A hora da decisão
Rio escolhe neste domingo entre Paes e Gabeira aquele que vai assumir a prefeitura após 16 anos do grupo de Cesar Maia no poder
RIO - Ao ser conhecido nesta domingo o vencedor da eleição, encerra-se uma era de 16 anos de poder do grupo do prefeito Cesar Maia e abre-se um imenso desafio para o escolhido: administrar uma cidade de 6 milhões de habitantes com uma crise na saúde, um reprovado sistema de aprovação automática no ensino público, transporte desorganizado, desordem urbana e 750 favelas que não param de crescer.
RIO - Ao ser conhecido nesta domingo o vencedor da eleição, encerra-se uma era de 16 anos de poder do grupo do prefeito Cesar Maia e abre-se um imenso desafio para o escolhido: administrar uma cidade de 6 milhões de habitantes com uma crise na saúde, um reprovado sistema de aprovação automática no ensino público, transporte desorganizado, desordem urbana e 750 favelas que não param de crescer.
Os dois concorrentes ao cargo, Eduardo Paes (PMDB/PP/PTB/PSL), de 38 anos, e Fernando Gabeira (PV/PSDB/PPS), de 67, exibiram propostas semelhantes e estilos muito diferentes para resolver os problemas da cidade, durante 113 dias de campanha. Paes, que entrou tardiamente na disputa, apoiado pelo governador Sérgio Cabral, logo passou à dianteira. Já Gabeira, sem padrinhos no poder, ficou grande parte do primeiro turno em quarto lugar e surpreendeu ao chegar à segunda fase, ultrapassando Marcelo Crivella (PRB).
As diferenças começaram já no estilo de fazer campanha. Gabeira elegeu a internet como principal divulgador de sua candidatura e cumpriu a promessa de não espalhar cartazes nem sujar as ruas da cidade. Já o nome de Paes estava por todos os cantos, em placas, cartazes e imensos outdoors. (A campanha de Paes, em fotos)
Gabeira foi o primeiro a divulgar os nomes de seus doadores, com os valores recebidos. Paes depois também abriu as contas. (A campanha de Gabeira, em fotos) Um buscou partidos; outro, personalidades.
No segundo turno, Paes concentrou esforços na busca de alianças - conseguiu a adesão de um amplo arco de 11 partidos, do PCdoB de Jandira Feghali ao PP de Francisco Dornelles, passando pelo PRB de Marcelo Crivella. E, principalmente, empenhou-se em obter uma declaração de apoio do presidente Lula. Para isso, se dispôs até a pedir desculpas, por escrito, pelos ataques feitos ao presidente e a sua família durante as investigações do mensalão, quando era deputado pelo PSDB e integrou a CPI dos Correios. (Fotos da trajetória de vida de Paes)
Gabeira, sem as cúpulas dos partidos, teve de investir em nomes da sociedade e da política. Seu programa de TV contou com uma farta seleção musical, incluindo nomes como Caetano Veloso e Lulu Santos. Ganhou declarações de petistas, como a ex-ministra Marina Silva, à revelia do PT, que optou por Paes. (Fotos da trajetória de vida de Gabeira)
Foi uma campanha de sinais trocados. Gabeira, o ex-guerrilheiro, militante da ecologia, ficou longe dos partidos da esquerda tradicional, que aderiram à campanha de Paes, um egresso do PFL (hoje DEM) e do PSDB. E Paes, que começou a vida política pelas mãos de Cesar Maia, atacou o criador e tentou colar a imagem do prefeito ao adversário - que recebeu o apoio do DEM no segundo turno.
Gabeira, que foi alvejado - literalmente - pela ditadura militar, recebeu cumprimentos de generais. Paes, o candidato católico, foi cercado por evangélicos.
Gabeira também foi obrigado a pedir desculpas neste segundo turno. Ao chamar de "analfabeta política" com "visão suburbana" a vereadora tucana Lucinha, sua aliada, a mais votada da cidade, abriu o flanco para o adversário e produziu a maior polêmica da segunda fase.
