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Botafogo trava luta diária pela recuperação de Jobson

Jogador faz testes antidroga, tratamento psicológico e, após deslizes, é monitorado quase 24 horas para se recuperar


Bota acredita na recuperação do jogador (Crédito: Cleber Mendes)

HUGO PERRUSO E MAURO GRAEFF JÚNIOR

Paralelamente à briga pela vaga na Libertadores, o Botafogo há quatro meses trava uma luta para recuperar uma de suas maiores

esperanças em campo: o atacante Jobson, que ano passado admitiu envolvimento com drogas. Para acompanhar o jogador fora dos

gramados, o clube montou uma operação especial que inclui tratamento psicológico, exames antidoping semanais e monitoramento

dos seus passos quase 24 horas por dia. Apesar dos esforços, o comportamento do jogador tem decepcionado a direção do Glorioso.

Jobson, que não vem concedendo entrevistas, voltou ao Alvinegro em junho, após cumprir suspensão pelo uso de cocaína. Desde então, recebe tratamento diferenciado. A primeira iniciativa foi encaminhá-lo para a clínica do psiquiatra Jorge Jaber, referência em tratamento de dependência química. Há convicção de que o jovem de 22 anos precisa de ajuda especializada para ficar em abstinência. Ele passou a fazer tratamento duas vezes por semana e a participar de grupos de autoajuda.

Afastado da boemia, vinha jogando até fim de agosto, quando foi visto em festas, enquanto recuperava-se de lesão. A recaída o afastou do grupo por dois jogos. Ninguém fala oficialmente no Botafogo, mas o motivo da punição teriam sido os excessos com bebidas.

- Acreditamos na recuperação dele - disse André Silva, vice de futebol do Botafogo.

Psiquiatra deixou o caso

O retorno ao time foi contra o Palmeiras, no dia 10. Na véspera, Jobson foi autorizado a sair da concentração. Ficou duas horas com um grupo de dependentes químicos e foi levado de volta pelo próprio médico. Parecia a volta da paz. No dia 13, no entanto, nova crise. O jogador reclamou que estaria sufocado com o tratamento. Inconformado com o desinteresse, o psiquiatra saiu do caso.

- Eu ajudo quem quer ser ajudado. Quando a pessoa não quer, fica difícil - lamentou o psiquiatra Jorge Jaber, que, por questões éticas, não falou sobre o tratamento.

Nos próximos dias, o Botafogo falará com o psiquiatra para retomar o tratamento. Semana passada, Jobson procurou os jogadores, disse estar focado e fez um pacto de comprometimento na reta final do Brasileirão.

Desde o desentendimento com o médico, porém, o atleta passou a ser acompanhado 24 horas por dia por um ex-jogador que trabalha para seu empresário. O monitor, conhecido como China, de 34 anos, leva o atleta para os treinos, vai com ele em todos lugares e até dorme no apartamento dele. Apesar do acompanhamento, o atacante tem liberdade para ir onde quiser. O objetivo é evitar que ele consuma álcool, que seria um trampolim para as drogas.

No Botafogo, as opiniões são divergentes. O jogador ainda recebe apoio do grupo e da direção. Mas pessoas no clube estão desapontadas e não sabem se ele continuará em 2011.

Exame antes das partidas

Desde que chegou ao Botafogo, em junho, Jobson passa por exames periódicos de doping feitos pelo departamento médico do clube. O teste é realizado antes das partidas, usando um kit especial comprado junto a um laboratório paulista. O resultado sai minutos após a coleta da urina, a partir da mistura com reagentes químicos.

O procedimento detecta a presença de maconha, cocaína e ecstasy e seus derivados, como o crack, que tem cocaína na fórmula. Pode identificar a ingestão de drogas de um período que varia de oito a dez dias, mas não acusa a presença de álcool no sangue.

O exame realizado pelo Botafogo como forma de prevenção é semelhante ao antidoping feito pela CBF com os jogadores após as partidas. A diferença é que o teste oficial vai para um laboratório e tem índice superior de precisão.

Além do Botafogo, a clínica em que Jobson se tratava também fazia os exames nele, um procedimento de rotina em dependentes químicos.

Com a palavra  China - Ex-jogador e monitor de Jobson

Meu objetivo é mostrar os limites. Jobson cresceu em um ambiente ruim, precisa de exemplos bons e tem encontrado no Botafogo: Loco Abreu é uma referência. Ele precisa de mais orientação, não de castigo.

Dou liberdade para Jobson fazer o que quer, mas vou com ele. Meu objetivo é mostrar que há limites, aconselhá- lo. Ele é fraco para beber e preciso doutriná-lo. Ele tem muita adrenalina e tento controlar. Não é segurar, é mostrar que tem dia e hora para sair. Jobson tem uma personalidade que faz com que ele precise ser visto. E fica deslumbrado. Também sente quando é criticado. Ele precisa entender que essa euforia um dia vai passar. Busca a Europa, mas precisa trabalhar direito aqui. Tenho certeza de que vai conseguir se controlar.