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Eleições: Maurício exalta a base e diz que faltou 'grande título' em cima

Candidato à reeleição, atual presidente do Botafogo destaca as melhorias
para os sócios e afirma que as dívidas do clube estão sob controle

Por Thiago Fernandes Rio de Janeiro
 
Nesta sexta-feira, das 9h às 21h, o Botafogo elege na sede de General Severiano o seu presidente para o próximo triênio (2012, 2013, 2014). Atual presidente, Maurício Assumpção tem como adversário o antigo aliado Carlos Eduardo Pereira. Com 49 anos, o atual mandatário alvinegro - que concorre pela chapa Botafogo Total revela que mal tem tempo para se dedicar ao seu consultório dentário. Mas diz que não se arrepende disso, por acreditar que faz um bom trabalho no clube. De ponto negativo, dos três anos à frente do cargo, Maurício destaca a falta de um "grande título de expressão".

Ele recebeu a reportagem do GLOBOESPORTE.COM na sala da presidência. Cercado por fotos de momentos importantes do futebol do Botafogo dos últimos anos, como as do título carioca de 2010, e de uma abraçado ao presidente do Corinthians, Andrés Sanches, com quem mantém boa relação, o dirigente alvinegro falou sobre sua gestão e mostrou as suas propostas. Confira a entrevista completa:

Por que se candidatar à reeleição?
Olhando para trás e vendo o que foi feito ao longo desses três anos, fico estimulado junto com esse grupo de tentar a reeleição. O estimulo é o trabalho que foi realizado. O objetivo é não só continuar, como qualificar ainda mais.

Juniores Botafogo (Foto: Divulgação / AGIF) 
Maurício Assumpção e parte do elenco campeão
carioca de juniores (Foto: Divulgação / AGIF)
 
Que avaliação faz desses três anos à frente do clube?
O principal foi a integração do futebol da base com o profissional. A reformulação técnica feita na base, com resultados. O mais representativo foi o Carioca de juniores de 2011 em cima do Flamengo. O número de jogadores criados no clube que fazem parte do profissional é significativo. Também tivemos a conquista do terreno de Marechal Hermes. É uma concessão de 20 anos por mais 20. Fizemos a reforma das sedes do clube. A reforma do Mourisco Mar representa isso de forma categórica. Trouxemos um modelo de administração profissional para o clube como um todo. Cada vice-presidente tem um diretor executivo para trabalhar de forma "full time" em seu departamento. Profissionais que entendem a fala do mercado. Tem também as reformas no Engenhão, transformando-o em ativo para o Botafogo. Tivemos também a qualificação técnica nos esportes olímpicos.

E quais os principais erros?
Tivemos alguns, sim. Impossível não ter, mesmo tentando sempre acertar. O principal foi a falta de um grande título de expressão no futebol, não desmerecendo o Carioca. Ter um título brasileiro ou internacional seria importante para o clube. Falta ainda isso e quero conquistar. A questão do terreno de Marechal, eu gostaria que tivesse acontecido antes. Gostaria de ter terminado a construção do centro de treinamento no primeiro ano de mandato.

A gente tem uma base que poucos times do Brasileiro têm"
Maurício Assumpção
 
Como avalia o desempenho do futebol este ano?
Nós tínhamos um planejamento do Carioca definido pelo treinador da época (Joel Santana). Pecamos e podíamos ter trabalhado de outra forma. Qualificamos o elenco para o Campeonato Brasileiro, mas devíamos ter feito isso antes. Não é à toa que brigamos por título e Libertadores. Na Copa do Brasil, podíamos ter ido mais longe, mas fomos muito prejudicados por arbitragem. O elenco podia ter sido qualificado de outra forma. Faltaram algumas peças importantes ali para dar um amadurecimento maior no início do ano. Jogadores que acabaram chegando depois, como o Renato e o Elkeson. Podíamos ter trazido antes, na primeira janela.

