Por base e reestruturação, Mauricio Assumpção evita que fase do futebol prejudique os projetos do clube
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Mauricio Assumpção aposta em reestruturar o Botafogo (Crédito: Gilvan de Souza)
Quando assumiu a presidência do Botafogo, Mauricio Assumpção tinha noção do quão difícil seria o cargo. Abdicar da vida social, dedicar-se a um clube quase que 24 horas por dia e receber cobranças de todos os lados é tarefa tão complicada que muitos não aceitaram. Mas, passados seis meses, a avaliação inicial é positiva.
Ainda que o futebol passe por momento de turbulência, com o time na lanterna do Brasileiro, avanços estruturais (como novo departamento médico e sala de imprensa), orçamentários (redução de despesas em 40% e da folha salarial de R$ 2,2 milhões para R$ 1,1 milhão) e salários em dia mostram evolução no clube.
O dirigente recebeu a equipe de reportagem do LANCENET! na terça-feira, na sala de imprensa em General Severiano, e fez um balanço de seu início de gestão:
PONTO POSITIVO
"Montamos time em tempo recorde. Eram três titulares e oito juniores no elenco. Com um time completamente desacreditado, tido como quarta força, chegamos à final do Carioca, ganhamos a Taça Guanabara. Perdemos dois jogadores importantes por lesão (Reinaldo e Maicosuel), depois um que foi vendido (Maicosuel), apesar de todos os nossos esforços, com uma proposta a nível de Brasil pouco vista. A partir daí, o treinador teve de rever o plano tático e o time".
SITUAÇÃO ATUAL
"A situação em que estamos ninguém aqui imaginava, pois o time tem capacidade para estar em posição muito melhor. Mas, em termos de futebol, fizemos a metade do que poderíamos ter feito. Ainda temos a possibilidade de trazer reforços. Esse é o momento mais fácil para fazer besteira, precisamos de cabeça no lugar para fazer contratações. Temos certeza de que vamos mudar este quadro".
BLINDAGEM
"Não deixamos a fase do futebol atrapalhar os outros setores. É óbvio que em clube de futebol a primeira coisa que vem à cabeça do torcedor é o resultado. Se está disputando o primeiro lugar, se está em último... É isso que o torcedor quer saber. Mas a minha equipe não está parada no tempo e no espaço. Reafirmo que não estou fazendo nada sozinho. É junto com a diretoria que está empenhada em dar uma estrutura que não tínhamos".
EXPLORAÇÃO DO ENGENHÃO
"Devemos na próxima semana lançar uma parceria para o Engenhão com uma empresa prestadora de serviços de comercialização e administração do estádio. Daqui a três, quatro semanas vamos lançar o novo projeto sócio-torcedor em conjunto com o CT de Marechal Hermes. Tudo continua sendo visto, trabalhado. Isso é fundamental para a sobrevida do clube. Não veremos um clube, o Botafogo fortalecido, campeão, se não construirmos essas outras coisas. Divisão de base, Engenhão como fonte de receitas e novo sócio-torcedor podem ser muito importantes".
SÓCIO-TORCEDOR
"A questão do sócio-torcedor é um pouco mais delicada porque o apelo fundamental é o sócio contribuir. Isso acontece normalmente em situação de fundo de poço, como estávamos em 2003. Ou o Vasco hoje, que na Segunda Divisão tem a torcida presente, participando do sócio-torcedor. Estamos em posição delicada no campeonato, o que pode comprometer. Temos de saber bem em que momento lançar.
É um projeto diferenciado, o torcedor estará colaborando com aquilo que de mais importante faremos no Botafogo, a divisão de base. O projeto já vinha em mudanças. O que aconteceu é que podemos agregar parte vitoriosa do Inter com o nosso, com a chegada do Josué Tissot. Eles batem a casa dos 90 mil sócios, o que é a meta que qualquer um precisa atingir. Imagina 90 mil sócios pagando R$ 30 por mês?"
CHAMAR A TORCIDA
"Fazendo duas ou três contratações que queremos chamamos a torcida para o nosso lado. É um momento crucial. A comissão técnica e a direção se reuniram e definiram alguns nomes. Se conseguirmos uns três, a torcida vem junto".
DIFICULDADE POR REFORÇOS
"Quem consegue contratar bem hoje? Se esperarmos a janela, são oito jogos. O Botafogo pode esperar? É nesse momento que se faz besteira. Começam a empurrar jogador de todo lado, DVDs vêm em enxurrada. Anderson Barros (gerente de futebol) deve estar com a cabeça congestionada de tantos DVDs que vê".
