Volante destaca primeiro treinador, que o forçou praticar variadas batidas na bola, e revela que, na Espanha, se tornou o jogador que queria ser
Serenidade, cabeça erguida, movimentação na vertical e raros erros. Essa costuma ser a rotina de Renato nos treinos e jogos do Botafogo. Aliás, desde o segundo ano de Sevilla, em 2006, ele revela que atingiu o patamar que gostaria, com a experiência e a compreensão tática adquirida por um futebol que logo seu estilo se adaptou. Não é surpresa, portanto, que o camisa 8 alvinegro lidere o quesito passes certos, seja referência em preleções e análises de outros jogadores e tenha se tornado o verdadeiro "motor" do time, decidindo quando cadenciar ou impor velocidade.
A bola rola com frequência pelo setor central do gramado, ocupado em quase 60% do tempo por Renato. Assim, a cada partida no Brasileiro do ano passado, em média 50 toques saíram de seus pés e jogadas de ataque nasciam. O índice de correção é de 87%, segundo números coletados pelo próprio clube, e se mantêm regulares nesta Taça Guanabara, assim como suas atuações. De acordo com o hoje volante, um dos responsáveis por isso é seu primeiro técnico na base.
Renato preza o controle e a posse de bola, além do acerto de passes (Foto: Ide Gomes / Agência Estado)
- Procuro olhar as estatísticas, sim, para melhorar mais. Desempenho uma função de confiança, que dá sustentação ao time. É um trabalho às vezes pouco visto, mas tenho tido reconhecimento. Aprendi muito com o Robertinho, no infantil do Guarani (que o revelou), que insistia para que nós repetíssemos as batidas com o peito do pé, a virada de jogo e as cobranças de falta. Assim, o meio-campista se aproximaria de ser completo - explicou Renato, que esbanja versatilidade.
- Comecei como meia (era chamado de Renatinho) e recuei, mas na Espanha cheguei a jogar até de segundo atacante. Há uma rigidez tática e, quando eles apontam uma nova função, você tem de cumprir e respeitar. Na minha segunda temporada lá, acho que amadureci e virei um jogador melhor. Entendi melhor o que parece simples, mas muitos não fazem: não é preciso estar em todas as partes do campo, guardar posição faz com que não haja tantos contra-ataques ou algum companheiro isolado do lado que você deixou. A menos que seja preciso ir numa cobertura, o campo deve ter 70 metros, e não 100. É a área de movimentação - ensinou.
Ao chegar no Alvinegro, Renato ainda processava a informação da pouca liberdade do futebol europeu, bem diferente do Brasil. Mas não demorou a se readaptar e encaixar com Marcelo Mattos uma das duplas mais consistentes que já formou. Hoje, apesar de estar perto dos 33 anos, tem fôlego para dividir a armação com Andrezinho, surgindo como elemento-surpresa. O que pode começar a resolver um de seus únicos números baixos: o de gols, já que tem somente um pelo Glorioso, apesar das nove assistências decisivas.
- Estou aparecendo mais nas assistências e voltando um pouco às origens, tendo a chance de atacar, sempre pelo lado direito, mantendo o conceito tático - frisa. - E é só saber dosar e se preparar fisicamente. Sempre vou me doar ao máximo, mas, se precisar ser substituído por cansaço (o que ainda não ocorreu em 2012), não tenho vergonha de pedir, não vou atrapalhar o time.
Se na infância só costumava ter Zico como ídolo, aos poucos, à medida que ganhou suas novas atribuições, passou a admirar também ex-jogadores de seu setor.
- Gostava do Mauro (Silva) pelo que ele fez na Seleção, a maneira centrada de agir, o bom posicionamento e o sucesso que teve na Espanha também, que pude repetir um pouco. Outro é o Giovanni, que na época de Santos, na década de 1990, tinha esse estilo de cabeça erguida e versatilidade que eu tento imprimir. Hoje é legal ver os jovens se espelhando em mim - cita.
Ao se despedir do Sevilla, Renato se emocionou.Foram quase 300 jogos e 39 gols (Foto: Agência EFE)
Campeão brasileiro com o Santos em 2002 - sem receber um cartão amarelo sequer ao longo de toda a competição -, Renato foi convocado no ano seguinte, com 24 anos. Mas Oswaldo de Oliveira, seu atual técnico no Botafogo, garante que já o admirava antes.
- É muito bom trabalhar com ele. Conheci o Renato jogando no Guarani, em 98, 99, e ele já era um grande jogador. Depois, evoluiu muito no Santos, e essa estada na Espanha coincidiu com o amadurecimento profissional. Hoje é um cara graduadíssimo, dinâmico, e não me espanta nada que ele continue acrescentando números na carreira dele. Mas não comparo. Renato é o Renato, ele têm características próprias, é um cara sóbrio, discreto, mas muito eficiente, muito querido no meu time - conta Oswaldo, sempre tratado de "professor" por seu pupilo.
Depois de Loco Abreu, o camisa 8 é o mais velho do elenco. E, para cada lado que olha, vê um jovem no time alvinegro, como Lucas e Elkeson, que também o enchem de elogios.
Renato e Loco Abreu são os mais experientes do
elenco (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com)
elenco (Foto: Thales Soares / Globoesporte.com)
- Sabemos que, quando a bola vai para ele, voltará com qualidade. É uma excelente pessoa, tem pouco problema de lesão. Sempre pergunto a ele qual o segredo (risos). Nós, mais novos, temos de nos espelhar nesses jogadores - admitiu o lateral-direito.
- Estou tendo a honra de jogar no mesmo meio de campo que ele, é um cara simples, humilde, que consegue conquistar as pessoas. Tem uma carreira maravilhosa. É um dos caras mais centrados do elenco, é referência mesmo - ressaltou o meia.
Ainda sem um título no currículo pelo clube carioca, Renato está sedento por erguer seu décimo primeiro troféu na carreira. Sem a "ansiedade" de 2011, acredita que "o grupo está mais preparado". O próximo desafio dele, eleito melhor segundo volante do último Brasileirão, é contra o Macaé, neste sábado, no Moacyrzão, para carimbar a vaga nas semis da Taça Guanabara.