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‘Sei que mais cedo ou mais tarde as pessoas vão reconhecer meus números’, diz Caio Júnior

Caio Júnior: 'Voltei para ser reconhecido no meu país' Foto: Cezar Loureiro
Rafael Oliveira
Caio Júnior gosta de números. Principalmente os que dizem ser ele o dono do quarto melhor aproveitamento no Brasileiro dos pontos corridos. A marca é um de seus orgulhos. Mas não reconhecida no país, diz ele. Em seu melhor desempenho no futebol brasileiro, o treinador fala sobre o aprendizado adquirido no exterior, alfineta o trabalho técnico feito antes de sua passagem e revela que não decidiu se irá renovar o contrato, que expira em dezembro. Neste domingo, às 16h, Caio e seu Botafogo podem ser líder do Brasileiro. Basta vencer o São Paulo e o Vasco tropeçar.

1. No Brasileiro de pontos corridos você é o técnico com o 4º melhor desempenho. Ainda assim, é tratado por críticos e torcedores como técnico de segundo escalão. Você acha que a falta de um título no Brasil faz com que não reconheçam seu trabalho?
O título é fundamental para você realmente conseguir um respeito maior. Acho que falta isso. Outra coisa é o fato de eu ser jovem. Eu tenho seis anos de carreira e consegui esses números. É um orgulho e sei que mais cedo ou mais tarde as pessoas vão reconhecer. E também porque eu fiquei fora do Brasil. As pessoas esquecem facilmente. Esse foi um dos motivos pelos quais eu voltei: ser reconhecido no meu país.

2. Qual a diferença do Caio Júnior que deixou o Brasil há três anos para o atual?
Mudei bastante na visão geral do futebol. Não me impressiono com nada. Trabalho muito a médio e a longo prazo. A minha cabeça é muito voltada para a parte tática e evolução nos treinamentos. E uma série de detalhes que fazem parte de uma evolução normal. Estou sempre estudando, trocando ideias com grandes treinadores.

Em relação à posse de bola, quando eu cheguei os treinamentos eram de nível técnico muito baixo
 Caio Júnior
 
3. Você sempre fala das novas técnicas que aprendeu nessa sua passagem pelo exterior. Que técnicas são essas?
Acreditar que o futebol tem uma lógica. E qual que é a lógica? Que a maioria das jogadas saem pela linha de fundo e que, quanto mais posse de bola você tiver, mais chances tem de criar situações de gol. Em relação à posse de bola, por exemplo, quando eu cheguei aqui os treinamentos eram de nível técnico muito baixo. A equipe tinha uma tendência clara de cruzar da intermediária. Então, hoje a gente vê um Botafogo que tem uma dinâmica de jogo.

4. Fora das quatro linhas, você trouxe algum hábito desses países para o Brasil?
Primeiro: a implantação da reunião diária com a comissão técnica. Todos nos reunimos meia hora antes dos treinamentos e se fala o que vai ser feito naquele dia. Isso foi uma ideia do Japão, que eu acho perfeita. Outra coisa: antes eu me desgastava muito sem ter horários fixos. Eu tenho que chegar em casa e ter o meu horário com a família também. Se não eu viro uma máquina. E, no Brasil, os treinadores viraram máquinas.

5. Qual a diferença do futebol praticado no Japão e no Qatar para o praticado no Brasil?
O Japão é totalmente diferente. Muito dinâmico. As equipes, por incrível que pareça, são bem ofensivas. Jogam num 4-2-4 com dois pontas e dois atacantes. Eu fiquei impressionado com isso. E a recomposição defensiva é muito grande. Todos são aplicados nesse aspecto. No Qatar eu acho que há uma semelhança maior com o Brasil. Até porque os principais jogadores são sul-americanos. Mas tem uma influência da escola europeia por ter muitos treinadores europeus, principalmente franceses, com os quais eu me identifiquei bastante. Eles acreditam na repetição do sistema tático. Começam de uma forma, terminam da mesma forma. E é o que eu estou tentando fazer aqui.

Caio Júnior, no Qatar, ao lado de Paulo Autuori e Juninho Pernambucano
Caio Júnior, no Qatar, ao lado de Paulo Autuori e Juninho Pernambucano
6. Você assumiu o Botafogo em um momento em que a torcida vaiava o time em todos os jogos e chegou a pedir por outro treinador em seu lugar. Acha que já deu a volta por cima e calou os críticos?
Foi o trabalho geral aqui que mudou, né? O desenho do time, a forma de jogo, a confiança dos jogadores. Mas eu não me iludo com o futebol brasileiro. As pessoas mudam facilmente de opinião. Então estou sempre com os pés no chão. Mas tenho um orgulho muito grande de ver a mudança que nós fizemos nesse aspecto.

7. Quando você treinou o Palmeiras, teve alguns problemas com o Edmundo. Aqui, tanto você quanto o Loco mostram que se entendem muito bem. Você aprendeu a lidar com jogadores de personalidade forte?
Você se engana em relação ao Edmundo. Eu me dei muito bem com ele. Inclusive somos amigos. Teve um episódio só, num jogo em que ele não me cumprimentou. Mas foi resolvido de uma maneira exemplar. Ele pediu desculpas para mim na frente do grupo e se redimiu totalmente. Então, sinceramente, nunca tive problema grave com nenhum jogador. Porque? Porque eu acho que o treinador também é um educador e tem que ter a humildade de reconhecer que a peça principal é o jogador.

8. Qual o papel do Loco no seu time?
O Loco tem vários papéis. Em alguns momentos do jogo, ele chama a responsabilidade, ele orienta, ele troca ideias. Tem também uma liderança muito importante no vestiário.

9. Qual foi o reforço mais importante: Elkeson ou Renato?
Os dois juntos. Não tem como dizer que um foi mais importante. Um é na armação e o outro na finalização. Mas não posso esquecer o Cortês. Ele foi para a seleção pelas atuações no Botafogo.
O Jobson tem um talento muito acima da média. E também tem um problema muito acima da média.
 Caio Júnior
 
10. Gostaria de treinar o Jobson?
Eu acho que ele tem um talento muito acima da média. E também tem um problema muito acima da média. Então é uma pena. Eu nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Meu contrato termina no final do ano, mas, se em algum momento eu puder, vou ajudar.

11. Por falar no término do contrato, pretende renová-lo?
É muito cedo para falar. A gente tem que ter bastante calma, né? Deixar as coisas acontecerem na hora certa. Eu abri um mercado muito forte lá no mundo árabe. Conquistei três títulos. Realmente tem aparecido propostas, sondagens. Direto. Não tem porque eu não falar agora. Mas nunca se chega a falar nesse assunto porque eu não deixo. Porque eu tenho o sonho de terminar o meu contrato no Botafogo sendo campeão.

12. O apelido de Harry Potter o incomoda?
Nada. Na época do Palmeiras tinha uns outros dois ou três personagens. Coisa sem maldade. Eu acho bacana. Mas, na verdade, hoje eu não me vejo parecido com o Harry Potter. Eu lembro que, quando eu assumi o Palmeiras e saiu uma foto no jornal, achei impressionante. Era igual. Eu tinha o óculos mais fino, não tinha barba e o cabelo era muito parecido, né? Então eu acho que tinha a ver mesmo. Mas hoje eu acho que fugiu um pouco. Acho que eu estou ficando mais velho também.