contribui também são as lesões. A competição é longa e o Avaí teve esse problema. Teve um jogo contra o Botafogo que vim só com dois titulares - lembrou o já empregado Lopes, que participou da dança da cadeira e assumiu o lugar de Ricardo Silva no Vitória.
Mas essa reclamação transcende a discussão de se ter ou não um elenco forte para um campeonato com 38 rodadas. Tem gente querendo até uma mudança no calendário. Que o diga o adversário de Cuca pelo título.
- Tem que reunir todos os segmentos (do futebol), porque tem a parte econômica também, não pode ver só o lado técnico. Mas é preciso se reunir para dividir um pouco mais as datas. Acho que isso vai ajudar a prevenir as lesões. Não tem outra alternativa. Nos treinos não tem onde diminuir mais. A solução é diminuir o calendário – acredita o Muricy Ramalho.
É importante destacar que em junho e julho foi disputada a Copa do Mundo da África do Sul, o que encurtou ainda mais o calendário, já que o Nacional foi paralisado na ocasião. Mas agora é bola para frente, não é, Muricy?
- Certamente esses dias para trabalhar serão importantes. Vai melhorar o futebol.
Equipes Jogadores machucados entre a 15ª e a 29ª rodada
Cruzeiro Robert, Cláudio Caçapa, Wellington Paulista, Montillo, Fábio, Marquinhos Paraná, Jonathan, Léo, Diego Renan, Roger, Ernesto Farías.
Santos Léo, Paulo Henrique Ganso, Rodriguinho, Zezinho, Keirrison, Madson, Marquinhos, Marcel, Bruno Aguiar, Felipe, Edu Dracena.
Atlético-GO Robston, William, Jairo, Welton Felipe, Pituca, Josiel, Ramalho, Anaílson, Pedro Paulo, Elias, Thiago Feltri.
Avaí Válber, Vandinho, Rafael, Eltinho, Leandro Bonfim, Caio, Marcinho Guerreiro, Rudinei, Diogo Orlando.
Atlético-MG Obina, Diego Tardelli, Réver, Rafael Jataí, Fabiano, Mendéz, Rafael Cruz, Leandro, Daniel Carvalho,
Grêmio Willian Magrão, Douglas, Fábio Rochemback, Leandro, Borges, Souza, Ferdinando, Adilson.
Botafogo Jobson, Somália, Maicosuel, Herrera, Marcelo Mattos, Fábio Ferreira, Marcelo Cordeiro.
Corinthians William, Chicão, Dentinho, Ronaldo, Jorge Henrique, Ralf, Souza.
Internacional Rafael Sóbis, Tinga, Ilan, Leonardo, Renan, Índio, Wilson Matias.
São Paulo Ricardo Oliveira, Fernandão, Fernandinho, Junior César, Cleber Santana, Ilsinho, Xandão.
Prudente Leonardo, Wanderley, Paulo César, Wesley, Adriano Pimenta, Rafael Martins, Rodrigo Mancha.
Vasco Felipe, Carlos Alberto, Ramon, Nilton, Max, Fágner.
Atlético-PR Paulo Baier, Deivid, Maikon Leite, Federico Nieto, Vítor, Branquinho.
Fluminense Diogo, Emerson, Fred, Marquinhos, Fernando Henrique, Deco.
Flamengo Leandro Amaral, Val Baiano, Diogo, Willians, Juan, Toró.
Ceará Washington, João Marcos, Diego, Fabrício, Magno Alves.
Palmeiras Kleber, Marcos, Ewerton, Vítor, Tinga.
Guarani Douglas, Preto, Rodrigão, Ricardo Xavier.
Vitória Vanderson, Soares, Viáfara, Eduardo.
Goiás Jonílson, Rafael Toloi, Douglas, Carlos Alberto.