BASE
"Estive na segunda-feira em Marechal Hermes, fiquei até surpreso, cheio de crianças treinando, jogando. Tinha peneira, escolinhas, categorias treinando. Há muito tempo não via isso. E os resultados, é óbvio que houve reformulação, têm sido animadores. E ainda tem convocações para Seleções sub-15, sub 17 e sub-20. Isso tem sido uma resposta boa ao trabalho.
Wellington Júnior foi convocado e capitão, Wellington zagueiro não foi porque estava machucado, há os goleiros Milton Raphael e Luis Guilherme. Temos outros meninos, como Dedé e William. Isso mostra que o trabalho tem sido feito de forma criteriosa. O exemplo que costumo dar é que há 11 da base treinando no grupo. Há anos isso não acontecia.
Ney Franco é muito responsável por isso, porque aceitou o projeto do clube, o desafio. Por esse motivo, damos importância ao trabalho dele. Não é qualquer treinador que aceitaria. E vocês sempre veem juniores aqui, treinando contra os profissionais".
PROJETOS DA BASE
"Temos um projeto de fortalecimento de musculatura para garotos de 14, 15, 16 anos. O dia todo ficam aqui no clube, se alimentam e fazem os exercícios... Temos reuniões periódicas de fisioterapeutas, fisiologista e comissão técnica com o pessoal da base. É uma troca de informação de jogadores. Isso não existia aqui. É um trabalho que veremos resultados daqui a três anos.
Podemos contar com a sorte, como com o Gabriel, que despontou esse ano, o Alex, que é tratado de forma especial por ser um baita zagueiro, o Laio, que tem feito bons jogos.
Ainda tem Júnior, Wellington Júnior, Jorge Luís, Caio e Vinicius. Demoram a aparecer frutos, mas é algo que tem de ser feito. Então, os resultados do futebol não podem atrapalhar isso. Senão, daqui a dois anos você me perguntará isso de novo e eu responderei: 'Pois é, acreditamos só no futebol, no futebol... e o clube parou, não se desenvolveu'.
Esse trabalho não é feito há muito tempo. Não estou dizendo que sou o mais esperto, o mais sábio dos presidentes. Mas essa diretoria entendeu que se não fizer esse tipo de trabalho não será o Botafogo que queremos. Precisamos dessa reestruturação".
TRABALHO INVISÍVEL
"Esse é um tabalho que não se vê a olho nu, não aparece para a torcida. Mas é um trabalho de fundação. Você não constrói uma casa se não tiver uma boa fundação. Se você botar três gravetos para sustentar uma casa de quatro quartos, na primeira ventania ela vai embora. A fundação de um clube de futebol passa obrigatoriamente pelas divisões de base. Temos feito isso e não podemos parar. É claro que não vou esquecer o futebol, tanto que fomos à final do Carioca, mesmo desacreditados".
MANOEL RENHA AFASTADO
"Renha hoje trabalha dentro da CPE (Companhia de Participações Esportivas).Vai ter uma participação muito importante lá. Ele está afastado, mas nunca está longe. Não consegue. É um cara show de bola, ajuda em qualquer momento. Mas tem problemas relacionados à própria empresa que exigem afastamento. Então, prefere sair. Mas depois quer ajudar novamente. É muito companheiro e muito atencioso com as questões do Botafogo".
ERROS
"Minha relação com a imprensa é um erro absoluto. A moral que dou para vocês não existe (risos). Todo dia sou criticado pelo meu assessor de imprensa, por conta disso. Naturalmente, cometi alguns erros. Mas o principal foi não ter sido campeão carioca. Queria muito ser campeão carioca em cima do Flamengo".
RECLAMAÇÕES
"A cobrança será igual sempre. Torcedor é assim, não acho que está errado. Ouvi algumas coisas contra o Goiás, ofensas, impropérios, que ninguém gosta de ouvir. Mas tenho certeza de que essas mesmas pessoas, se deixarem de lado o torcedor, vão reconhecer que o trabalho é muito sério. E os resultados vão aparecer.
Se estivéssemos em posição intermediária na tabela, estaríamos vivendo outro clima. Mas ainda bem que tenho diretoria que apoia, trabalha e chega junto. Ficamos reunidos das 11h às 21h na segunda-feira, após nos reunirmos com organizadas. Faz parte do trabalho, da vida de ser presidente".