O que pretende para os próximos anos, se for reeleito?
Manter a base. A gente tem uma base muito grande e vai contratar pontualmente em algumas posições carentes.

O André Silva continua como vice de futebol e o Anderson Barros como gerente de futebol?
A ideia é que o André e o Anderson sigam na frente do futebol. A blindagem que demos ao futebol é importante. A ligação entre o vice e o gerente é importante para não ter curto-circuito. Essa função de gerente de futebol é importante. Para nós, foi muito importante.

E o técnico? Já tem nomes?
Queremos um treinador com perfil vencedor. O clube está em um patamar diferente agora. Temos estrutura e uma boa espinha dorsal. Mas só falaremos de nomes no fim do Brasileiro. Nosso foco agora é a Libertadores.

No lançamento da candidatura, você falou em uma contratação de peso. Já tem esse nome?
Quando a gente fala em contratação de peso, me refiro a jogadores como os que já foram contratados, como o Renato. Não quer dizer que não tem que contratar mais. A gente trouxe o Maicosuel, o Renato, o Jefferson... Acho que isso é contratação de peso. Essa filosofia não pode parar. Hoje a gente tem um plantel equilibrado, em alto nível. Podem subir quatro, cinco da base ano que vem, o que é fundamental. Abre espaço para trazer em uma ou duas posições jogadores diferenciados. A gente tem uma base que poucos times do Brasileiro têm.

Candidatos á presidência do Botafogo - Maurício Assumpção (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)Maurício Assumpção na sala da presidência do Botafogo (Foto: Thiago Fernandes / Globoesporte.com)
 
O Botafogo tem investido no mercado sul-americano nos últimos anos. Pretende manter essa tendência?
O mercado sul-americano está muito aquecido. Eles vêm por um preço compatível com o mercado nacional. Aqueceu muito o mercado nos últimos anos porque muitos deram certo, como Conca, Montillo, Valdivia, D´Alessandro, Lugano, Loco... É uma tendência nacional.

O que vai ser feito para melhorar a base?
Estamos tentando fechar com o Exército o terreno do lado da sede de Marechal Hermes. Aí começamos a construção do centro de treinamento. Com o CT pronto, vamos ter uma qualidade muito maior. Queremos ter uma escola de futebol. Queremos ter futsal no fraldinha e mirim para dar mais habilidade aos jogadores, por exemplo. Queremos fazer com que os garotos entendam onde estão jogando, entendam a grandeza do Botafogo. Queremos formar o atleta, mas não só o atleta, como também um cidadão. Queremos ter uma escola lá dentro. Hoje, o futebol está tão competitivo que o que começa a fazer diferença, além da qualidade técnica, é a capacidade de entendimento do que acontece em campo. Para isso, você tem que dar qualidade para ele. Isso vem através do estudo, da cultura, de conteúdo educacional. O Botafogo tem que ir para esse lado.

Neste ano, devemos fechar com quase R$ 7 milhões de lucro.
Claro que temos que rever o excesso de jogos"
 Sobre o Engenhão em 2011
 
Falando de patrimônio do clube, o que a sua gestão fez para melhorar? E o que acredita que ainda precisa ser feito?
Em um primeiro momento, as sedes tinham que passar por reformas estruturais para que os sócios pudessem frequentar o clube. Tínhamos 900 sócios, agora são 3 mil. A sede do Mourisco Mar tinha dois laudos dizendo que ou a gente fazia uma reforma complexa ou fechava. Através de parcerias, conseguimos fazer obras ali no valor de 16, 17 milhões. Em General, também fizemos os restaurantes, o piso do ginásio, a piscina, os parquinhos. Tudo isso estimulou os sócios a frequentar o clube. Tivemos um aumento de quase três vezes nas escolinhas. Fizemos reformas na sede de Sacopã, no alojamento, no deque, nos banheiros. Em Marechal, tem novo alojamento, nova sala de musculação. Tudo provisório porque vai mudar. Nesses três primeiros anos, queríamos fazer com que as sedes fossem autossustentáveis. Agora, tem que trazer novas receitas para o clube.

