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Eleições: Pereira critica 'vexames' e afirma que Assumpção se isolou

Candidato da chapa 'Mais Botafogo', Carlos Eduardo Pereira ainda critica o aumento da dívida e promete construir CT integrando base e profissional

Por Thiago Fernandes Rio de Janeiro
 
Nesta sexta-feira, das 9h às 21h, o Botafogo elege na sede de General Severiano o seu presidente para o próximo triênio (2012, 2013, 2014). Candidato da oposição contra o atual mandatário Maurício Assumpção, Carlos Eduardo Pereira tem 53 anos e é empresário do ramo imobiliário. Membro do Conselho Deliberativo do Botafogo, foi escolhido para encabeçar a chapa Mais Botafogo por já ter mais de 30 anos de convivência no clube. Em 1995, ele era vice-presidente geral quando o time foi campeão brasileiro.

Carlos recebeu o GLOBOESPORTE.COM em seu escritório, em um shopping da Zona Sul do Rio de Janeiro. De sua sala, consegue ver toda a extensão da Sede de General Severiano de cima. E é com essa proximidade que promete comandar o clube.

Candidatos á presidência do Botafogo - Carlos Eduardo Pereira (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)Carlos Eduardo Pereira: sala com vista para General Severiano (Foto: Thiago Fernandes/Globoesporte.com)
 
Confira a entrevista completa:

Por que se candidatar à eleição?
Num primeiro momento, o grupo “Mais Botafogo” optou por concorrer e, por razões pessoais, outros candidatos não puderam seguir na campanha. Falei com a minha mulher para ter autorização doméstica e aceitei a proposta. Aceitei porque vi que tinha muitas coisas em comum com o grupo, embora não fosse membro. Gostei muito das propostas, bate muito pelo que eu vejo.

Sendo candidato de oposição, o que acha que precisa ser melhorado no clube?
A principal diferença é administrar o clube dentro de um princípio de um planejamento estratégico por dez anos, com transparência. Quero mudar o comportamento com sócios, que têm que ter balanços disponíveis na internet, com tudo documentado. O Mauricio, com o tempo, se isolou. A gente o apoiou. O que a gente sempre pediu é que os grandes temas fossem debatidos pelo Conselho, independentemente de o estatuto obrigar a isso ou não. Temas como a questão dos direitos de transmissão da televisão, que passou da terceira faixa para a última faixa entre os grandes. Nada disso foi debatido. Ficou tudo por conta dele e da equipe dele. Tem que se ouvir o Conselho Fiscal, o Deliberativo. Hoje a gente não sabe quanto o Botafogo pediu emprestado. Só sabemos que o Botafogo assumiu a liderança de dívida dos clubes brasileiros. Outro ponto importante é a construção de nosso centro de treinamento. Estamos há nove anos esperando negociação para isso. Até agora, nada. O Botafogo não pode ficar a reboque disso. Tem que ter um terreno de pelo menos 100 mil metros quadrados.

No lançamento de sua chapa, houve muitas críticas à atual gestão. O que teria feito diferente?
Foi uma gestão de oportunidades perdidas. Se o Maurício tivesse aberto o clube, a gente poderia ter ajudado junto. O time teve algumas contratações muito importantes, como o Abreu, pela referência que se tornou aos nossos garotos, e o Renato. Se tivesse juntado isso a um controle de custos e a um planejamento, estaria chegando ao final de uma gestão de uma maneira muito melhor do que agora. Agora, está entrando água no barco. Aquela imagem de marketing, de grande eficiência, grande profissionalismo, está acabando. O Caio Júnior foi demonizado agora, mas ele foi o mesmo sempre. Fez no Botafogo o que fez nos outros clubes. Acho que foi demitido pelo momento eleitoral. O futebol correu muito frouxo, sem que a diretoria pudesse detectar os primeiros momentos de queda de rendimento do clube.O técnico que eu preferia era o Marcelo Oliveira, que acabou de renovar com o Coritiba.
 
