Após vencer no Japão, sob outra cultura, técnico volta a sentir cobranças do torcedor, mas não vê diferença prática em relação aos 'boleiros'
Estigmatizado pelo status de técnico intelectual, Oswaldo de Oliveira tratou de desmistificar as supostas diferenças práticas entre sua linha de trabalho e a dos chamados "boleiros", como Joel Santana, Abel Braga, entre outros. Ao longo das cinco temporadas que passou no Japão, viveu a sensação de respeito constante, agregada tradicionalmente à cultura oriental. Segundo os relatos locais, seus discursos aliados à finesse ganharam o povo local tanto quanto suas vitórias pelo Kashima Antlers. De volta ao ambiente e às cobranças do torcedor brasileiro, diz que já não acredita no preconceito.
- Já foi bem pior, sem dúvida. Hoje os parâmetros são outros, o futebol ganhou uma cara, evoluiu em todos os sentidos. Não podemos mais ter esse tipo de visão pessoal. Cada um foi criado de uma maneira, mas a compreensão do futebol não depende de estilo. Particularmente, estou muito satisfeito com meu desempenho na carreira. Já não é uma proporção grande das pessoas que pensa assim. De terno, boné ou prancheta, no fim é tudo parecido - defende Oswaldo, que, aos 61 anos, tem mostrado pulmão e força física nos treinamentos, com muitos gritos e participação.
Oswaldo em momento de orientação aos jogadores, durante o jogo (Foto: Wallace Teixeira / Ag.Estado)
A fama de disciplinador, ao invés da de paizão, nunca chegou a pegar. Em seu início, no Corinthians, logo após assumir o cargo deixado por Vanderlei Luxemburgo, em 1999, lembra-se até que o grupo se fechou para oferecer-lhe o bicampeonato brasileiro, após a desconfiança em torno de sua escolha, já que substituía o novo técnico da Seleção.
- Foi uma época muito bonita, havia até essa diferença entre mim e o Vanderlei, mas é normal, ninguém me conhecia. O problema não era meu comportamento, e sim o fato de ser um iniciante. Até ser reconhecido como ganhador, demora. Outro dia abri o vidro do carro, porque um torcedor me parou e pediu para falar algo. Achei que fosse do Botafogo, mas era um corintiano agradecendo pelo Mundial de Clubes, em 2000. O carinho sempre existiu. E as críticas também são inevitáveis quando não se ganha - ponderou Oswaldo.
Cada um foi criado de uma maneira, mas a compreensão do futebol não depende de estilo. De terno, boné ou prancheta, no fim é tudo parecido. "
Oswaldo de Oliveira
- Ouço comentários sobre pulso, se exaltar mais ou menos, só que muitas vezes o grito na beira do campo não é nem ouvido pelo jogador. Temos os treinos, as preleções e o intervalo para corrigir. Quando é preciso, não me poupo. Mas, além disso, todos aqui são pais de família e adultos. A disciplina é inerente à conduta, dentro e fora de campo. Não preciso demonstrar que exijo. Só me manifesto e ajo se alguém sair da linha. Não exponho os jogadores à toa.
Até agora, a relação com os alvinegros é de muita cordialidade e aceitação do trabalho, que agarrou com unhas e dentes para reforçar sua imagem no país, já que suas últimas passagens, em Cruzeiro, Fluminense e Santos, não duraram muito. No momento em que a equipe atuou mal em dois empates seguidos na Taça Guanabara - Madureira e Nova Iguaçu -, foi parcialmente poupado dos protestos.
Condecorado pelos japoneses, o treinador não acredita que a resposta do sucesso no exterior seja que o estilo se encaixou com a cultura. Prefere valorizar sua trajetória no dia a dia.
- Passaram vários treinadores por lá que não tiveram êxito, de países e estilos diferentes. E muitos não ganharam. Assim como outros, que não se esperava tanto, e foram importantes para o crescimento do futebol no Japão.
Bom contador de histórias e de memória privilegiada, Oswaldo faz a lista dos exemplos que acompanhou quando era menino. E compara a carreira vitoriosa de nomes de escolas distintas.
- Flávio Costa, Fleitas Solich eram carrancudos, havia uma opinião geral favorável também por isso. Na ocasião, levava-se ainda mais consideração. Mas o Gentil Cardoso já era um cara de tiradas espirituosas, e nem por isso deixou de ser aceito ou fazer sucesso - lembrou.
'É bom conversar sobre tática'
Admirador do chefe, Loco Abreu deu sua opinião a respeito das influências externas.
- Quem foi campeão do mundo com o Corinthians foi ele, quem tem títulos brasileiros também é ele. Então não tem que se preocupar. É muito bom ter um treinador que te dá a chance de falar de tática, ser compreendido plenamente. O torcedor precisa se adaptar a receber esse conhecimento. Tem muitos com papo de boleiro que podem enrolar, enrolar e não falar nada. Agora, gente como Oswaldo, Tite, Dorival Júnior é importante para que se tire proveito - apontou o uruguaio, que teve desavenças públicas com Joel Santana sobre o modo de jogar do Botafogo.