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Prioridade é reduzir inchaço do cérebro de Felipe Massa, diz médico

Especialista explica que é muito difícil prever evolução. Energia estimada do impacto foi 30% da suficiente para decapitação

Ricardo Muniz
Do G1, em São Paulo



Dino Altmann, médico responsável pelo GP do Brasil, que está na Hungria, relatou neste domingo que o neurologista responsável pelo tratamento de Felipe Massa disse que ele "tem um pouco de edema", mas não tem hematoma ou lesão do tecido nervoso do cérebro.

Massa foi atingido sábado por uma mola que se soltou do carro de Rubens Barrichello, durante os treinos para o GP da Hungria. Edema cerebral é, simplificando, um inchaço.

- Dependendo do grau do inchaço, há um aumento da pressão do cérebro - diz Milton Steinman, cirurgião especializado em trauma do Hospital Israelita Albert Einstein.

Como a calota craniana é um compartimento limitado, a massa encefálica não tem para onde crescer, o que requer medidas para reduzir o inchaço. O período do inchaço é variável. Pode ser de 2 a 3 dias, ou até mais.

As tomografias computadorizadas (TCs) em série – no caso de Massa elas serão de 48 em 48 horas – têm o objetivo de descartar a chamada lesão axional difusa, quando a forte desaceleração resultante do impacto causa ruptura de fibras axoniais (os axônios atuam como condutores dos impulsos nervosos).

Não há lesões cerebrais graves neste caso, mas pequenas hemorragias, que são detectadas nas TCs. Uma ressonância nuclear magnética pode ser empregada como ferramenta adicional para gerar imagens de confirmação.

Para Steinman, é preciso considerar que Massa foi vítima de dois choques – o da mola e, depois, contra a barreira de contenção.

- A transferência de energia é muito grande. O prognóstico é variável, é muito difícil prever como será a evolução, se haverá comprometimento de reflexos. Mas eu já vi paciente com inchaço cerebral importante (grave) que acorda sem nenhuma sequela. Como o Massa é jovem, as chances são boas - diz Steinman.


Cálculo de impacto

Segundo Sérgio Ejzenberg, perito em acidentes automotivos e mestre em engenharia de transportes da Escola Politécnica da USP, é preciso considerar que a mola que desprendeu do carro de Barrichelo manteve movimento, quicando, na mesma direção que os veículos.

- Não foi parada instantânea com aborção total de energia. Ou seja, quanto mais rápido ela estava, menor terá sido o impacto, porque você subtrai as duas velocidades.

Tomando como premissa que a mola estivesse a 100 km/h, o impacto teria sido a 160 km/h. Considerando que ela não bateu em cheio no rosto de Massa, mas resvalou do lado esquerdo do crânio do piloto, Ejzenberg calcula uma energia de impacto de aproximadamente 500 joules. Para que se tenha ideia do que isso significa, uma energia de 1.800 joules causa decapitação. Um pouco menos, 1.700 joules, enforcamento.

- Evidentemente, uma perícia vai definir ângulo do choque, peso e velocidade exata da mola - diz o engenheiro.

Em sua avaliação, o acidente reforça a necessidade de revisão de projeto dos carros de Fórmula 1.

- Em nome da segurança dos pilotos, está mais do que na hora de adotar cockpits como de aviões de caça. Não há razão para que isso não seja feito, os pilotos ficam expostos até mesmo a aves.

Além da proteção em caso de choques com pequenos objetos, em caso de incêndios, o cockpit fechado serve como célula de sobrevivência. Ejzenberg prefere não calcular a força do impacto, porque seria necessário avançar ainda mais nas suposições.

Mas, assumindo que o impacto tenha durado um décimo de segundo, a força aplicada seria de 40 a 50 quilos. O problema é que, também aqui, é preciso considerar o grau de ruptura do capacete - se o crânio bateu no revestimento do capacete ou teve contato direto com a mola, e em que extensão e tempo.

Durante a produção de um capacete de Fórmula 1, 120 camadas de fibra de carbono são coladas juntas. Depois, o capacete vai para um forno onde as camadas são soldadas e endurecidas a uma temperatura constante de 132°C. Partes sujeitas a forças extremas são reforçadas com alumínio e titânio. O interior é feito de duas camadas de Nomex, um tecido antichama.

Antes de a Federação Internacional de Automobilismo aprovar um capacete, ele passa por uma série de testes de impacto. Durante o teste de penetração, um objeto de metal pontiagudo, de 3 kg, é derrubado de uma altura de três metros sobre a superfície do capacete, que deve permanecer íntegro. Submetida a um peso de 38 kg, a presilha não pode alargar mais de 30 milímetros. O visor é bombardeado com projéteis viajando a aproximadamente 500 km/h e os pontos de impacto não podem ser mais profundos que 2,5 milímetros.