Em entrevista exclusiva, Maurício Assumpção também detona dirigente corintiano e exalta o Engenhão
Foto: Renan Rodrigues Ampliar
Assumpção respondeu críticas do dirigente do Corinthians, Luis Rosenberg
Em uma sala no subsolo de General Severiano, em meio aos troféus e conquistas importantes do Botafogo desde sua criação, o homem que esteve no comando do clube nos últimos dois anos e onze meses - e pretende estar nos próximos três anos -, recebeu o iG para uma entrevista exclusiva de pouco mais de uma hora e não fugiu das perguntas mais embaraçosas, fez um balanço do mandato e revelou os projetos de sua candidatura. O principal, a construção de dois CTs para base e time profissional.
Ao lado de quadros com imagens do show de Paul McCartney, realizado no Engenhão em maio deste ano, e fotografias ao lado do presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, Assumpção, como se pudesse prever o turbilhão que aconteceria pela frente naqueles dias, com a demissão do técnico Caio Júnior, Maurício Assumpção, presidente e candidato à reeleição no Botafogo não poupou dirigentes do Corinthians, 'Clube dos 13', a negociação de cotas dos direitos da TV e claro, a oposição botafoguense.
Sobre o assunto que talvez seja o mais delicado para o clube, as enormes dívidas, Assumpção nega que tenha aumentado o débito do clube em seu mandato, aponta uma mudança de filosofia na compra de atletas e sugere o renegociamento com o governo federal.
"O passivo que se diz que aumentou hoje é muito em função dos débitos que foram pagos e da compra dos direitos federativos de jogadores. E isso é uma questão de filosofia, também. Ai eu tenho que correr o risco. Não vou comprar porque depois, se eu não vender, eu fico com um problema? Ai o jogador deslancha vai para a Europa e é tudo do fundo de investimento? E agora não adianta chegar aqui com qualquer oferta achando que vai levar, porque não vai levar", disse.
Confira abaixo a entrevista completa com Maurício Assumpção:
iG: Por que tentar a reeleição no Botafogo? Qual o balanço dos três primeiros anos?
Maurício Assumpção: Primeiro porque acho que somos movidos por desafios. Existia um desafio inicial, de uma pessoa completamente desconhecida assumir a presidência do Botafogo, junto com outras pessoas não tão desconhecidas assim, mas que amam o Botafogo e pensavam em um projeto de 20 anos para o clube. Hoje, o desafio é diferente, é o desafio da continuidade, desse projeto que começou em 2009. Na minha opinião, os três anos próximos são mais difíceis que esses primeiros, pois temos que consolidar questões que deixamos com os alicerces prontos e dar passos um pouco maiores em relação a outras questões. Então, acho que a eleição é motivada pelo trabalho que a gente conseguiu realizar nos primeiros três anos e muito pelo desafio que teremos pela frente nos próximos três anos, dentro daquele projeto de botafoguenses que pensam o clube para os próximos 20 anos.
iG: O que foi mais difícil e o que mais surpreendeu durante sua gestão?
Maurício Assumpção: Vou dizer com toda sinceridade. Sou um cara que está sempre pensando positivo, sempre pensando para frente. Quando terminamos a apresentação do grupo para a disputa do Carioca de 2009, o primeiro time que a gente montou, eu disse que sabia que estaria na final, só não saberia contra quem estaria. As pessoas riram um pouco dessa declaração. Sentia que a gente tinha um grupo diferenciado, o próprio Ney Franco a frente daquele grupo. Então procuro ver muito mais o lado positivo que o negativo das coisas. Quando você aceita um desafio, tem que pensar de forma positiva, porque se pensar de forma negativa, o trabalho não sai. O que mais me surpreendeu ao longo desses três anos, principalmente no início do mandato, foi o número de botafoguenses que se juntaram no projeto do clube, a capacidade que tiveram para entender que a presença deles era fundamental para que as coisas dessem certo. Pessoas que estão comigo até hoje, me ajudado de forma absolutamente despretensiosa, sem cargos no Botafogo e que nem posso citar o nome em forma de agradecimento, porque eles não permitem. Acho que foi muito positivo, sem essas pessoas não teria conseguido, não teríamos conseguido a chegar no patamar que nós chegamos.
iG: Quais os principais projetos, os que terão prioridade caso você seja eleito?
