RIO - O técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, jogou uma ducha fria na esperança dos jogadores que estão se destacando neste início de temporada e sonham com a primeira convocação para defender o Brasil. Mano avisou, durante o seminário sobre a Copa de 2014, promovido pelos jornais O GLOBO e EXTRA, que a lista de convocados para a Copa América, em julho, na Argentina, terá poucas surpresas em relação ao grupo que já vem sendo chamado.
A principal dúvida do treinador, no momento, é em relação ao meia Paulo Henrique Ganso, do Santos, que sofreu uma grave lesão no músculo adutor da coxa esquerda e precisará de seis semanas para se recuperar da lesão . Ainda assim, ele não descarta de imediato o aproveitamento do jogador.
- A lista para a Copa América vai ter pouquíssimas surpresas. Vamos esperar um pouco mais (pelo Ganso). Estamos numa semana de decisão no Campeonato Paulista e esses prazos que se falam em semana de decisão a gente tem que guardar com um pouco de prudência. Talvez não seja tanto. Vamos esperar a recuperação para tomar uma decisão bem embasada - declarou Mano durante o debate com os ex-treinadores da seleção Carlos Alberto Parreira e Zagallo, no Hotel Windsor, na Zona Sul do Rio.
Dentro dessa filosofia de manter a base do time, o aproveitamento de jogadores como o volante Willians, do Flamengo, e o zagueiro Dedé, do Vasco, que têm se destacado no futebol carioca, deve ficar para uma outra oportunidade. Do futebol carioca, certo mesmo só o goleiro Jefferson, do Botafogo.
- O Jefferson foi convocado desde a primeira vez e se enquadra dentro daquilo que a gente pensa. Tenho acompanhado tanto o Willians quanto o Dedé, assim como outros jogadores.
Antes da Copa América, o Brasil fará dois amistosos, ambos no país, contra a Holanda, dia 5 de junho, em Goiânia, e contra a Romênia, dia 7, no Pacaembu, no jogo de despedida do atacante Ronaldo. O embarque para a Copa América está marcado para 21 de junho, e a expectativa de Mano Menezes é por uma boa atuação da seleção, independentemente do resultado final:
- O resultado é importante na formação de um trabalho, mas resultados positivos nem sempre são só vitórias. A construção de uma equipe é um resultado positivo. Nesse momento penso que a prioridade número um é dar rodagem a esses jogadores jovens que estão chegando. Eles precisam estar experientes em 2014, e têm que jogar jogos duros. Vai ser duro, é uma Copa América na Argentina. A Argentina não ganha a Copa América há anos, e preparou uma equipe para isso - declarou.
Mano, Parreira e Zagallo conversaram por cerca de duas horas, não apenas sobre a seleção mas também a respeito da preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 2014. Confira os principais temas da mesa-redonda:
Pressão para ganhar a Copa de 2014: O primeiro tema discutido no debate foi a pressão que a seleção pode sofrer para conquistar o título mundial em casa, o que não aconteceu na primeira Copa realizada no Brasil - em 1950, o país foi vice-campeão, derrotado pelo Uruguai por 2 a 1 no jogo final.
Presente em quatro das cinco conquistas brasileiras - como jogador em 1958 e 1962, como técnico em 1970 e como coordenador em 1994 -, Zagallo não mediu palavras ao dizer que o Brasil tem que ser campeão em 2014 'custe o que custar'.
- Temos que saber ganhar em casa. Só os outros que sabem, e nós não? A bomba agora está nas mãos do Mano. Nós temos que ganhar, custe o que custar.
Experiência x juventude: Tanto Zagallo quanto Parreira defenderam a mescla entre jogadores jovens e outros mais experientes, principalmente para suportar a pressão por jogar uma Copa do Mundo diante da torcida brasileira.
- Ele (Mano) tem que fazer uma mescla entre a garotada e os jogadores mais experientes. Daqui a três anos e meio espero que esses garotos estejam mais capacitados. Eles precisam ganhar experiência. Até ele (Mano), daqui a três anos e meio vai ter mais experiência também - afirmou Zagallo.
Parreira citou a experiência da Alemanha, que conquistou como anfitriã seu segundo título mundial, em 1974.
- Eu lembro de conversar com os alemães na época sobre a pressão de jogar em casa, e eles me diziam: 'Carlos, nós vamos ganhar, temos jogadores que estão disputando sua terceira Copa do Mundo - destacou Parreira.
Ronaldinho Gaúcho: Zagallo foi enfático ao afirmar que não vê o meia-atacante Ronaldinho Gaúcho, do Flamengo, em condições de defender a seleção brasileira no próximo Mundial . Para Zagallo, o camisa 10 rubro-negro vive uma situação diferente de outro ex-colega de seleção, Kaká, do Real Madrid. O ex-treinador, de 79 anos, ainda acredita na recuperação do camisa 8 merengue. Sobre Ronaldinho, no entanto, a previsão de Zagallo é mais sombria:
- Acho que o Kaká ainda tem condições de participar da seleção brasileira. O Ronaldinho Gaúcho mostrou, todos sabem, uma habilidade fora do comum quando estava no Barcelona, mas numa posição de um jogador (que atua) em 30 metros de campo, ali pela ponta esquerda. Quando ele foi para o Milan, já não era o mesmo jogador, ficou na reserva e veio para o Flamengo. O Luxemburgo está tentando colocá-lo na melhor posição para um jogador de 30 metros, da intermediária adversária para dentro do gol. Mas com 31 anos, para jogar no meio de campo ele não tem mais condições orgânicas. Já não tinha antes, e daqui a três anos não terá mais - declarou Zagallo.
Expectativa para a Copa de 2014
Mano falou sobre a sua expectativa para a Copa de 2014.
- A Copa no Brasil vai ser grandiosa. Noto a preocupação dos brasileiros de apontar pontos negativos, que é nossa característica. Mas teremos muito de positivo para apontar.
Parreira disse que a responsabilidade do Brasil será grande:
- A responsabilidade vai dobrar em 2014. Temos que ter um time muito bem preparado não só técnica e taticamente, mas mentalmente. Quero ver uma Copa baseada na qualidade técnica.
Foi a deixa para o Barcelona, dono do futebol que está encantando o planeta no momento, entrar no debate.
- O Barcelona é atualmente uma tentação. Todo mundo quer jogar como o Barcelona, mas eles chegaram nesse nível depois de muitos anos - disse Mano.
- O Barcelona é um time que sabe fazer triangulações em todos os setores do campo. Eles não fogem da bola, eles procuram. Esse trabalho deles é fantástico - completou Zagallo.