Como está a questão do centro de treinamento da base? Há muito tempo que se negocia com o Exército para ficar com o terreno ao lado e não se consegue um acordo.
Temos um projeto alternativo já, sem esse terreno. Era o ideal, mas, como as negociações estão difíceis, traçamos um novo plano para não ficar dependendo mais disso.

E o centro de treinamento profissional? O senhor sempre disse que era uma prioridade... 
Estamos finalizando um terreno. Vai ter uma ajuda do Governo do Estado e da Prefeitura. Mas tem que ter uma contrapartida social forte. Esperamos anunciar até o fim do ano esse terreno. Antes de um ano, talvez já consigamos ir para lá, levar a equipe profissional para esse local.

Você falou antes do Engenhão. Quanto ele rendeu neste ano para o clube?
Neste ano, devemos fechar com quase R$ 7 milhões de lucro. Claro que temos que rever o excesso de jogos. Temos que racionalizar mais isso. Até para ter mais qualidade. A própria Ambev vai investir em tecnologia para melhorar o gramado. Tivemos mais de cem jogos neste ano. O ideal seria 90. Também tem que aumentar a capacidade para as Olimpíadas e pensamos em tentar antecipar isso. Há um desejo de aumentar para 60 mil enquanto o Maracanã estiver fechado. Seria muito bom para o futebol carioca. Tivemos lotação esgotada em alguns jogos. Talvez a gente conseguisse antecipar. É uma negociação que não é fácil, porque passa pelo Comitê Olímpico e pela Prefeitura

A oposição questiona bastante o acordo com a Pepira, que detém o direito de explorar as sedes do clube. Como é esse contrato?
A Pepira conseguiu que a (churrascaria) Fogo de Chão colocasse R$ 12 milhões no Mourisco Mar, por exemplo. O contrato não é exclusivo. O show do Paul McCartney não foi negociado com eles. Se algum evento for trazido por outras pessoas, diminui a participação da Pepira. É um contrato que foi extremamente vantajoso. Colocou oito empresas de alimentação no Engenhão. Tínhamos um valor X em 2009 hoje temos três vezes X. Conseguimos colocar circuito publicitário no estádio e fechamos com a Ambev o maior contrato da empresa com um time de futebol. Esse contrato com a Pepira foi aprovado por todas as autoridades do clube. Passou pelo Conselho Fscal e pelo Deliberativo. 

A Pepira foi tão importante que, quando assumimos o estádio, não tínhamos nem o alvará para as placas e não sabíamos fazer isso. Tudo foi feito pela Pepira, que tem muita experiência nesse ramo. Engraçado que eles contestam esse contrato, mas não falam que quiseram fazer um contrato de seis anos com uma empresa árabe. Contrato de exclusividade. Um contrato extremamente desvantajoso e que não foi aprovado. Porque eu tive diretores executivos que não permitiram que isso acontecesse. A ideia era comercializar ativos do Botafogo (como jogadores) no mundo árabe sem quase nenhuma contrapartida. 
Alguns diretores executivos não me deixaram assinar porque era completamente desvantajoso, prejudicial. Foi assinado em outras bases. O contrato já venceu e não trouxe nada ao clube.

Eu já falei para o Túlio o seguinte: quando faltarem sete gols (para chegar a mil), vamos conversar sobre isso"
 
Sobre a contratação do atacante
 
Segundo o site futebolfinance, a dívida do clube gira em torno de R$ 378 milhões. O que fazer para, pelo menos, tentar amenizar isso?
Eu vi isso. Mas esquecem de dizer que o Botafogo tem dívidas muito em cima da compra de jogadores que fez agora, que se tornaram patrimônio do clube. O Botafogo comprou o Cortês, o Renato, o Herrera... Hoje, é o único clube dentro do ato trabalhista do TRT. Estamos estudando a renovação desse ato. Todas as dívidas trabalhistas ficam concentradas dentro do Tribunal. Assim, evitamos as penhoras. Quando temos uma receita, 15% ficam no Tribunal, que vai pagando na ordem que tem que ser paga. Ano passado, pagamos muito dinheiro. 