Maurício Assumpção: Os dois CTs, do profissional e da base. Acho que isso é fundamental para um clube de futebol. Brigamos muito para ter a concessão do terreno de Marechal Hermes por 20 anos, renováveis por mais 20, e agora estamos concluindo a negociação com o exército pelo terreno ao lado. Estamos também em processo de negociação de um terreno para construção do CT do profissional. Concluímos que no estádio Olímpico João Havelange, mesmo que tenhamos espaço para construir alojamento, melhorar a sala de musculação que já existe lá, fisioterapia, que também já existe lá, não teríamos espaço para construir mais campos.
Ali no entorno não existe onde fazer, os terrenos estão todos negociados, e as áreas maiores que existem lá são tombadas, como aquela área da rede ferroviária, cheia de galpões. Aquilo é tombado, não podemos construir campo lá. A gente está em negociação para ter um ct do futebol. Ao mesmo tempo, tirando o time daqui de General Severiano, mas não necessariamente os campos, você dá possibilidade de ocupação de escolinhas, dos associados, muito maior do que até então. Imagina esse campo (de General Severiano), transformado em duas quadras de society com vestiários, dar a oportunidade de ele ter um horário para jogar durante a semana. Para nós, ter as sedes auto-sustentáveis não é mais o horizonte. Queremos que todas elas sejam superavitárias para que efetivamente o dinheiro do futebol fique no futebol.
iG: Na entrevista que concedeu ao iG, o candidato da oposição, Carlos Eduardo Pereira, apontou sua gestão como centralizadora. Como você vê essa crítica?
Maurício Assumpção: Eu vejo de uma forma diferente do que foi colocada por ele. Primeiro porque em três anos, eu jamais fui repreendido tanto pelo Conselho Deliberativo quanto pelo Conselho Fiscal do clube. Todos os documentos que foram pedidos, todos os encaminhamentos, todas as solicitações, necessidades de esclarecimentos. Tudo isso foi respondido, foi prestado. Tudo que tem que ser estatutariamente seguido, foi seguido. Em nenhum momento o estatuto do clube foi rasgado. Essa é uma questão. A outra questão, da falta de diálogo, é que durante quatro meses da minha gestão eu convivi com membros que hoje estão na oposição. O que quero deixar claro, é que não é que não tenho diálogo com a oposição, mas eu tenho direito de fazer uma opção com quem vou dialogar. Entendi que elas não falavam a mesma língua que eu falava, não tinham o mesmo pensamento sobre o clube que eu tinha e não queriam gerir o clube da mesma forma que eu e as pessoas que estavam comigo. Foi uma opção de diálogo, de filosofia. E hoje, olhando para trás depois de três anos, acho que fiz a opção certa.
iG: Muitos jogadores do Botafogo, principalmente em 2009, foram contratados com parcerias e fundos de investimento. O clube planeja mudar esse estilo?
Maurício Assumpção: Quando nós assumimos o Botafogo em 2009, montamos um time de futebol graças a duas pessoas. O Anderson Barros e o Ney Franco. Havia um descrédito em relação ao Botafogo e, mais que isso, havia um clima de desconfiança em relação ao presidente, pois ninguém sabia quem eu era. Tínhamos um orçamento reduzido e cumprimos esse orçamento no primeiro ano. Isso gerou um prejuízo em campo, quase caímos no Campeonato Brasileiro daquele ano. Ai entra uma questão que nem gosto de falar, mas naquele ano acho que fomos muito prejudicados pela arbitragem, mas isso é algo para outra conversa. Mas felizmente não estouramos o orçamento e não fomos rebaixados, e em 2010 conseguimos qualificar bem mais o time, tanto que fomos campeões cariocas e disputamos o Brasileirão muito bem, tendo chances de vaga na Libertadores até a última rodada. E esse ano a mesma coisa.
No início não tínhamos receita para absolutamente nada.
Criamos uma CPE (Companhia de Participações Esportivas), com um modelo parecido de um fundo de investimentos, mas próprio do Botafogo, por investidores alvinegros, com um modelo diferenciado para ajudar o clube. E isso foi fundamental naquele primeiro momento. E ao longo desses anos, tivemos a participação de alguns fundos que estão ai no mercado, de grandes empresas, grandes bancos, que têm esse modelo de investimento e parceria para trazer jogadores. Digo que a partir do próximo ano, vamos mudar um pouco isso, pois hoje temos ativos de receitas importantes que nós não tínhamos no clube até então. Temos participação integral no Jefferson, 50% dos direitos do Cortês, integral do Elkeson, do Maicosuel temos uma grande parte, apesar de ter dinheiro dos investidores. Vários nomes. Herrera é integral, Marcelo Mattos, Renato, Lucas. Todos esses jogadores são do Botafogo. Os meninos da base quase todos. A gente não tinha isso. A torcida lembra. O último jogador criado no Botafogo que conseguimos vender foi o Beto. Depois de três anos, conseguimos qualificar o elenco, e por sua vez o elenco deu a possibilidade de criar uma receita que o clube não tinha. Eles são patrimônio do clube agora.
