Blatter justifica omissão: ‘suborno não era crime’
Documentos provam que suíço sabia do escândalo. Teixeira ainda é consultor da CBF
ZURIQUE e RECIFE - Antes de serem identificados anteontem pela Justiça Suíça como beneficiários de um esquema de corrupção envolvendo contratos relativos à Copa do Mundo,
o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o ex-presidente da Fifa,
João Havelange, contaram com defesa da entidade internacional para que
seus nomes fossem protegidos durante processo encerrado em 2010 em troca
da devolução de R$ 5 milhões. Mesmo que os documentos divulgados tenham
o preservado sob a sigla P1, o presidente da Fifa, Joseph Blatter
preferiu se pronunciar ontem diante das evidências de que o caso era de
seu conhecimento. Juntos, Teixeira e Havelange receberam R$ 45 milhões
para defender interesses da ISL, agência de marketing que foi à falência
em 2001.
— Da minha parte, o documento poderia ter sido publicado
na íntegra para dar fim às especulações. Não sou acusado, fiquei
anônimo como P1, o que honestamente não é difícil de descobrir — disse
Blatter ao site da Fifa.
Entre os diversos depósitos do esquema,
um deles, da ordem de R$ 2 milhões, destinado a Havelange, caiu
equivocadamente na contabilidade da Fifa. Apesar da orientação jurídica e
da movimentação financeira que envolvem a entidade, o suíço Blatter
lavou as mãos ao alegar que, à época, o suborno ainda não era crime
previsto pelas leis suíças:
— Não podemos medir o passado com os
padrões atuais sob pena de fazer um julgamento moral. Então, não poderia
ter tomado ciência de um delito que não existia.
Outrora
protegida pelas conveniências, a prática se tornou inaceitável depois
que Teixeira tentou lançar o catari bin Hammam em oposição a Blatter.
Além de minar a candidatura com denúncias de corrupção, o suíço passou a
disputar o jogo político com o dossiê ISL debaixo do braço. Em março,
diante da iminência da revelação dos documentos, Teixeira renunciou às
presidências da CBF e do Comitê Organizador Local e ao assento no Comitê
Executivo da Fifa. Quatro meses antes, Havelange deixou o Comitê
Olímpico Internacional e se livrou de investigação no órgão do do qual
era membro há 48 anos. Como presidente de honra da Fifa ainda é passível
de processo no qual Blatter prefere não se envolver.
— Não está
entre minhas atribuições chamá-lo a prestar contas. O Congresso o nomeou
presidente honorário e só o Congresso pode decidir sobre seu futuro.
Em
visita ao Recife, onde a seleção enfrentará a China no dia 10 de
setembro, no Estádio do Arruda, o atual presidente da CBF, José Maria
Marin confirmou que Ricardo Teixeira segue dando assessoria à entidade:
—
Nós temos mais de 300 contratos em andamento na CBF. E ele contribui
com assessoria internacional, pelos cargos que ocupou, por mais de 24
anos. Então, aproveitamos da melhor maneira a experiência que Ricardo
tem, inclusive captando recursos através da publicidade, de divulgação
do futebol brasileiro. O que foi divulgado não tem nenhuma relação entre
Ricardo Teixeira e a CBF. Ele continua prestando os mesmos serviços.