Por trás do nome de famoso, lateral esconde trajetória de dificuldades entre a mudança de Tocantins para Goiás, passando pela separação dos pais
Destro, Lennon joga nas duas alas e treina faltas
com o pé esquerdo (Foto: Satiro Sodré / Agif)
com o pé esquerdo (Foto: Satiro Sodré / Agif)
  Nascido em Araguaína, no Tocantins, John Lennon jamais teve o glamour  atrelado ao nome em sua vida real. De família humilde, viu sua mãe  superar um obstáculo mais duro do que qualquer retranca adversária: a  traumática separação do marido, Manoel, que ocasionou a ida do menino de  quatro anos para Goiânia, cidade grande aos olhos da família, então  reduzida aos dois. Por isso, depois de quase dois meses separado de dona  Rosane, o lateral conta os dias para revê-la, já instalada  definitivamente no Rio de Janeiro, onde o sonho dela tem um novo e mais  intenso capítulo: o sucesso no Botafogo, que lhe ofereceu um contrato de  quatro anos.
  O batismo é apontado como obra do tio, José Fernandes, fã dos Beatles.  Já o registro, após a sugestão, ficou por conta do pai, com quem Lennon  não manteve contato, tanto que não olhou para trás e sequer se recorda  de sua primeira casa. Assim, a mãe foi obrigada a fazer o papel dobrado  e, mesmo sem conhecer muito sobre futebol, se tornou a maior  incentivadora da carreira do caçula.
  - Comecei aos 11 anos, e minha mãe sempre me deu força. Nunca precisei  mentir para ir jogar bola, era ao contrário. Se eu faltasse a um treino,  ela dava bronca. Não tínhamos uma boa condição, mas ela trabalhava  muito e, se precisasse, pedia até dinheiro emprestado. Fazia o que tinha  fazer para não me faltar nada, nem a passagem do ônibus para as  escolinhas, mesmo nos momentos mais difíceis. Sempre foi honesta,  guerreira mesmo. Só posso agradecer a Deus e à ela por ter chegado aqui.  Mudar a vida da minha família era um sonho meu, que está se realizando -  conta o jogador, comovido, que substitui Lucas, domingo, contra a Ponte  Preta, pela sexta rodada do Brasileirão, sua estreia no Engenhão.
  Junto à dona Rosane, que exerce a profissão de manicure, chegará Pedro,  padrasto lembrado por Lennon como alguém importante nas decisões de  seus primeiros clubes. Precoce, o hoje alvinegro virou profissional aos  16 anos, pelo Inhúmas-GO, e foi tentar a sorte no Madureira, em sua  primeira incursão pelo Rio. 
Depois voltou a fazer parte da base do Vila  Nova, mas os oito meses na capital que já se acostuma a morar ficaram  marcados por terem sido o maior período que já esteve longe de sua mãe,  fã de dois craques.
Lennon é apresentado com Vitor Júnior, em maio, no Engenhão (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com)
  - Ela ia nos meus jogos sempre, torcia muito. Agora, está acompanhando o  Botafogo pela televisão quando dá, nos falamos todos os dias. Mas  passou a gostar mesmo de futebol, assiste a qualquer coisa. Kaká e  Neymar são dois que ela fala lá (risos). E nunca reclamou da minha  posição. Onde me colocavam, estava bom. Ela queria é me ver jogar -  diverte-se.
  Hobbies, amizades e pulmão em dia
  Para superar a solidão atual, televisão, a Bíblia e cinema. Nas folgas,  o lateral-direito conferiu Homens de Preto e Madagascar. Para ir ao  treino, deixa o apartamento alugado na Barra da Tijuca e pega carona com  o zagueiro Brinner. Isso até seu Hyundai i30 chegar na garagem. Mas a  principal afinidade até agora é com o meia Fellype Gabriel, que o  recebeu com ainda mais carinho do que os outros companheiros de General  Severiano.
  - Estou muito próximo dele, realmente. Fellype conhece alguns amigos  que jogaram comigo. Ligaram para ele, pediram para me receber bem, e ele  está sempre me puxando para conversar, perguntando o que eu preciso. É  um cara 10 mesmo, um parceirão. Mas claro que o ambiente é legal.  Jeferson, Lucas Zen, Cidinho, são todos amigos - enumerou Lennon.
  Em campo, Lennon diz que alia a velocidade com um bom pulmão. Mesmo  improvisado na esquerda, ele admite que cansou contra o Inter, quando  mostrou vontade até demais, segundo o técnico Oswaldo de Oliveira, mas avisa que seu estilo é de correr os 90 minutos.
  - É meu estilo mesmo, ir e voltar o tempo todo. No fim, senti o  cansaço, mas não vou deixar de me esforçar. Fiquei conhecido por isso  também em Goiânia. Havia dois meses que eu não jogava. Quando estiver em  ritmo e melhor fisicamente, vai ser mais fácil.
 
 