iG: Um estudo da consultoria RBMF apontou que o Botafogo tem a maior dívida do futebol brasileiro. O que gerou essa situação e o que está sendo feito para saná-la?
Maurício Assumpção: Tivemos uma auditoria externa agora nas contas do clube e estamos para apresentar isso ao Conselho Fiscal. Ela prova que na verdade nós pagamos muitas dívidas antigas e que não houve aumento nenhum no passivo do clube. O passivo que se diz que aumentou hoje é muito em função dos débitos que foram pagos e da compra dos direitos federativos de jogadores. E isso é uma questão de filosofia, também. Ai eu tenho que correr o risco. Não vou comprar porque depois, se eu não vender, eu fico com um problema? Ai o jogador deslancha vai para a Europa e é tudo do fundo? A compra do Elkeson foi complicada. Proposta daqui, proposta dali. E agora não adianta chegar aqui com qualquer oferta achando que vai levar, porque não vai levar. É um patrimônio do clube. As pessoas dizem ‘o Maurício aumentou a dívida do clube’. Não aumentei a dívida do clube, eu criei ativos de receitas que até então não existiam.
Algumas dessas dívidas, como a Fiscal, por exemplo, que é da Timemania. Vamos ter que resolver, pois estão todos arrastando, empurrando com a barriga esse problema. Outro é com a justiça trabalhista. Temos um acordo com eles, a gente separa uma parte das nossas receitas exclusivamente para pagar a fila dos credores e o tribunal vai pagando as pessoas que estão na fila com o compromisso de não gerar mais processos trabalhistas novos. Estamos inclusive renegociando esse acordo e Flamengo, Fluminense e Vasco estão aguardando para também entrar nesse sistema. E temos as dívidas cíveis. Esse é penhora o tempo todo.
No meio do ano, os presidentes dos quatro clubes grandes do Rio estiveram com o ex-ministro Orlando Silva, fomos colocar para ele que a gente precisava ter uma solução para isso. Algumas tentativas foram feitas, mas foram infrutíferas e na nossa idéia é de que a gente fizesse uma renegociação dessas dívidas com o comprometimento de responsabilidade a partir do momento marca zero. Ou seja, se você não cumprisse o determinado, seu time poderia perder pontos, não poderia disputar competições, seria rebaixado de divisão. E ai, digo para você que isso é muito pior que a possibilidade de um presidente ter um bem particular seu bloqueado na justiça para pagar dívida de clube. Até porque as saídas jurídicas para isso são tantas, que ninguém até hoje perdeu nada. Agora, seu time ser rebaixado para a série B porque você não assumiu o compromisso, alguma revolta feia da sua torcida vai ter. Eu acho que é esse o caminho, mas não sei como isso vai se desenvolver agora com a troca de ministros, pois eu sei que isso era uma pauta que o Orlando Silva tinha com ele.
iG: O Engenhão foi arrendado pelo Botafogo em 2007, mas passou a dar lucro apenas nos últimos dois anos.
Recentemente, em uma entrevista, o diretor de marketing do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg, disse que o modelo do estádio era do século passado e não serviria como exemplo para a arena da equipe paulista. Como o senhor vê essa declaração?
Maurício Assumpção: Se o Rosenberg diz que meu estádio é um modelo do século passado e eu consigo arrecadar de receita o que consegui com ele, é sinal de que meu pessoal é bom pra caramba. Se ele quiser, a gente pode até negociar para esse pessoal trabalhar para eles. Outra coisa que eu digo para ele é que quando você tem maquete, a maquete aceita tudo, amigo. É igual brincar de playmobil, você faz o que você quiser. Eu liguei e disse isso para o Andrés Sanchez. O que eu quero dizer é que o estádio tem uma capacidade de gerar negócios e receitas muito grandes, mas é preciso capacidade para isso. Em algumas, o Botafogo se sente capacitado e gabaritado para fazer, como por exemplo, gestão de futebol. Mas em outras a gente não se sentia capaz para isso. O que fizemos? Trouxemos parceiros do mercado. Por exemplo, não tínhamos experiência em comercialização de camarotes. A Golden Goal comercializava os camarotes do Maracanã. Chamamos a empresa e fizemos o primeiro leilão eletrônico de camarotes no Brasil. O espaço que valia ‘x’ no começo de 2009, hoje vale três vezes x.
