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Ricardo Gomes segue na luta, mas já admite desistir de ser treinador

Por: Marluci Martins


Ricardo Gomes vive dias de incerteza. O meio do ano era o prazo que estabelecera para sua volta ao trabalho, mas o tempo, correndo demais, ameaça escapar de sua mão direita, ainda sem sensibilidade desde o AVC de 28 de agosto. Com a fala já quase fluente e a perna cada vez mais firme, o treinador segue confiante e continua na luta para voltar em um mês ao futebol. Mas, pela primeira vez, admite jogar a toalha. "Se em dezembro eu não estiver recuperado, esquece. Vou parar", diz, com exclusividade, ao blog Extracampo.

Extracampo: Como está sendo sua rotina de fisioterapia?
 
Ricardo Gomes: Para mim, é massacrante. Mas não tem jeito. É preciso trabalhar.

Mas você está falando cada vez melhor. Não pensa em virar locutor esportivo (risos)?
 
(Risos). Se o Galvão precisar de um substituto, quem sabe? Posso me candidatar. Estou bem melhor...

Na sua última entrevista, você falou sobre voltar em junho ou julho. Já estamos em junho... Essa melhora na fala significa que você está para voltar?
 
Pode até ser que eu consiga, mas deixa eu te falar: a parte do meu cérebro afetada foi a da sensibilidade. Ainda não encontrei a sensibilidade. Sinto um peso no braço e na perna. Não há uma progressão aritmética para isso. Não há um estudo que crave o prazo para a recuperação total. Pode até ser em junho ou julho. É viável. Mas não tenho certeza.

Quais são sua dificuldades?
 
O maior problema é o antebraço. Não consigo escrever com a mão direita, por exemplo. Só com a mão esquerda. A escrita vai ser o mais difícil. Posso demorar de três a quatro anos. Já sei que vai ser difícil encontrar a sensibilidade na mão. Na perna, posso encontrar. Aí, poderei trabalhar. É mais ou menos o que acontece com uma criança que começa a andar entre 9 e 11 meses. Preciso recomeçar a fazer os caminhos.

Apesar da dificuldade, você está confiante?
 
Estou, mas se em dezembro eu não estiver recuperado, esquece. Não vou ficar esperando mais. Vou parar e pensar em outra coisa para fazer no futebol. Mas ainda não perdi a esperança de voltar, quem sabe até no mês que vem. O médico diz que aos poucos vou melhorando até o fim do ano. A recuperação pode ser amanhã ou lá para o fim do ano. Vamos ver.

O braço, onde está sua maior dificuldade, teve alguma melhora da sua saída do hospital para cá?
 
Recuperei totalmente a parte motora. Falta a sensibilidade. No início, eu nem mexia o braço direiro, que parecia pesar 300 Kg. Agora, pesa 80 Kg. A perna está muito melhor, mas o braço... A fala tem boa fluência, mas gaguejo às vezes e tenho mais uns 10% a melhorar. Como vou trabalhar assim?

Se passar julho... Se até dezembro você não estiver em condições, que função você gostaria de assumir no futebol?
 
Nem pensei. Se isso acontecer, vou ter que ver... Prefiro ainda acreditar que vou conseguir trabalhar como treinador antes de dezembro. Mas, se não der mais, sei que posso continuar no futebol de várias formas.

Você tem conhecimento do mercado. Não acha que seria um bom dirigente?
 
É... Não pensei mesmo. Aumentei a carga da fisioterapia. Chego em casa às 21h...

Tem visto muitos jogos de futebol?
 
Tenho. E vou te dizer: gostei da seleção brasileira. Apesar da última derrota, gostei. Há muito tempo não a via tão bem.

Acompanhou a saída do Ronaldinho do Flamengo?
 
É uma pena. Ele tem um talento enorme. Deveria ter mais durabilidade...