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Rebeldes conseguem apoio informal de federações

Grupo se deverá se reunir na próxima semana para debater estratégia. Brecha no estatuto será analisada por especialista

José Maria Marin deverá enfrentar resistência de federações (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
 
Daniel Leal e Mauro Graeff Júnior
Rio de Janeiro (RJ)
 
O grupo de federações que defende a realização de eleições na CBF já possui novos adeptos, ainda que informalmente. Segundo apurou a reportagem, pelo menos seis entidades já se juntaram aos chamados rebeldes.

Liderado por Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia, o grupo deseja que o novo presidente, José Maria Marin, não permaneça no cargo até 2015, como lhe permite o estatuto da CBF.

Os novos rebelados se dizem decepcionados com a forma como Ricardo Teixeira deixou a entidade. Alegam que o processo de renúncia foi conduzido somente por uma federação, a de São Paulo.

Marin é muito próximo de Marco Polo del Nero, presidente da entidade paulista. Os dois estiveram em contato com Teixeira e acompanharam todo processo de saída.

A leitura dos rebeldes é de que a federação paulista passará a ter demasiado poder na CBF. Antes da saída de Teixeira, Del Nero já tinha trânsito livre na entidade. Agora, acreditam os dirigentes, aumentaria ainda mais sua influência.
Federações também reclamam de informações privilegiadas. A cartolagem próxima a Teixeira soube da renúncia durante a Assembleia Geral Extraordinária do último dia 29. Outros, apenas minutos antes da entrevista coletiva de segunda-feira, que oficializou o afastamento definitivo.

Marin entende o descontentamento e, nos bastidores, tenta apaziguar os ânimos. Aos presidentes de federação, já avisou que está aberto ao diálogo e disposto a delegar funções. Também prometeu mais encontros com os representantes estaduais.

Ainda assim, os rebeldes seguem irredutíveis. Os quatro líderes, inclusive, não compareceram à coletiva da renúncia. Ainda não está claro, no entanto, que atitude tomarão a partir de agora.

Na segunda-feira, o grupo deverá agendar uma reunião, provavelmente no Rio de Janeiro. Em pauta, estará a estratégia a ser adotada. Assim que definida, o passo seguinte será a aproximação formal dos novos rebeldes, que hoje temem retaliações.

Marin e Del Nero juntos

Marco Polo del Nero deverá mesmo ser o homem forte na CBF após a saída de Teixeira. Nesta terça-feira, no primeiro dia de José Maria Marin no comandando do futebol brasileiro, os dois chegaram juntos à sede da entidade, na Barra da Tijuca, logo após o início do expediente. Estavam acompanhados de Reinaldo Bastos, vice-presidente da Federação Paulista e diretor do Departamento de Desenvolvimento e Projetos da CBF.

Eles ficaram cerca de um hora na entidade, conversaram com funcionários e saíram falando que iriam almoçar. Não deram entrevista e não retornaram mais.

É uma mudança radical de postura de Del Nero. Na gestão de Teixeira, ele tinha livre trânsito na CBF, mas não costumava aparecer, salvo quando era chamado para reuniões. Já Reinaldo Bastos, mesmo morando em São Paulo, vai ao local pelo menos uma vez por semana porque cuida dos assuntos relacionados à Série B.

O aumento de poder dos dirigentes paulistas na CBF é um dos motivos alegados pelos rebeldes para tentar convocar nova eleição.

Jurista dará parecer

Durante a reunião que poderá acontecer na próxima semana, os rebeldes analisarão a possibilidade de uma brecha no estatuto da CBF para que seja convocada uma nova eleição. Um jurista será chamado para elaborar um parecer sobre o caso.

Os rebeldes contestam a alteração estatutária de 2006 que permitiria a Teixeira ficar até 2015 à frente da entidade. Segundo o texto, o benefício também se aplica aos cincos vice-presidentes regionais, bem como aos membros do Conselho Fiscal.

O grupo alega que a emenda foi criada para cumprir exigência da Fifa – a entidade desejava estabilidade no comando da CBF até o fim do Mundial de 2014. Por isso, dizem, a extensão do mandato deveria valer apenas para Teixeira.

Os rebeldes acreditam que podem mudar o quadro com base no parágrafo quinto do artigo 22 do estatuto. O trecho diz que a Assembleia Geral pode “interpretar” o texto “em última instância”.

Porém, para alterarem o estatuto, precisam do voto de dois terços dos presidentes de federação. Hoje, não possuem tal quorum.

ESTRATÉGIA DOS REBELDES:

Primeiro passo
Para se convocar uma Assembleia Geral Extraordinária, o estatuto exige ao menos seis assinaturas de presidentes de federação. Hoje, os rebeldes, com sete dirigentes, já poderiam pedir a reunião.

Interpretação
O estatuto pode ser interpretado e, em seguida, alterado. Para tal, depende de dois terços dos presentes à assembleia. Faltariam, então, 11 presidentes para os 18 votos que buscam os rebeldes.

Eleição
Com a mudança, o grupo conseguiria a convocação de novas eleições. Um candidato deve ter o apoio de ao menos oito federações para concorrer à presidência.