Leitores alvinegros estranham o fato de eu não ter escrito uma palavra sequer sobre o Botafogo no pós-Brasileirão. Ora, a única palavra cabível me parecia incompatível com jornal de família. Teria sete letras, significaria órgão sexual masculino, começaria por C, sua penúltima letra seria H, e viria, como é comum, seguida por um ponto de exclamação. Essa palavra seria adequadamente ambígua, de modo a exprimir tanto alívio quanto revolta. O time se manteve na Série A em 2010 graças a duas vitórias sobre postulantes ao título de 2009, mas a campanha foi de uma ruindade avassaladora: 11 vitórias, 14 empates e 13 derrotas; 52 gols feitos e 58 sofridos; 15º lugar entre 20 times. A palavra, então, era…
Bem, vamos lá. O Botafogo tornou-se um time pequeno. Dói-me escrever isso. A torcida é de bom tamanho, a história é gloriosa, o Engenhão é espetacular, mas o time, sabe, aquele grupo de jogadores em campo com a camisa listrada em preto e branco, o time é dest’amaninho ó… A pequenez, contudo, começa fora de campo, na cartolagem.
O atual presidente, Maurício Assumpção, é, evidentemente, um bom homem, aliás, o único que se apresentou para segurar os pepinos herdados dos antecessores. No entanto, seu primeiro ano de mandato exacerbou características que vez ou outra já pipocavam nos piores momentos das gestões anteriores. O Botafogo pensa, e joga, como time pequeno. Ainda deu a sorte de “achar” uma equipe apta às baixas exigências do Campeonato Carioca, graças ao impetuoso Maicosuel.
Até Reinaldo e Victor Simões pareciam jogar bola quando ele estava na área. Foi Maicosuel se contundir para o Botafogo perder uma decisão em que uma vitória só, em três jogos, lhe daria o título. Tremeu feito time pequeno.
Logo, a expectativa era que a equipe se reforçasse para o Brasileirão, mesmo que não pudesse manter Maicosuel, emprestado por uma empresa. Não foi o que aconteceu: os cartolas prestigiaram (por tempo demais) o técnico que perdeu o Carioca e foi eliminado da Copa do Brasil em casa, por um time pequeno; protegeram (até o presente momento) o autor de dois gols contra na decisão do Carioca; e, como “reforço”, trouxeram de volta o anti-Maicosuel, o cada vez mais lento e previsível Lúcio Flávio.
O resultado é que passei até a última rodada do Brasileirão assombrado por algo que escrevera ao pé da coluna de 26 de junho: “Se é improvável que o clã dos Sarney vá cair por causa de um mordomo a menos ou um motorista a mais, parece-me cada vez mais provável que o meu Botafogo caia de novo para a Segunda Divisão. Perdido o Carioca, o time não foi reforçado para o Brasileiro. Será que a gente não consegue nem trocar o zagueiro Emerson pelo polivalente ‘Secreta’?” Os Sarney estão aí, essa era mole de “prever”.
Na semana passada, Fernando Sarney conseguiu que o Supremo ratificasse a censura imposta por uma instância inferior ao jornal “O Estado de S. Paulo”, impedido de noticiar investigações por corrupção. E o tal “Secreta”, apelido do mordomo Amaury de Jesus Machado, lotado no Senado a R$ 12 mil mensais, mas prestativo à governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ainda deve estar lá onde o “Estado” o achou. Quanto ao Botafogo, safou-se de cair por apenas dois pontos.
Mesmo as incômodas arbitragens refletem a pequenez do time que foi a campo. Os juízes tendem a apitar a favor dos times grandes, dos mais ricos, dos de maior torcida. Assim, a pergunta feita por muitos cronistas esportivos, inclusive alguns que estão longe de serem alvinegros, deveria ser reformulada, de “o que os árbitros têm contra o Botafogo?” para “o que os árbitros não têm a favor do Botafogo?” Outro aspecto desse complexo de inferioridade surge no palpite infeliz de uma assessoria para viabilizar economicamente o Engenhão: dissociar a imagem do estádio da do clube porque, segundo os sábios do marketing, o Botafogo “não vende”. Ah, o time de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo e Zagallo, o time de três Copas do Mundo não vende.
O pior é que, aparentemente, o dentista Assumpção está caindo nessa lábia. A bem da verdade, o presidente tem falado em ousadia, em aprender com os erros de 2009, em contratar craques de fechar aeroporto. Na última vez em que se ventilou algo parecido, porém, o “grande nome” era o do nosso velho conhecido Dodô, melhor que todos os atacantes ora na casa juntos, mas já com 35 anos e afastado do futebol há dois, desde um mal explicado doping no próprio Botafogo (como o avoado Jóbson).
Agora, em nome do segredo nos negócios, não se fala mais em possíveis craques em General Severiano. Os “reforços” mencionados são de desanimar cantora baiana. Andrade e Durval, do rebaixado Sport. Patrick, do rebaixado Náutico. Nunes, do rebaixado Santo André. Ariel, do rebaixado Coritiba. O Botafogo parece querer se certificar de que terá um elenco de Segunda em 2010. Era melhor manter isso em segredo também. Nos últimos dias, falou-se em jogadores encostados no Grêmio (Herrera e Renato Cajá) e no Palmeiras (Marquinhos e Willians, estes emprestados pela mesma empresa “dona” do Maicosuel).
Nenhum se enquadra ainda na categoria “de fechar aeroporto”.
Pelo andar da carruagem, e lá vou eu bancar de novo o profeta do caos, na esperança de queimar a língua em terceiro grau, não será no ano que vem que o pobre do Leandro Guerreiro poderá afinal abandonar o sobrenome e adotar o apelido de Leandro Vencedor.