A dívida trabalhista está concentrada no ato. Temos o controle sobre ela. As dívidas fiscais, teoricamente, tem que resolver com a Timemania. As cíveis são as penhoras. Os quatro presidentes dos clubes cariocas estiveram conversando no meio do ano com o ex-ministro do Esporte Orlando Silva e ele ficou muito impressionado com a fala. 

Queremos um modelo de como foi feito em Itália, Espanha, Portugal. A partir do marco zero, que haja uma responsabilidade fiscal. O clube que, a partir dali não pagar seus impostos, não recolher os encargos, vai perder pontos, vai ser rebaixado, fica impedido de participar. O dirigente vai ter uma responsabilidade pelo clube. 

É uma pressão que precisa ser feita. É um problema de todos os clubes grandes. Ninguém quer perdão de nada. Mas é necessário encontrar uma maneira de pagar porque, do jeito que está, ninguém consegue pagar. Mas tem que haver uma contrapartida de responsabilidade. Imagina você perder dez pontos porque não pagou imposto? No dia seguinte, a torcida pede o impeachment do presidente do clube.

Em relação aos esportes olímpicos, quais os projetos?
Natação e polo sempre foram referência, assim como o vôlei. Os grandes expoentes do voleibol brasileiro passaram de alguma forma pelo Botafogo, como o Carlos Arthur Nuzman, o Ary Graça e o Bebeto de Freitas. Na natação, a gente precisava dar melhor estrutura. Eles já têm a melhor equipe técnica. A reforma do Mourisco Mar foi fundamental para o crescimento da natação e do polo. 
 
Em 2009, fomos a melhor equipe somando o polo masculino e feminino. Agora, tem lá sala de musculação, auditório, dá para fazer gravação subaquática. Tem piscina de soltura de 25m, novos vestiários. Tem sala dos professores. No caso do basquete e do vôlei, precisava reformar tecnicamente os nossos quadros. Os resultados estão aí. Basquete campeão em duas categorias, o mirim do vôlei foi campeão. O Botafogo é formador de atletas. 
 
Fizemos parcerias em outros esportes. No caso do futsal, fizemos parceria com a Casa de España. Fizemos uma parceria com o Superar para a equipe paraolímpica. É a marca Botafogo sendo divulgada com resultados. É importante a marca Botafogo estar sendo difundida nos esportes. Claro que o ideal é ter equipe de ponta, mas tem um custo. 
 
Não adianta ter um time de ponta, sem uma base que fornecesse mais tarde atletas de nível. No basquete e no vôlei, tem a ideia de criar equipes para disputar as principais divisões? Tem. Mas não tem verba. Tem um custo alto e uma exposição pequena. Paga um ano de salário ao atleta e ele aparece três meses. O resto está na Seleção e no estadual. Primeiro, tinha que reformar o que estava aqui. A partir daí, vamos ter a possibilidade de fazer time de ponta. Esse é o desafio para esse triênio .
 
E em relação à estrutura?
O Sacopã merece uma reforma. Temos um projeto bacana e estamos conversando com a Prefeitura. Sem invadir o espelho d´água, sem prejudicar o meio ambiente. Uma reforma também importante do nível do que foi feito com o Mourisco. E na sede de General, com a saída do futebol, vamos colocar grama sintética. Dar ao sócio uma oportunidade de lazer que não tinha.

Por fim: o projeto gol mil do Túlio Maravilha está em seus planos?
Eu já falei para o Túlio o seguinte: quando faltarem sete gols, vamos conversar sobre isso.