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Seedorf: 'Racismo é falta de educação e cultura'

Ao LANCENET!, meia abordou problemas que afetam o mundo e mostrou ser craque também fora do campo


 Seedorf recebeu a reportagem do LNET! com 
largo sorriso (Foto: Alexandre Loureiro)
 
Raphael Bózeo, Rodrigo Lois, Tiago Pereira e Vinícius Perazzini

Rio de Janeiro (RJ)
 
Logo no primeiro contato, ao abrir a porta, Seedorf fez questão de cumprimentar cada repórter com um abraço. E mesmo instalado em bela suíte de hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro, mostrou não se importar com status e se esparramou em uma poltrona. Foi assim, naturalmente humilde, que ele falou sobre questões como o racismo e a desigualdade social.

Seedorf nasceu no Suriname, pobre, e foi para a Holanda com três anos. Sofreu com dificuldades, porém se destacou ao aliar educação a um futebol de alto nível, movido por uma alegria natural do povo:

- No aspecto de como comemorar a vida, os brasileiros são exemplo. Muita gente é pobre, mas ri o tempo todo, com todos os problemas. E isso levei sempre em mim.


Entrevista Seedorf: 'Sou movido pelos sonhos'










Confira a entrevista:


Como você avalia as atuais condições gerais do Brasil?
É muito claro o crescimento do Brasil. São mais de dez anos que venho em férias, e se nota muitas coisas, pequenas e grandes. É clara a situação de um país muito unido, porque para você fazer esse crescimento o país tem que estar assim. Agora para mim é um prazer viver cada dia e ver com meus próprios olhos as evoluções, ver a vida dos brasileiros, de todas as classes.


O quanto você se parece no jeito com os brasileiros?
Não sei, vou deixar vocês falarem (risos)! Sempre me dei bem com os brasileiros. São parecidos os valores de vida, como a gente vê a vida. No aspecto de como comemorar a vida, os brasileiros são um grande exemplo para o mundo. Sempre tive muita admiração por esse aspecto. No meu país (Suriname) também é assim. Muita gente é pobre, mas ri o tempo todo, com todos os problemas que tem. O dinheiro não faz felicidade, e isso é uma certeza.


Quando pensou em ter o seu projeto social?
Eu era muito jovem quando tive bem clara essa missão. É quase uma missão de vida. A maior felicidade para uma pessoa é ajudar o próximo. Não com dinheiro, mas com uma palavra, uma atenção, um abraço, um olhar. São pequenas coisas que podem mudar o dia de uma pessoa. Ou a vida de uma pessoa.


Ser um bom exemplo ajuda quanto nessa missão de atrair pessoas para o bem?
Especialmente as crianças, as novas gerações, precisam de um guia, de bons exemplos, de pessoas que podem ajudá-las a ficar na linha correta da vida. Nunca bebi, nunca fumei, em toda minha vida, porque sei que faz mal. Então eu não faço. Sei que tenho sorte de ter essa força mental, desde pequeno, para falar não. Não preciso beber para ficar feliz. Você pode beber suco ou água, como eu faço (risos), e ser feliz. Precisamos aumentar essa responsabilidade social que temos (jogadores), pois temos muita visibilidade.

A inspiração em Nelson Mandela mexeu de que forma contigo?
Ele fez um caminho muito duro. Não só ele, muitas outras pessoas por trás, que a gente conhece menos. Por exemplo, Desmond Tutu (saiba mais dele acima) falou para 2 mil jovens certa vez: “Vocês podem mudar esse mundo também. Vocês têm que lutar contra mil coisas. A facilidade para chegar na droga está perto, e você tem que ficar falando não, não quero”. Essas foram palavras que deram mais força para promover o que estou promovendo, Voltando ao Mandela, ele fez uma mudança em um país usando o esporte para unir. Ele significa para o mundo uma grande inspiração.


Mandela lutou pela igualdade étnica, mas ainda existem casos de racismo. Em 2011, um torcedor jogou uma banana em Roberto Carlos na Rússia. O que você faria?
A primeira coisa: banana é bom. Eu pegaria a banana e comeria. “É bom né?”. Todo mundo come banana, né? (risos). As pessoas precisam ser mais leves nessas coisas. Porque tem racismo no mundo, não tem como falar que não. Em alguns casos o racismo é falta de educação e cultura. O esporte, em geral, reflete os problemas do país. Eu sou bem escuro, mas não sofria racismo. Acho também que as pessoas olham o tipo de jogador, o comportamento dele. Se gostam, gostam. Se não gostam, vão procurar a parte mais débil para tentar fazer mal.



Você deixou o Suriname aos três anos. Então, como fez crescer um carinho tão grande pelo país?
Realmente, o relacionamento com o Suriname foi construído à distância. Depois, quando comecei a ganhar dinheiro, consegui voltar com frequência ao Suriname. Mas o amor ao país sempre esteve aí, e só foi crescendo com o tempo. Eu conheci o mundo todo, joguei em vários países, mas no Suriname seguiram todos os meu passos, o que estava fazendo. Você é quase um embaixador, sem saber. Então, o mínimo que posso fazer é dar amor para as coisas que faço pelo país.



É complicado ter tempo livre, mas o que vocês faz quando aparece uma brecha?
Gosto de esportes, em especial de ver atletismo. Também gosto muito de cinema, dos filmes com o Denzel Washington (ator). Gosto muito de desenho, amo. Gosto mais de desenho do que meus filhos gostam. Eu que levo eles para ver, porque gosto muito (risos). Procurando Nemo, Hulk e Homem-Aranha, adorei os três.