Um ex-atleta do Botafogo, que sabe o que é vestir a camisa do Botafogo e que também vestiu a camisa da Seleção"
 
Sobre a preferência para técnico do time
 
O que, no seu entender, faltou ao futebol nos últimos anos?
O que a gente teve foi o Carioca de 2010. Foi a única conquista. Na Copa do Brasil e na Sul-Americana, fomos submetidos a um vexame. Levamos um olé de uma equipe desconhecida (a colombiana Santa Fé). No jogo em casa, escalamos uma equipe reserva, uma coisa que ninguém faz. No Carioca, tivemos um desempenho muito fraco. No Brasileiro, estávamos indo muito bem, mas agora estamos correndo risco de nem ir para a Libertadores. Foi um desempenho abaixo das expectativas. Internamente, surgiram comentários de que haveria problema de atraso de salário, mas a gente não sabe até que ponto isso é fato. As informações não circulam. O Loco disse que o problema não era da diretoria, mas era dos jogadores. Acho que os dirigentes estão muito distantes. O (cargo de) vice de futebol é muito importante, e vejo o André (Silva) muito afastado. Ele é o camisa 10 que liga a diretoria e o plantel. Acho que ficaram meio órfãos. É um plantel de qualidade.

O que pretende fazer para o futebol nos próximos anos?
Tem que se mirar no exemplo do Botafogo dos anos 60, em que a gente tinha uma espinha dorsal formada por jogadores de qualidade. Tem que reforçar a equipe durante o Carioca. Torço para que a gente tenha chance de participar da Libertadores. Espero que os jogadores façam esse esforço. Não pode acontecer o que aconteceu neste Brasileiro, de ficar um mês de férias e ficarmos esperando jogadores comprometidos que não vieram (refere-se a Gilberto, então no Cruzeiro, e Andrezinho, do Inter). Foi-se reforçando a equipe às pressas durante o campeonato. E entender que contratações pode fazer. Não sei que recursos vamos ter. A base é boa. Vai depender do técnico que contratarmos também.

Por falar em técnico, já teria um nome? E no departamento de futebol, o gerente de futebol Anderson Barros seria convidado a continuar?
Provavelmente, o Anderson não vai seguir. Quanto ao vice de futebol, fizemos um convite ao Antônio Carlos Azeredo, que é grande benemérito. Ele é um dos maiores batalhadores do Conselho Deliberativo. A expectativa é que possa marcar o reencontro com os dias gloriosos do Botafogo. Tem que ter uma pessoa com muita capacidade, com um perfil parecido com o Rodrigo Caetano, do Vasco. Ele teve um calendário parecido com o Botafogo, e os resultados foram melhores. A competência, infelizmente, estava lá e não do lado do Botafogo. O técnico que eu preferia era o Marcelo Oliveira, que acabou de renovar com o Coritiba. Um ex-atleta do Botafogo, que sabe o que é vestir a camisa do Botafogo e que também vestiu a camisa da Seleção. Ele se mostrou um profissional competente e equilibrado.

Candidatos á presidência do Botafogo - Carlos Eduardo Pereira (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com) 
Carlos E. Pereira quer CT integrado no Botafogo
(Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
Já há um planejamento para contratações?
Vai depender do que encontrarmos lá em relação aos adiantamentos que já tenham sido sacados do próximo ano. Tem que pensar nas renovações e ver o que a gente consegue. O novo técnico vai indicar as posições carentes. O futebol brasileiro carece de um camisa 10, mas é difícil contratar.

O Botafogo tem apostado no mercado sul-americano. Tem o Loco e o Herrera no elenco agora e, no início do ano, trouxe o Arévalo. Pretende seguir essa linha?
Teve também o Escalada, o Zarate... É um mercado interessante porque o Botafogo teve nos anos 70 o Fisher, que veio da Argentina e era um grande atacante. O Botafogo tem facilidade de se ligar com os portenhos. Hoje, por exemplo, tem o Herrera, que se entrega muito. Isso faz a diferença para o torcedor. O portenho sabe o que é uma estatística, uma rivalidade. Mas não vamos nos lançar em aventuras por DVD.

O que pretende fazer para melhorar a base?
Tem que integrar com o profissional. Ter um sistema único para todas as categorias. Nosso projeto é ter um centro de treinamento que una o profissional e a base. E, por isso, não pode ser em Marechal Hermes. Temos que procurar outro terreno. No Rio, há opções na Zona Oeste e na Baixada.

