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Presidente do Botafogo responde ao Flamengo em defesa do Engenhão

Maurício Assumpção ironiza jogadores rubro-negros e afirma que clube rival tinha apenas interesse financeiro em levar clássico para o Maracanã

Gustavo Rotstein
Rio de Janeiro


André Durão /GLOBOESPORTE.COM

Botafogo x Flamengo no Engenhão: presidente alvinegro elogiou execução do planejamento Em campo, o Botafogo perdeu por 1 a 0 para o Flamengo e se complicou na luta contra o rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Mas nesta segunda-feira, pelo menos em um aspecto, o Alvinegro comemorou uma vitória. Depois da pressão sofrida nas últimas semanas, o presidente Maurício Assumpção entende que o clube, aliado ao poder público, conseguiu organizar de forma eficiente um clássico de grande apelo no Engenhão sem que houvesse grandes distúrbios à cidade. Os casos mais graves aconteceram no setor Sul do Estádio João Havelange, com briga entre facções de torcedores rubro-negros e depredação de cadeiras e banheiros.

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, Maurício Assumpção desabafou ao comentar a posição do Flamengo – incluindo o vice de futebol Marcos Braz e jogadores como Juan e Zé Roberto – que sempre se disse favorável à realização do jogo no Maracanã. No entanto, o presidente do Botafogo comemorou o que segundo ele foi o triunfo da organização e a prova de que o Engenhão é, sim, capaz de substituir o estádio que ficará fechado para obras nos próximos três anos.

GLOBOESPORTE.COM - Qual a avaliação que você faz do desempenho do Botafogo e das demais instituições envolvidas na organização do clássico? É possível atribuir uma nota às atuações?

Maurício Assumpção - A avaliação é mais do que positiva. Existia a intenção de mostrar que era possível ter no estádio um clássico do apelo e da grandeza de um Botafogo x Flamengo. Além disso, queríamos deixar claro que o poder público tinha planejamento e organização para fazer o espetáculo. Dou nota oito para o resultado final e dez para a integração do Botafogo com os diretores sérios do Flamengo, que trabalharam muito, com CET-Rio, Guarda Municipal 3º Batalhão da Polícia Militar e Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios). Parecia uma só unidade de trabalho e não várias instituições. O planejamento começou no momento em que pedimos a inversão do mando de campo, no primeiro turno do Brasileiro. Por isso, fizemos questão de que essa partida acontecesse no Estádio Olímpico João Havelange.

O que é possível destacar em relação a pontos positivos e negativos?


                                                     Divulgação/GLOBOESPORTE.COM

Cadeiras quebras no Engenhão: presidente lamentou vandalismo contra patrimônio público Dos positivos, a medida de não vender ingressos no dia do jogo, além do fechamento dos estacionamentos às 17h. Dos negativos, as cenas de vandalismo, com cadeiras e banheiros quebrados. É lamentável que duas facções da mesma torcida não possam viver em paz e causem tumulto. Além disso, o fato de a Tribuna de Honra estar no meio da torcida do Botafogo trouxe problemas. Talvez seja necessário construir outra no lado oposto, setor Leste Superior. Também precisamos criar um atrativo para o público entrar mais cedo no estádio, diminuindo a permanência no entorno. Sei também que a Prefeitura vai olhar com carinho o decreto que incentiva o comércio residencial nas ruas próximas ao João Havelange. As vias são estreitas, e os consumidores que se acumulam nelas muitas vezes causam transtorno no trânsito e cria-se um problema de logística.

É possível dizer que o planejamento e a execução dos serviços no clássico contra o Flamengo representaram uma vitória para o Botafogo, depois dos diversos questionamentos – alguns dentro de General Severiano – sobre a capacidade de o clube promover a partida com eficiência no Engenhão, aliado às instituições públicas?

