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Da rouparia ao esquema: Seedorf assume liderança ativa no Botafogo

Apesar de alguns atritos, holandês faz mudanças em detalhes no Botafogo e mantém respeito adquirido com currículo e comportamento exemplares

 

Por Thales Soares Rio de Janeiro
Aos 36 anos, Seedorf é o jogador mais velho entre os 34 do elenco atual do Botafogo e traz com ele um currículo que o transformou em líder natural. Sua personalidade ajuda. Ele jamais se furta ao diálogo, esbraveja e participa de praticamente todas as decisões. Desde a forma como a rouparia distribui o uniforme no vestiário até a atitude do time em campo, procura influenciar.

- São detalhes que melhoraram. Uma coisa é colocar a roupa dobrada ou pendurá-la. É costume. Essa foi uma coisa. Uma dificuldade que eu tenho em mim é a preparação para o jogo. Não estou acostumado com a preparação alimentar. Na Europa, a gente joga à noite. Aqui, quando joga às 16h, é diferente essa adaptação - comentou Seedorf.

Seedorf conversa com o grupo no treino do Botafogo (Foto: Thales Soares) 
 
Seedorf orienta os companheiros antes do coletivo no treino do Botafogo (Foto: Thales Soares)
 
 
A questão da rouparia é apenas uma entre muitas. Do comportamento na concentração aos cortes de cabelo, Seedorf demonstrou sua influência. Sua determinação é respeitada, mas causa atritos, algumas vezes, pela forma de falar. Depois de vitória sobre o Flamengo, na semifinal da Taça Guanabara, encerrando uma série de tabus, o holandês interrompeu a comemoração dos companheiros, dizendo que o Botafogo ainda não havia conquistado título algum.

O caso não teve uma repercussão maior. Foi encarado como mais uma atitude de quem está determinado a vencer títulos em sua empreitada pelo Botafogo. Até mesmo jovens ficam chateados, mas o respeitam como ídolo e sabem como ele pode ser importante para o futuro de todos no clube, pelo menos até 2014, quando termina o contrato do holandês.

- Estou vivendo essa aventura com muito prazer, é uma experiência muito importante. Estou vivendo todas as coisas boas no Brasil e estou procurando acertar as coisas que devem ser melhoradas. Não é fácil. Uma parte tem que se adaptar, mas tem que ser a mais certa. O que tem de bom, eu posso melhorar, mas só com a ajuda de vocês, jogadores e todas as pessoas com quem estou convivendo, naturalmente. Se estou fazendo uma coisa certa, as pessoas me dão retorno. Isto me faz crescer como pessoa, e gosto disso - disse Seedorf.

Se estou fazendo uma coisa certa, as pessoas me dão retorno. Isso me faz crescer como pessoa, e gosto disso"
Seedorf
 
Fora de campo, ele também entra no circuito para discutir melhores condições de trabalho e ser um elo com a diretoria. Em campo, os atritos já aconteceram. O holandês se irritou em um treinamento realizado em Saquarema no ano passado, quando reclamou intensamente de Márcio Azevedo e abriu a bronca para todo o grupo, questionando a atitude durante a atividade, atirando até um copo d'água ao chão. Já discutiu com Antônio Carlos em um treinamento, desentendeu-se com Fábio Ferreira no vestiário e teve um bate-boca com Jefferson na derrota por 1 a 0 para o Flamengo.

Esses desentendimentos não foram capazes ainda de abalar o clima no clube. O volante Gabriel revelou, inclusive, que Seedorf reconhecia o exagero em algumas intervenções. Mesmo assim, não deixa de se manifestar durante as atividades. Sempre orienta os companheiros. Seu comportamento é exemplar, costuma ser um dos últimos a deixar os treinos e jogos e até é capaz de contagiar outros jogadores. Afinal, se um multicampeão como o holandês faz, fica difícil não seguir a cartilha.

Nas duas últimas semanas, chamou a atenção o fato de Seedorf só trabalhar com o grupo na quinta-feira. O Botafogo e o holandês tratam a questão como parte de seu planejamento. O resultado final é esperado neste domingo, quando ele espera dar o primeiro passo para levar o clube de volta a grandes conquistas, como o Campeonato Brasileiro e a chance de disputar a Taça Libertadores.

- Eu estou igual a sempre. Eu fazia essas coisas quando tinha 26 anos, um trabalho que vai dar fruto para o jogo, para ter melhores condições. Não é por idade, é porque conheço o meu corpo. Quando tinha dez anos a menos, tinha que segurar. É importante pela consciência de todo mundo. Quem tem 20 anos está fazendo a mesma carga - disse Seedorf.