Também estamos desenvolvendo espaços corporativos para o estádio. Bolsões, como se fossem pequenas alas Vips para empresas. Independente do tipo de espetáculo, você sempre terá público lá, porque empresas farão promoções, dando ingressos para seus clientes. Além disso, temos uma universidade lá dentro, que a partir do próximo semestre colocará mais ou menos 4,5 mil alunos por dia dentro do estádio, funcionando independente do espetáculo de futebol, o que é uma coisa fora de série. Estacionamento nós terceirizamos. Comercializações de placas, circuito de publicidade e praça de alimentação, terceirizamos também. Hoje temos oito empresas trabalhando com alimentação no estádio. E eventos, desde pequenos, como a prova dos cadetes da Marinha, na semana passada, até o evento do Paul McCartney.
Foto: Renan Rodrigues
Maurício Assumpção coloca a construção de um CT para o time profissional e outro para a base da candidatura
iG: Com o grande número de partidas, os shows não atrapalharam mais o gramado do Engenhão?
Maurício Assumpção: O Show é um conteúdo importante. Pode não ser quando você tem 100, 110 jogos por ano, como estamos tendo agora, o que acaba virando até um problema, mas é preciso que o estádio seja conhecido como uma arena que tenha capacidade de fazer grandes shows. Quando o Maracanã for aberto, eu vou concorrer com ele por esse espaço. Eu preciso ser uma alternativa ao Maracanã.
O estádio tem problema de localização? Não digo que é de localização, acho que é um problema de acesso, de entorno. Só que estou vendo um monte de estádios serem construídos ai, inclusive para a Copa do Mundo de 2014, com problemas parecidos com do João Havelange, de acesso, o que é um risco. Mas graças a Deus a gente tem um entendimento muito grande da prefeitura para melhorar isso tudo. Então estamos conseguindo um grande progresso, já tivemos algumas reuniões, estamos fazendo um esforço interno de aumentar uma área dentro do estádio para criar mais 800 vagas para carros, o que também é importante.
Tenho o estádio que é o mais moderno da América Latina, queiram os concorrentes ou não, que tem alguns problemas de acessibilidade, que estão sendo contornados, mas a estrutura do estádio é ótima. A equipe do Paul McCartney nos deu uma carta declarando que de todos os estádios que o Paul tinha feito a turnê dele, o João Havelange foi o melhor em estrutura interna de operação para eles. Então isso não é obsoleto, do século passado, muito pelo contrário.
iG: As criticas em relação ao patrocínio vermelho e branco da Brahma no Engenhão foram injustas ou o clube poderia ter encontrado outra maneira de fechar o acordo?
Maurício Assumpção: Lembro que naquela época dei a seguinte resposta para a torcida. Existem duas maneiras de encarar isso. Primeiro, lotem o estádio que ninguém conseguirá ver a cor de cadeira nenhuma. Segundo, vocês preferem um time forte e uma cadeira vermelha e branca, ou uma cadeira azul e uma mais ou menos? A questão é que o patrocínio, que segundo a própria Ambev é o de maior volume financeiro feito com um clube brasileiro até o momento, é uma referência hoje. Outro dia li que o Corinthians não conseguiu fechar acordo para vender os naming rights à Petrobrás. Sabe por quê? Porque não é fácil. Culturalmente falando não temos isso. No dia seguinte que saiu o estádio, a imprensa toda estava falando ‘o Fielzão’. Agora é o ‘Itaquerão’. O Andrés Sanchez só chama de ‘o estádio do Corinthians’. Eu só falo ‘o estádio João Havelange’, mas vocês só chamam de Engenhão. Como é que eu vendo isso?