O que seria feito então com Marechal Hermes?
Marechal Hermes tem duas possibilidades. Podemos colocar como ponto de captação de sócios, oferecendo lazer, e também podemos fazer peneiras para tentar trazer talentos. Queremos contratar observadores técnicos. Aqui no Rio, tem observadores do Cruzeiro, do Santos... Eles vêm buscar os talentos. Temos que olhar os garotos na faixa de 13 anos, enquanto ainda pode investir até para fazer preparação adequada. Tem que dar saúde, educação. Tem como captar recursos com empresas e aliar futebol com a questão de educação. Até porque nem todos serão jogadores.

Você falou de um centro de treinamento integrado. Como pretende tornar isso realidade?
A gente já tem um estudo que mostra o que é necessário para se ter um centro de treinamento de excelência. Eu não vou para a Europa passear às custas do Botafogo com essa desculpa (refere-se às visitas que o presidente Maurício Assumpção fez aos estádios de Real Madrid e Barcelona). A gente já tem o mapeamento dos centros de treinamento de todos os clubes europeus. Desse levantamento, chegamos ao número de 100 mil metros quadrados, com dez campos. Queremos montar primeiro a estrutura básica e aos poucos ir melhorando. Tem que ser uma área que tenha facilidade de acesso. É um trabalho a longo prazo. A cidade cresce na Zona Oeste e tem municípios da Baixada onde há grandes extensões de terra podendo ser usadas.

Nosso projeto é ter um centro de treinamento que una o profissional e a base. E, por isso, não pode ser em Marechal Hermes. Temos que procurar outro terreno"
 
Sobre a construção de um CT
 
Em relação a patrimônio, o que precisa ser melhorado?
Tem que resolver a questão do Caio Martins, que a gente não sabe se foi devolvido ou não. O Caio Martins tem uma posição privilegiada. É um desafio para nós, mas que eu estou pronto para enfrentar. Chamei o Álvaro Antunes, que é de Niterói e conhece aquela área como ninguém. O local pode receber shows e eventos. Se o governo ceder, podemos assumir a piscina e o todo o complexo. Pensamos também em reativar o Caio Martins para receber jogos de pequeno porte, especialmente do Carioca. Até para tirar jogos do Engenhão. Com shows e jogos em Caio Martins, vai evitar o caso do Justin Bieber, que afetou o gramado, fez o clube sair do Engenhão, ir para São Januário e perder dois pontos para o Bahia. Fora isso, um dos primeiros pontos é visualizar o que podemos melhorar nas nossas sedes. Com o CT, o campo de General Severiano vai a debate. Perde um pouco o sentido ter um campo desse tamanho se a gente pode dar um destino mais voltado para o sócio. Tem também as áreas na quadra do Engenhão, que estão abandonadas. Vamos pleitear isso aí, para dar suporte à equipe de futebol. Temos que usar o Engenhão o máximo possível.

Quanto ao Engenhão, o que pretende fazer para aproveitá-lo melhor?
Ele tem um custo fixo muito alto. Gira em torno de 500, 600 mil reais por mês. O que precisa fazer com o Engenhão é facilitar o acesso do torcedor. O sócio do Botafogo é tratado como torcedor comum. Tem que ter local para ele, estacionamento para ele. Se tiver que cruzar com a torcida rival, é um fator de risco em um clássico de duas torcidas. Temos que negociar com a Prefeitura para que tenha linhas especiais ligando a Zona Sul e a Zona Norte ao Engenhão. Mas linhas com hora, ar-condicionado. Estimular que as pessoas deixem o carro em casa. Temos que olhar o Engenhão como equipamento sistêmico, uma vez que as vias no entorno são modestas. E esperar que até 2016 a Prefeitura faça algumas melhorias nesse entorno.

O que fazer para resolver o problema de excesso de jogos no Engenhão?
Quanto à questão dos jogos, a gente pegou um momento muito complicado. Em 2013, com a Copa das Confederações, o Maracanã já estará de volta. Falta ao Rio ter estádios alternativos. Abrir um estádio de 40 mil para receber 4 ou 5 mil pessoas é um prejuízo enorme. Com certeza é uma operação deficitária. No Carioca, tem 16 clubes com um clássico só em cada grupo. Pouca lucratividade. No Brasileiro, ficaram três equipes jogando no Engenhão. A tabela tem que ser estudada. Para 2012, não tem muita coisa que se possa fazer, não.

