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Prsidente do Botafogo busca gestão moderna no Botafogo

Coluna PRIMEIRA LINHA - S. Barreto Motta

Na Europa, há clubes-empresa e instituições pertencentes a bilionários ou geridos por ricos comendadores. No Brasil, as principais agremiações dispõem de um patrocinador que, além de pagar alto valor mensal, em geral se responsabiliza por despesas extras, como a compra de grandes jogadores.

O Botafogo - ou Botafogo do Rio, como preferem os paulistas - não tem uma coisa nem outra. Está sem patrocinador - Bozzano e Neo Química Genéricos puseram suas marcas na camisa apenas no jogo final da Taça Guanabara - possui grandes dívidas - da quota de R$ 900 mil a receber do Maracanã no domingo, o clube ficou com apenas R$ 300 mil, pois a maior parte foi retida para pagamento de débitos trabalhistas. E, para espanto de muitos, o clube é controlado por um dentista, profissional em geral desabituado a cuidar de empresas de empresas, ao contrário do que ocorre com engenheiros, economistas e administradores.

Em conversa com a coluna, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, revela, de início, que não parou de atender a clientes: "Continuo com o consultório aberto, pois não pagar pensão alimentícia dá prisão", diz, com bom humor. Isso denota que não pode se dedicar integralmente ao clube de seu coração. Ao lado do vice-presidente de Marketing, Carlos Thiago Cesario Alvim - outro entusiasta, que também não é remunerado pelo cargo, sendo um dos sócios do restaurante Carioca da Gema, situado na Lapa - Assumpção explica qual o segredo para se gerir o centenário clube:

- Temos gente especializada em cada área e adotamos técnicas básicas de administração. A primeira delas é não misturar dinheiro de um setor com o de outro. A verba do remo não vai para o futebol, nem o contrário. E cada ramo deverá ter, se possível, um patrocinador específico.

O estádio João Havelange, construído pelo botafoguense César Maia e entregue ao clube por 25 anos, é chamado pelo povo de Engenhão e, para a diretoria, é Stadium Rio. Uma empresa especializada foi chamada para tentar dar lucratividade ao belo espaço e já atraiu grupos como Bob"s e Nestlé. Como o Maracanã ficará fechado por dois anos, para a Copa do Mundo de 2014, o Stadium Rio ganhará projeção especial. Assumpção reconhece que, se tiver sucesso em tudo e falhar no futebol, sua administração será um fracasso. Para evitar isso, conta com dinheiro de um fundo de investimento, de gente que pretende lucrar com a valorização de jogadores. Afirma não querer um doador tipo "mecenas", mas investidores que visem ao lucro de comum acordo com o clube.

Em relação a patrocínio, afirma que a indefinição sobre continuar na primeira divisão, no ano passado, prejudicou as negociações. Após ser derrotado por 6 a 0 pelo Vasco, vinha recebendo ofertas baixas e garante ter fôlego para negociar melhores valores, o que agora deve ocorrer, após ganhar a Taça Guanabara, com reconhecidos méritos técnicos. Assunção diz que preferiria renunciar a seu mandato a adotar a prática de pedir antecipação de receitas - como fazem muitos clubes de expressão - pois sabe que isso significa estar condenado a jamais deixar de contrair novos empréstimos, sempre com juros maiores.

Sobre o homem mais rico do Brasil, o botafoguense Eike Batista, informa que o empresário realmente lhe confessou que adora a estrela solitária, mas - embora dê dinheiro até à ONG de Madonna - jamais empenhará um centavo em futebol. Por isso, Assumpção espera que Eike adote o estádio de remo da Lagoa, com vistas a um projeto lucrativo. Com empenho, o clube conseguiu aprovar projetos de incentivos fiscais de R$ 5 milhões.

Em meio ao tumulto que é se administrar uma entidade com altas dívidas vencidas, Assumpção informa que ainda tem cabeça para criar a ação social "Estrela solidária". Outra preocupação é regularizar o rico patrimônio, como o estádio Caio Martins, em Niterói, e a área de Marechal Hermes. A sala de imprensa do Stadium Rio terá o nome do jornalista Luiz Mendes. Assunção desabafa: "Não quero parecer nenhum gênio. Na verdade, adotamos sistemas simples e precisamos de um pouco de sorte". E, por fim, confessa: "Não tenho muito espaço para errar".