Onde temos apresentado o projeto de naming rights, as pessoas ficam surpresas com a capacidade de entrega do Botafogo. Entrega de espaço, possibilidade de colocar o seu produto, de ativação do seu produto. É isso que ele quer. Não só colocar uma placa em cima do estádio, com o nome da empresa para ficar abandonado. Mas é difícil, tanto é difícil que todas as sedes ai pelo Brasil a fora, estão no mesmo processo. E você não tem tantas empresas assim com possibilidade, com recursos e fôlego financeiro para fechar um patrocínio nesse valor. Você tem que ter diferença da sua concorrência. Eu, por exemplo, sou o estádio Olímpico de 2016. Quem anunciar no meu estádio poderá dizer isso. Só eu tenho isso, mais ninguém.
Foto: Renan Rodrigues Ampliar
Paulo Mendes, Túlio Maravilha e Maurício Assumpção no lançamento da chapa 'Botafogo Total'
iG: Qual valor mínimo com que o Botafogo trabalha a questão dos naming rights?
Maurício Assumpção: Eu não posso falar em valor, até pelo seguinte. Tem que basear isso no tipo de produto que você pode oferecer. Onde ele terá exposição de marketing e começar a calcular em cima disso. Também tem que saber qual a capacidade de você colocar público lá dentro e por fim, a capacidade da mídia falar aquele negócio. Nosso projeto é diferenciado por causa disso. A gente tem uma atuação na mídia muito forte, temos esse conteúdo importante para quem trabalha, patrocina e faz ativação no esporte, que é o fato de termos o palco das Olimpíadas de 2016.
iG: A tendência para os próximos anos é de que os clubes negociem individualmente os direitos de transmissão da TV?
Maurício Assumpção: Eu te digo sinceramente que não sei. Foi naquele momento, e para o Botafogo foi altamente interessante, pois a gente não sairia daquele patamar. E para vários clubes foi muito interessante. O que a gente tem que entender, e eu era contra o modelo do ‘Clube dos 13’, é que era um modelo viciado. Precisávamos romper um pouco com aquilo. Eu acredito muito que havia uma acomodação. Vejo como modelo ideal atualmente, que uma empresa represente os clubes. E que essa empresa tenha um mandato, por exemplo, de dois anos. Alcançou a meta? Ok. Não alcançou? Faz uma licitação e deixa outra empresa trabalhar. Tínhamos um produto que reunia os 20 clubes da série A e não foi desenvolvido nenhum produto, nenhum. Parece mentira.
Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco têm conversado embrionariamente sobre um projeto dos quatro grandes do Rio, talvez até para o ano que vem já tenhamos novidades sobre isso, mas a gente segue essa linha de que ter uma empresa que nos represente. O problema é a falta de tempo. Eu tenho meus problemas, eles os deles, tentamos conversar por e-mail, telefone, mas talvez essa seja uma ideia interessante para os clubes desenvolverem.
iG: Isso não pode aumentar o abismo entre as equipes e tornar o Campeonato Brasileiro próximo do que é o Espanhol?
Maurício Assumpção: Você acha mesmo que o Campeonato Brasileiro pode virar uma Espanha? Quantos clubes estão brigando pelo titulo faltando quatro jogos para o final. E o modelo era muito pior, porque a divisão do bolo era muito pior do que ficou agora. O problema é que a divisão é feita porque existem duas torcidas com 30 e poucos milhões e outras com menos da metade disso. É uma diferença grande. Como eu brigo? Eu tenho uma torcida diferenciada em determinados segmentos. Tenho que fazer com que naquele segmento, minha torcida dê cada vez mais respaldo para tirar mais da televisão. E como faço isso? Qualificando meu time. E ai é a capacidade de gestão, cada um tem que saber fazer o seu,não tem jeito. Agregando outros valores, por exemplo, eu tenho um estádio. Quantos clubes têm no Brasil? Não são todos. Então tenho que tirar dinheiro dele, trazendo outros clubes para jogar aqui. Preciso criar espaços para comercializar patrocínios para todo mundo. Adoraria ter o estádio todo pintado de preto e branco? Adoraria. Mas minha realidade comercial hoje é diferente. Com dinheiro vou qualificar mais meu time, vencer mais títulos, aumentar mais minha torcida. Mas você acha que em três anos se faz isso? Em seis anos? Isso é projeto para 20 anos.
iG: Como o Botafogo vê seu programa de sócio-torcedor. Apesar do aumento, os números são bem menores que de outras equipes do futebol brasileiro.