Durante todo o processo eleitoral, a oposição sempre bateu forte no contrato com a Pepira, que administra o Engenhão. Por quê?
Pessoalmente, não sou um grande crítico do contrato. A ideia é boa. As pessoas da Pepira são muito corretas. O que falta do lado do Botafogo é uma postura mais clara de suas expectativas. Quando você contrata, tem que saber o que vai pedir. Faltou essa mediação. Ajustar com eles. O contrato está em vigor e vamos respeitá-lo. Não cogitamos rompimento do contrato.

Outra questão que sempre foi falada é a dívida do clube, que, segundo o site futebolfinance.com, gira em torno de R$ 378 milhões. O que fazer para, pelo menos, tentar amenizar isso?
Não vai conseguir resolver em três anos. Mas dá para gerenciar essa dívida. Mas tem três partes importantes. Uma é a questão com os poderes públicos. Um pedaço é abrangido pela Timemania. Tem que fazer um levantamento para saber se o clube deve isso tudo. O Bebeto de Freitas e o Mauro Ney Palmeiro não tiveram as contas aprovadas e, por isso, há muitos juros aí. O segundo está resolvido com o acordo com o TRT, que afastou as penhoras, mas tem que seguir pagando o controle. O terceiro é tentar atuar com responsabilidade de não gastar mais do que arrecada, por isso a preocupação com o que foi adiantado. Nenhuma empresa consegue viver no cheque especial.
O que precisa fazer com o Engenhão é facilitar o acesso do torcedor. O sócio do Botafogo é tratado como torcedor comum. Tem que ter local para ele, estacionamento para ele"
 
Sobre o estádio alvinegro
 
Em relação aos esportes olímpicos, quais são suas propostas?
Apoiar as iniciativas que hoje já existem. O polo aquático e o remo têm bons trabalhos realizados. O vôlei está realizando um projeto com chance de o Carlão vir. Queremos voltar a fazer um caminho para o Botafogo disputar o campeonato nacional de basquete, o NBB. O Botafogo surgiu de um jogo de basquete. Queremos muito ver o Botafogo disputando o NBB em um nível bom. Temos as piscinas em boa situação e queremos aproveitar isso. Pretendemos buscar parcerias para os esportes olímpicos. Isso vai ser importante.

A sede do Mourisco acabou de ser reformada e está em bom estado. Como pretende usá-la? As equipes de natação terão mais espaço?
Existe a possibilidade de trazer competições internacionais para lá, pelo que o presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes, falou. A sede tem um visual maravilhoso. Tem uma simbologia forte. Está entre o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Tem ainda o alinhamento da baía que a gente quer seguir até a sede para poder estudar uma marina.

Em relação à estrutura dos esportes olímpicos, quais os projetos?
Queremos fazer a recuperação do ginásio. Parte da natação e do polo pode continuar em General Severiano com algumas melhorias. O remo continuará na sede do Sacopã, que servirá também para os sócios. A gente quer um espaço de convivência para aquela quantidade imensa de sócios que visitam ali. Tem uma área de apoio boa lá.

Por fim: o projeto gol mil do Túlio Maravilha está em seus planos?
Está, claro. Eu fiz questão de ir visitá-lo, independentemente de quem ele apoie. O Túlio foi trazido na gestão de que eu participei. Eu estava com o Carlos Augusto (Montenegro) quando ele me foi apresentado. O Túlio estava ligado a um clube suíço, e eu e o Luis Henrique resolvemos contratá-lo. Sem dúvida alguma, foi uma das grandes contratações do clube nos últimos anos. Fui levar um abraço a ele. Entendo a ligação do Túlio com o Mauricio, que é uma ligação até partidária. Aliás, isso é uma coisa que não farei. Meu compromisso é servir ao Botafogo e mais nada. Fui dizer a ele que o projeto dos mil gols é do Botafogo, independentemente da ligação política. O ex-atleta tem que ser apoiado pela instituição, independentemente da corrente política. Por isso, não gosto de trazê-los para campanha política. Isso contamina. O ídolo está acima das disputas políticas .