Anderson Silva sobre luta contra japonês no UFC Rio: 'Será um Brasil x Argentina'
Carol Knoploch
SÃO PAULO - Anderson Silva, campeão dos médios do UFC, teve passagem tão relâmpago por São Paulo quanto sua luta com Vitor Belfort, quando derrubou o adversário em cerca de três minutos, com um único chute (
relembre aqui ). Aranha, como Anderson é chamado, aproveitou para conhecer a agência 9ine, do patrão Ronaldo Fenômeno, que funciona em uma casa ampla e estilosa, com ilustrações dos grafiteiros Os Gêmeos e mesa de sinuca. Ao GLOBO, contou que em duas ou três semanas começará a preparação pesada para a próxima luta, em 27 de agosto, na arena multiuso da Barra da Tijuca, contra o japonês Yushin Okami, o único a ter derrotado o brasileiro nos últimos seis anos. Ele não poupou críticas à parceria do rival com Chael Sonnen.
VÍDEO:
Um bate-papo com Anderson Silva
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Okami, que teve 12 vitórias e três derrotas, está treinando com Chael Sonnen, que o derrotou em outubro de 2009 e no ano passado foi batido por Anderson. O americano, que abusou da técnica de luta-livre para montar sobre o brasileiro e distribuir socos, tapas e cotoveladas, ganhou os quatro primeiros assaltos, mas foi finalizado no quinto com um triângulo. Nesse evento, Sonnen foi pego no antidoping e suspenso.
Contra Okami, em luta no Havaí em janeiro de 2006, Anderson, ainda meio-médio, foi desclassificado após chute não permitido. Desde então, o brasileiro venceu seus 14 combates.
Novamente Okami
"Para mim será normal. Uma grande oportunidade de lutar no Brasil e uma oportunidade para o Japão também, que vive fase de superação, por tudo o que aconteceu lá. Não encaro como revanche. Fui desclassificado por causa de um golpe ilegal. No meu currículo, consta como luta inválida. Para mim, foi uma vitória. Era a época da minha transição do Japão para os EUA. E no Japão podia..."
Desclassificação
"Estava acostumado com as reuniões de regra e naquela luta não teve. Cometi a penalidade e o Okami podia continuar a luta. Mas está na regra que, se tomou golpe ilegal, não precisa voltar. Usou bem a regra. Foi esperto."
Luta em casa
"Não sei dizer como vou encarar a luta. Só poderei dar esta impressão de ter a torcida a favor depois. Quando lutava aqui não era famoso, não era o melhor do mundo como dizem."
Pressão
"É preciso muita concentração para lidar com isso. O MMA envolveu os brasileiros, está na boca das pessoas. Muita gente me liga para falar que estará na minha luta, que quer me ver ao vivo. Uma emoção diferente. Estou encarando como um Brasil x Argentina. Não pela rivalidade, mas pela pressão. Sou treinado para não me sentir pressionado. Para pensar que será mais uma luta. Terei de treinar porque ele estará bem treinado, como os argentinos se viessem jogar aqui. Cada luta é uma disputa do cinturão. Como se eu não o tivesse. Também vou lá para conquistar o cinturão."
Preparação
"Já comecei os treinos de readaptação, para acordar o corpo. São movimentos de luta, mas sem intensidade. É mais recreação. Fiquei uns três meses sem treinar forte. O corpo precisa de um tempo. Mas continuei jogando minha bolinha, indo ao paint ball e me exercitando na boa. Em duas ou três semanas, pegarei mais pesado."
UFC Rio
"O Okami é um lutador completo. Tem uma boa técnica em pé e no chão, boa luta greco romana. É muito técnico e acho que nossa luta será dura. Ainda vou estudá-lo melhor, desde a expressão corporal até a forma como reage de um round para outro. Quem mover uma pedra errada poderá perder. Será uma disputa de inteligência."
Respeito aos adversários
"Não costumo ver as entrevistas dos meus adversários. Não gosto. Estou sabendo por você que ele disse que eu não vou ficar entediado e que eu intimido meus rivais. Meu trabalho é ir lá e lutar. Não fiz curso de oratória, nem faculdade de oratória. Quem fala demais depois leva tudo para o octógono. E isso tem um peso. Lá, é só você e ele, e tudo o que se falou antes vem à mente como se fosse um filme. Vou falar que vou meter a porrada neste cara? E se eu não o fizer?"
Okami & Chael Sonnen
"Você tem de procurar a melhor pessoa para te treinar. E acho que ele escolheu mal. Eu jamais me alinharia a um perdedor. Perdedor em todos os sentidos. Não ganhou a luta (contra Anderson, em outubro de 2010), foi pego no doping, está sendo processado por várias coisas (admitiu culpa em caso de lavagem de dinheiro nos EUA) e está suspenso do UFC. Quer ser campeão? Alie-se a pessoas de bem, vencedoras. Além do mais, Sonnen não foi adversário duro para mim. Eu estava machucado, com a costela trincada e lutei cinco rounds. Se não, a luta teria sido outra."
Estatísticas
"Na época, falou-se que o Sonnen me acertou mais do que a soma das minhas dez ou onze lutas (289 vezes contra 208 vezes). Acho até que foi isso mesmo. Mas em treino já apanhei muito mais. Ou seja, na prática, sem significado."
Ritual antes das lutas
"Gosto de jogar videogame e comer bastante. Mas não curto jogos de luta, sou muito ruim e acho que é violento (risos). Meu negócio são os joguinhos de futebol. O legal é pensar em outras coisas, desconectar da luta."
Mudança
"Da vitória sobre o Belfort para cá, mudou muito. As pessoas já estão vendo que o esporte não é violento, que somos preparados para aquilo. O público gosta e muito do MMA. Mas ainda temos muito a evoluir."
Patrão
"Ronaldo é mais novo do que eu, mas eu o considero um irmão mais velho... Tem uma vivência fantástica nesta área de divulgação, me passa muita experiência. É um cara rodado e simples, não imaginava que o Fenômeno fosse simples. Acho que ele é um líder nato. Era fã e agora sou amigo... Loucura!"
Futebol
"Minha frustração é não ter conseguido virar jogador de futebol. Aliás, acho que mandaria bem como lateral-direito... Estar no meio de Lucas, Neymar e Ganso (clientes da 9ine), considerados os melhores do Brasil, e ter um Fenômeno por trás, está compensando esta minha frustração. Espero poder ver o Ronaldo na despedida da seleção, no Pacaembu. Um jogo bacana e triste."