Outra foi o debate sobre o uso da maconha pelos candidatos. Depois de admitir, num debate, que experimentara a droga, Paes tentou diminuir o impacto da declaração que o colocara no mesmo patamar do adversário - um antigo defensor, hoje com outra opinião, da descriminalização da maconha.
As últimas pesquisas mostram um eleitorado dividido e também com sinais invertidos. Paes é o preferido dos mais velhos, dos que têm menor renda e dos menos escolarizados. Gabeira é a opção dos mais jovens, mais escolarizados e com mais renda. A escolha é hoje, e o resultado deve ser conhecido antes das 20h. No segundo turno, corrida pelos votos da Zona Oeste.
Durante os 20 dias de campanha do segundo turno, Gabeira Paes caminharam muito, distribuíram beijos e abraços, suaram a camisa e falaram sem parar. Para conquistar os votos que podem ser decisivos neste domingo, cada um participou de mais de 35 eventos públicos, como encontros políticos, carreatas e debates organizados por jornais e redes de TV.
Os compromissos de agenda levaram Gabeira mais vezes às zonas Sul (39%) e Oeste (27%).
Paes, por sua vez, passou mais pelo Centro (36%) e pela Zona Norte (28%).
O resultado dessa caça aos eleitores demonstra quais foram as estratégias que cada um escolheu para falar e ser visto. Apesar de muitos atos não terem sido divulgados por Eduardo Paes, os compromissos de campanha conhecidos indicam que ele privilegiou os contatos políticos.
Dos 36 eventos do peemedebista neste segundo turno, 33% foram reservados a encontros, reuniões e atos de apoio à sua candidatura com lideranças partidárias. O esforço teve resultado. Paes conseguiu agregar 11 partidos, inclusive de adversários derrotados como Jandira Crivella, que na primeira fase da disputa o criticavam. Centro foi onde Paes mais esteve.
Gabeira concentrou sua atenção no corpo-a-corpo. Dos 41 eventos do candidato, 32% foram voltados para cumprimentar e conversar com eleitores. Os números reforçam o desejo do verde, que iniciou o segundo turno dizendo que procuraria o apoio dos eleitores e que não pretendia fazer das alianças uma soma de letras. Os encontros políticos de Gabeira, a maioria voltada para figuras públicas, e não partidos, representaram 22% das suas atividades.
Devido às reuniões com líderes de partidos, Paes teve pouco tempo para corpo-a-corpo - 19% de suas atividades. Como boa parte dos endereços de políticos e dirigentes partidários fica no Centro, foi lá onde ele mais esteve. As zonas Norte e Oeste, que concentram 80% do eleitorado, foram a segunda e a terceira áreas mais visitadas por Paes: 28% e 25%.
No caso da Zona Oeste, um detalhe: o candidato gravou programas eleitorais de TV na Barra, o que amplia o número de passagens suas pela região. Sem contar com esse compromisso, o peemedebista esteve mais vezes no Centro e Zona Norte.
As dificuldades do candidato do PV com o eleitorado da Zona Oeste direcionaram sua agenda para a região - foi a segunda maior das quatro regiões do Rio onde Gabeira mais esteve. Embora a Zona Sul tenha sido a mais visitada pelo verde, a maioria dos seus compromissos na região foi para gravar programas eleitorais na sua produtora, em Botafogo. Na Zona Norte e no Centro, Gabeira teve 17% dos seus atos de campanha. Sem somar os dias em que teve que gravar na Zona Sul, pode-se dizer que Gabeira passou a maior parte do tempo na Zona Oeste.
O confronto direto entre os dois candidatos foi o ponto forte no segundo turno. Ausentes na primeira fase da campanha, os debates entre Paes e Gabeira ocorreram oito vezes, o primeiro deles promovido pelo GLOBO, logo após o resultado das urnas, o último, na sexta-feira.
Como o peemedebista e o verde tiveram números diferentes de atos de campanha, o peso dos debates também é diferente. Para Gabeira, os debates representam 20% de seus compromissos; para Paes, 22%.