O técnico da seleção brasileira Mano Menezes particiou nesta segunda-feira de um seminário organizado pelos jornais O Globo e Extra, e falou sobre diversos temas ligados à Copa de 2014. Entre eles, a forma de jogar da seleção, quando citou o futebol ofensivo do Barcelona como “sonho”, convocação de jogadores, entre eles atletas do Rio, e a formação de um elenco capaz de suportar a pressão pelo título em casa, que nunca aconteceu ao time pentacampeão. Os técnicos campeões do mundo Mario Jorge Lobo Zagallo e Carlos Alberto Parreira participaram do encontro.
Confira os principais trechos da entrevista
Copa de 2014
"Vai ser um evento grandioso. É muito nossa característica apontar pontos negativos, mas teremos muito a apontar em termos positivos. O brasileiro faz parte da Copa do Mundo."
"Taticamente em função do que a Espanha apresentou e o Barcelona vem apresentando, a Copa vai mostrar uma ideia de manter a bola no campo do adversário. Não deixar o adversário pensar. Eles vêm desenvolvendo isso a mais tempo, com sucesso. O sistema 4-4-2 será a linha que vamos seguir."
"A gente não tem a firmeza de pronunciar essa frase (seremos campeões) desse jeito se eu não fizer um trabalho que nos de sustentação para dizer essa frase. Ela pode se perder no caminho. Não se perde para ninguém a Copa, se perde para alguém capacitado."
Não se perde para ninguém a Copa, se perde para alguém capacitadoMano Menezes
"Temos o torcedor em casa e se as coisas não andarem bem vai atrapalhar um pouco. É da nossa índole. Precisa ter uma seleção experiente, para sustentar na hora decisiva. A gente precisa encontrar esse equilíbrio."
"Ao aceitar o convite para dirigir a seleção, vejo com naturalidade o técnico morar no Rio. Sinto algo positivo no carioca em relação ao futebol. Diferente de outros estados, onde nasci e trabalhei. No primeiro sinal de grande atuação pede jogador na seleção. Espero que contagie mais gente."
"Venho de clube de massa, o Corinthians, onde se tem que resolver um grande pepino diariamente. Agora é o objetivo número um do país. Mas não mudo aquilo que faço no dia a dia, aquilo que penso. Acredito na essência que cada um de nós tem. A vida de técnico é bastante solitária, muito mais que as pessoas imaginam. Acaba ficando na sua figura as decisões finais. Cabe a ele não ficar sozinho nas opiniões. As decisões finais devem partir do comandante."
Copa América
"O resultado é importante na formação de um trabalho. Mas resultados positivos nem sempre são só o que se pode tirar proveito de um trabalho. Em função da faixa etária da seleção anterior, de termos que mudar bastante, a prioridade número um é dar rodagem aos jovens que estão chegando. E em jogos duros."
"Mas não é possível que eles evoluam levando só jovens. Argentina não ganha Copa América há anos. Quer ganhar em casa e muito. Abriu mão da projeção de jogadores para o futuro. Não pode fazer Copa América ruim. Se não, não terá validade. Os jogadores experientes, com rodagem, vão fazer parte da equipe , pensando nisso."
Ronaldinho e Kaká
"Existem muitos jogadores com capacidade. Adiantar nome, embora tenha falado diferente em relação a Neymar, não é a linha que a gente adotou. Neymar é mais óbvio que quase todos. O grupo que vai para a Copa América é o que participou de jogos até aqui."
Ganso
"O Ganso (meia do Santos) é um organizador, capaz de pensar o jogo. Enxergar jogada, dar o ritmo, se vamos acelerar, diminuir. Esse jogador está difícil de achar."
"Lucas (meia do São Paulo) é ponta de lança, parte em jogada individual para acabar a jogada. Ganso só conseguiu jogar um jogo até agora, houve a lesão de ligamentos, agora voltou, fez alguns jogos, não voltou para seleção, e já teve outra lesão muscular."
os dois (Ronaldinho e Kaká) já não foram os que tiveram grande expectativa na Copa. Meu papel é encontrar e afirmar outros nomesMano Menezes
"São coisas que acontecem diante da formação da equipe. E a gente precisa encontrar outros nomes."
"Fala-se nos mesmos nomes. E os dois (Ronaldinho e Kaká) já não foram os que tiveram grande expectativa na Copa. Meu papel é encontrar e afirmar outros nomes."
A cara da seleção
"Certamente vai acontecer depois da Olimpíada. É o marco para vislumbrar a fase final de uma seleção, que vai mudar muito pouco. Com alternativas para um ou outro caso, mas tendo uma base."
Barcelona
"O Barcelona é atualmente uma tentação. A gente dorme e sonha pensando em jogar como o Barcelona. Mas chegou nesse nível depois de muitos anos, de uma repetida filosofia. Para jogar do jeito que a seleção jogou em 1970, só com aquele grupo. Eram todos acima da média. Para jogar do jeito que a Holanda jogar em 1974, só aquele time. Nunca mais jogará. Para jogar como o Barcelona joga tem que ser com aquele grupo diferenciado."
"O Messi é muito diferenciado. A Espanha joga como o Barcelona mas ele não está lá para resolver o jogo. Iniesta não vai conseguir um com a mesma eficiência. Quando escolhe uma maneira de jogar e não vence vai mudando."
"A seleção vai jogar com três no meio. O jogador dos lados vai ser hora atacante, hora meia-atacante. Vai ser mais armador. Quando nos sobrepormos coloca um mais atacante na beirada. No semblante do Barcelona você sente que eles tem confiança para jogar daquela maneira. Isso se cria com o resultado positivo."
"O Barcelona não está chegando nessa condição porque o clube na categoria principal vem tendo dificuldade. O clube tem uma filosofia que escolheu, todas as decisões seguem essa linha. Temos poucos exemplos disso no Brasil. Por opção dos dirigentes, é um pouco de falta de visão."
"Tem trabalhos muito bons quando o clube passa por alguma dificuldade. Sempre tem jogadores na base. Tem jogadores melhores para os que são contratados. Ao menos 90% dos jogadores contratados pelas equipes são do mesmo nível
técnico."
Convocação de jogadores do Rio
"A lista terá pouquíssimas surpresas. Não posso fazer convocação para a Copa América sem levar em conta o que fiz até aqui. Se não vão dizer que eu perdi tempo."
Preparação psicológica
A lista terá pouquíssimas surpresas. Não posso fazer convocação para a Copa América sem levar em conta o que fiz até aqui,Mano Menezes
"Eu gosto e já fiz esse trabalho nos clubes, traçando perfil dos atletas, para saber como ele gosta de você chegue e passe as informações para ele. Como reage nos momentos importantes. Ferramentas para usufruir a favor do grupo. Depois da escolha do grupo esse trabalho vai ter mais sucesso."
Amistosos
"Não podemos escolher qualquer adversário, temos que pegar escolas diferentes, de regiões diferentes, para que saiba se adaptar quando for enfrentar lá na frente. Vamos jogar com a Holanda no Brasil e Alemanha após a Copa América."
Estrutura
"Cada um tem que fazer a sua parte. Não estou acompanhando de maneira suficiente para dar opinião. Tem esse hábito de deixar para o último momento. Vamos enfrentar alguns problemas, mas acredito que vamos fazer uma grande Copa. Não ter estádio pra Copa das Confederações não significa prejuízo de preparação. O mais importante é o novo centro de treinamento da CBF, que vai nos dar condição de trabalho melhor."