Maurício Assumpção: Ele é um calo para todos os clubes grandes do Rio de Janeiro atualmente. E sempre se fala o seguinte: ‘o Internacional tem 100 mil sócios. O Grêmio está quase lá também’. Mas porque eles brigam entre eles e a maioria da torcida deles está lá dentro, se concentra no estado do Rio Grande do Sul. Eu tenho de 45% a 50% da minha torcida fora do Rio de Janeiro. Não é um pouco diferente, é muito diferente. Então, nesses três anos, entendemos que a gente tem que oferecer um produto diferenciado ao nosso sócio-torcedor. Ele não pode ser só sócio-torcedor, tem que ser mais que isso. Ao dar a ele o título, ele tem que ser um ‘cliente-torcedor’, entender que ter aquele cartão significará ter muito mais vantagens do que simplesmente ter seu lugar assegurado para ir ao estádio.
iG: Quais os projetos para esportes Olímpicos?
Maurício Assumpção: Além do estádio João Havelange, que vai dar visibilidade nas Olimpíadas de 2016, a reforma do Mourisco Mar (Parque Aquático do Clube) e do Sacopã (Remo) vai dar a oportunidade que alguns países utilizem esses equipamentos para treinar e preparar seus atletas. Nosso planejamento inicial, quando chegamos, é de que a gente precisava qualificar tecnicamente nossos esportes olímpicos. Professores de alto nível nós já tínhamos, mas agora temos melhor possibilidade de estrutura de equipamentos.
No Remo, fizemos reformas dos barcos, do tanque de treinamento, do deck. Mas ai dizem ‘o Botafogo não tem uma equipe adulta no basquete, no vôlei. Isso é um absurdo’. Realmente, é um absurdo, mas você sabe quanto custa manter isso por mês? Vou montar uma equipe dessa parar disputar sabe o que? Uma Superliga, uma NBB que dura três meses. Vou pagar 12 para passar três meses na televisão. Sabe quantos times da Superliga disputam os torneios de base que nós vencemos? Nenhum. Mas nós formamos atletas. O problema é que uma hora esse atleta vai embora porque não tem o time de cima.
Sabe quanto custa manter uma equipe de ponta dessa? R$ 200 mil por mês. Como eu faço sem patrocínio? Ai vão dizer que é fácil conseguir patrocinador, mas não é. Porque o veículo que mostra o torneio, não mostra o nome do patrocinador. Fala o nome do Botafogo. Então o cara prefere fazer um time com o nome só do patrocinador, para ver se aí fala o nome dele. Mas não fala. O que é um erro. O que dá mais audiência? Botafogo e Flamengo no vôlei ou a empresa W contra a empresa X?
Esse modelo é um modelo que a gente tem que sentar para conversar. Em essência, nós somos formadores, mas mesmo assim nós temos equipes fortíssimas no Remo, no Pólo Aquático e tínhamos na natação. Agora estamos voltando a ter, depois da reforma do Mourisco Mar, quando os atletas tiveram que procurar outro clube para treinar.
iG: A atitude do Roberto Dinamite, de tentar levar a partida para São Januário mesmo com o acordo entre os clubes no começo do ano, irritou?
Maurício Assumpção: Não, jamais. Foi normal. Conversei com ele esses dias. Ele veio me perguntar se eu tinha ficado triste com aquilo e disse que não. Acho que ele está no direto dele, brigando pelo direto do Vasco. A única coisa que disse foi que se fosse para jogar lá, teriam que ser nas mesmas condições que eles jogaram aqui. É só conversar. O que é conversado do não é caro.
iG: O Botafogo jogará a última partida, contra o Fluminense, no Engenhão?
Maurício Assumpção: Se o Botafogo estiver disputando a Libertadores ou título, não tenha a menor dúvida. Acho pouco provável que já esteja decidido. A outra pergunta, onde será Vasco x Flamengo, não sei te responder. Graças a Deus não sou eu o responsável por responder essa pergunta. A conversa é entre Flamengo, Vasco, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro e a CBF.
iG: O investimento em um CT da base também busca criar valores para vender futuramente, equilibrando o caixa do time?
Maurício Assumpção: Acho que isso é conseqüência, não é prioridade. O principal na divisão de base é criar talento, criar jogador com a cara do Botafogo, com a escola de futebol do Botafogo. Isso demora cinco, seis anos de trabalho. Não é de um dia para o outro. A filosofia do futebol profissional do Botafogo, quando da construção do novo CT é de ter uma escola, os jogadores vão jogar dentro de um padrão, uma filosofia de jogo. Isso que é fundamental
Entre para a Torcida Virtual do Botafogo e comente a entrevista de Maurício Assumpção