A vitória é do Rio de Janeiro. Cidade e estado mostraram capacidade de organizar um evento desta grandeza, de realizar aqui os Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016. Foi muito importante, apesar de nas últimas duas semanas só ter se falado em violência, da impossibilidade do estádio receber a partida, de que haveria conflito e derramamento de sangue... Quem trabalha no futebol sabe que essa não era a questão principal, pois em todos os jogos entre Botafogo e Flamengo no Maracanã há pelo menos um caso sério de violência, inclusive com mortes, e isso não aconteceu no último domingo. Tinha gente torcendo para acontecer uma catástrofe, porque a responsabilidade seria toda minha.

Como você recebeu as declarações de dirigentes e jogadores do Flamengo, que questionaram a capacidade do Engenhão de receber o clássico? O vice de futebol rubro-negro, Marcos Braz, se mostrou decepcionado com a arrecadação da renda, devido pouco número de torcedores no estádio...

Todos sabem que o motivo real de tudo isso era financeiro. Precisávamos mostrar aos nossos patrocinadores que nos próximos três anos sem Maracanã podemos mandar grandes jogos em nosso estádio. Apesar do público pagante de 25 mil pessoas, o Botafogo ganha, proporcionalmente, mais do que numa semifinal contra o Flamengo no Maracanã, pois em nossa casa temos mais receitas e menos despesas. O Flamengo, por outro lado, tem mais receitas no Maracanã. Além disso, a operadora de ingressos do Estádio Olímpico não é a mesma do Maracanã, com a qual o Flamengo tem contrato. A partir de agora eles não terão mais o argumento da violência, porque o Rio de Janeiro mostrou que há condição de promover o espetáculo.

Além do vice de futebol do Flamengo, Juan e Zé Roberto também se mostraram preocupados com os possíveis casos de violência no Engenhão. Qual sua análise sobre isso?



Como presidente, não estava preocupado com esta questão, pois sabia da nossa capacidade de organizar a partida. Mas depois do que vi ontem, estou temeroso. Gostaria de saber se os familiares e amigos desses jogadores estavam na ala Sul do estádio, onde duas facções da torcida do Flamengo entraram em conflito. Se eles realmente estavam lá, é preocupante.

De que forma você avalia a depredação de banheiros e cadeiras da ala Sul do estádio, onde foram posicionadas as duas maiores torcidas organizadas do Flamengo?

Trata-se de uma questão de educação. É ignorância destruir um patrimônio que hoje está com o Botafogo, mas que é público. O estádio foi feito com o dinheiro de todos que moram na cidade do Rio de Janeiro. Vamos esperar a perícia para avaliar os prejuízos. Em seguida, o nosso departamento jurídico tomará as medidas cabíveis. Acredito que o Flamengo, como entidade, também não fique satisfeito com o que aconteceu, pois não é bom ter sua imagem associada àquelas cenas. Depois, todo mundo vai dar razão quando disponibilizarmos apenas 10% dos ingressos à torcida visitante.

Então existe a idéia de, a partir de agora, não dividir pela metade os ingressos e a renda nos clássicos realizados no Engenhão nos quais o Botafogo tiver o mando de campo?

Não acho que a política de ceder 10% seja a melhor. Isso começou com o objetivo de conter a violência nos grandes clássicos, mas penso que não devemos ser reféns de bandidos. Talvez seja melhor adotar outras medidas preventivas para resguardar o patrimônio do clube, de repente aumentando a segurança nos banheiros... A torcida do Botafogo precisa entender que o estádio é nosso e que é necessário povoá-lo. Por que ela lotou o João Havelange contra o Avaí e foi em pequeno número contra o Flamengo? Quem quis ir com segurança, foi. È preciso entender a importância de os nossos torcedores estarem ao lado do time em todos os momentos.

Finalmente, o que é possível falar sobre futuros projetos para o Engenhão?

Daqui a mais ou menos uma semana serão anunciados as novas empresas operadoras das praças de alimentação. Além disso, vamos lançar uma campanha de marketing para atrair investimentos para os espaços de publicidade no estádio. A Prefeitura também mostrou preocupação com a necessidade da construção de mais acessos ao Estádio Olímpico.