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Mister eleição, Montenegro tem prestígio à prova nesta terça, no Botafogo

Campeão brasileiro em 1995, ex-presidente domina política do clube há 20 anos

por Eduardo Zobaran





RIO - Quatro candidatos disputam nesta terça-feira, das 9h às 21h, a eleição à presidência do Botafogo. Não é exagero resumir o pleito a uma questão simples: definir o grau de influência do ex-presidente Carlos Augusto Montenegro na vida alvinegra pelos próximos três anos. Aos 60 de idade, grande benemérito do clube e presidente do Ibope, ele não tem tido dificuldade em dominar as campanhas eleitorais do Botafogo. Desde que levou o clube de volta a General Severiano e conquistou o título brasileiro de 1995, só uma vez não apoiou o candidato vencedor. Foi quando o clube elegeu Bebeto de Freitas pela primeira vez. Ainda assim, Montenegro faz a ressalva de que permaneceu afastado daquela campanha.

— Eu poderia estar na presidência do Botafogo há 15 anos. Não é vaidade, é um orgulho, porque sei o carinho que a torcida tem por mim — afirmou Montenegro, ontem, em evento com a presença de seu candidato, no Jockey Club, em que roubou os holofotes. — Não terei cargo. Tenho uma garotada, muitos dos quais amigos, meus filhos, amigos dos meu filhos, que estão doidos para ajudar.
Com 99% de risco de queda para a segunda divisão após a derrota de domingo para a Chapecoense, em Florianópolis (2 a 0), o time desembarcou nesta segunda-feira no Rio escoltado pela polícia. É nesse clima que ocorrem as eleições. O cenário é muito semelhante ao de 2002. Naquele ano, Bebeto também foi eleito com o time prestes a cair para a Série B. Hoje, os dois ex-presidentes estão juntos na Chapa Azul, de Thiago Cesario Alvim, favorita. A Chapa Ouro, de Carlos Eduardo Pereira, a Cinza, de Marcelo Guimarães, e a Alvinegra, de Vinícius Assumpção, correm por fora.


SEM JEFFERSON EM 2015
Um fator, no entanto, põe em xeque o favoritismo de Cesario Alvim, que chama Montenegro de “mentor”. O colégio eleitoral é de 1.795 sócios, e a abstenção deve ser alta. Como cada chapa conta com a assinatura de 140 candidatos ao Conselho Deliberativo, o que totaliza 560 eleitores comprometidos, um candidato pode ser eleito com menos de 500 votos. Isso pode gerar disputa apertada. Não é descartado que um candidato retire sua chapa de última hora para favorecer outro.


Parecem poucos votos para um clube com mais de 3 milhões de torcedores e dívidas entre R$ 700 milhões e R$ 800 milhões. Para Montenegro, é uma realidade:
— O Botafogo nunca teve uma torcida fiel de ir ao estádio. Para ir, precisa ganhar três, quatro, cinco partidas seguidas. Se perde três seguidas, é torcida mais de pay-per-view. Não adianta fazer campanha nenhuma, porque não vai conseguir mais sócios — criticou Montenegro, que não acredita na permanência de Jefferson em 2015.

Para eleger seu candidato, o ex-presidente acena com o apoio de milionários capazes de dar socorro financeiro imediato. Em troca, receberiam parte da cota de TV de 2016. O pagamento mais urgente são duas cotas de R$ 4,2 milhões do Refis, uma delas com vencimento na sexta-feira. Com ela, a chapa espera ser capaz de retornar ao Ato Trabalhista, escalonar o pagamento de dívidas e evitar penhoras.

Outra promessa é a valorização da base. Para isso, costurou acordo com o Corinthians, para intercâmbio de jogadores. Ele explica que esta pode ser a solução para formar o elenco em 2015. Outra parceria é com o grupo de investimento Sonda, que construiria um centro de treinamento, em troca de 30% dos direitos econômicos das promessas da base.
Quando fala de Maurício Assumpção, atual presidente, Montenegro dispara uma metralhadora de críticas. Embora destaque que não o conhecia antes de seu primeiro mandato, ele foi peça fundamental na ascensão política de Assumpção. Não é o único: todos os quatro candidatos estiveram em algum momento ao lado dele.

ELOGIOS E CRÍTICAS
Atualmente, o principal inimigo da Chapa Azul é Carlos Eduardo. Candidato da Ouro, ele foi procurado por Montenegro para formar uma candidatura única, mas não concordou com a divisão no número de indicações para o Conselho Deliberativo.

Perguntado sobre a influência de Montenegro, Carlos Eduardo, como Vinícius Assumpção e Marcelo Guimarães, primeiro, destaca o bom relacionamento com o cacique político. Em seguida, o critica:

— Ele insiste em conduzir o Botafogo, quando o clube é muito maior do que ele. Uma pessoa que se intitula presidente eterno não conhece a história do Botafogo — alfineta Carlos Eduardo.

Candidato da Chapa Alvinegra, Vinícius enxerga Montenegro como símbolo da falta de oxigenação política do clube:


— Ele tem esse poder porque o Botafogo é um clube de poucos, e talvez seja esse o motivo para eles evitarem aumentar o quadro de sócios e a democracia no clube. É o medo de perder o poder político.

Para Marcelo Guimarães, da Chapa Cinza, Montenegro está ultrapassado:


— Até ele sabe que a era dos salvadores da pátria já passou. Montenegro, individualmente, tem grande importância para o Botafogo, mas já há algum tempo deixou de ser a solução.