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Janela europeia fecha sem maiores danos ao futebol brasileiro

Apenas 19 jogadores deixaram a Série A rumo ao exterior. Campeonato segue com Neymar, Ganso, Damião, Lucas, Dedé e Ralf, todos da Seleção

Por Marcelo Baltar Rio de Janeiro
Outrora grande vilã do futebol brasileiro, a janela de transferências para a Europa encerrou-se nessa quarta-feira e praticamente passou despercebida no Brasil. O número de saídas caiu e, pela primeira vez desde o início da era dos pontos corridos, nenhum grande destaque rumou à Europa.

No total, 19 jogadores deixaram a Série A rumo ao exterior. Um pouco mais da metade dos que chegaram: foram 37 contratações. Em relação ao ano passado, por exemplo, muita coisa mudou. Em 2010, a saída de grandes jogadores desfigurou alguns times no meio do Campeonato Brasileiro, exemplos de Robinho (do Santos para o Milan), Adriano (do Flamengo para o Roma), Vágner Love (do Flamengo para o CSKA), Wesley (do Santos para o Werder Bremen), Sandro (do Inter para o Tottenham), Hernanes e André Dias (ambos do São Paulo para o Lazio)

montagem neymar ganso lucas leandro damião (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com) 
Jovem quarteto da Seleção resistiu às propostas e segue no Brasil (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
 
Na atual temporada, entretanto, ela não assustou. Em outros tempos, não seria possível imaginar os dribles de Neymar, as arrancadas Lucas, os passes de Ganso ou os gols de Leandro Damião permanecendo no país após a janela de transferências. Por uma série de razões, as coisas mudaram.

Algumas delas podem ser encontradas na economia. Com a Europa em recessão e o real estável, ficou mais fácil para os clubes brasileiros - com cotas de patrocínio e televisão mais altas - equipararem ou até mesmo superarem os salários oferecidos no Velho Continente.

Hoje, o grande jogador pode seguir para a Europa pelo planejamento de carreira, para enfrentar os melhores do mundo, por reconhecimento mundial, mas não é mais necessário sair correndo para qualquer mercado atrás da independência financeira"
 
Marcos Motta, advogado especializado em transferências internacionais
 
- Existe uma crise mundial financeira, mas acredito que as grandes contratações sempre vão existir. O futebol sobrevive dos grande craques, que sempre estarão em pauta. As operações medianas é que são mais suscetíveis às crises. As contratações pontuais já estão sofrendo algum impacto - analisou o advogado Marcos Motta, especialista em transferências intenacionais, reconhecendo que o momento do futebol brasileiro ajuda na manutenção dos grandes jogadores.

- Não é interesse do jogador jovem com grande potencial partir para um mercado emergente. Com a capacidade econômica brasileira, conjugada com as cotas de TV, que atingiram níveis altíssimos nunca antes vistos, o boom do esporte brasileiro, que vai receber uma Copa do Mundo e as Olimpíadas, e a ajuda de investidores, o cenário ficou propício para a manutenção dos grandes craques no país. Com os direitos de imagem, o Neymar recebe no Santos próximo ao que receberia na Europa. Hoje, o grande jogador pode seguir para a Europa pelo planejamento de carreira, para enfrentar os melhores do mundo, por reconhecimento mundial, mas não é mais necessário sair correndo para qualquer mercado atrás da independência financeira.

montagem Adriano Flamengo  Robinho Santos Hernanes  são paulo Sandro   Internacional (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com) 
Em 2010, janela foi mais nociva, com saídas de Adriano, Robinho, Hernanes e Sandro (Foto: Editoria de Arte)


A proximidade da Seleção Brasileira também é um ponto que pesa. Diferentemente dos últimos treinadores, Mano Menezes vem olhando mais para os times brasileiros. Alex Silva, zagueiro do Flamengo, é um bom exemplo. Com mercado na Europa, o jogador teve proposta do Sporting-POR, mas resolveu ficar no país.

- Por ser um dos campeonatos (Brasileirão) mais disputados do mundo, a visibilidade para a Seleção Brasileira hoje é maior aqui no Brasil do que lá na Europa - disse Alex Silva, antes de sofrer um estiramento no ligamento colateral medial do joelho esquerdo, que o afastou por tempo indeterminado dos gramados.

Na verdade, a janela que fez mais barulho foi a de contratações dos clubes brasileiros, que, com dinheiro no bolso, foram às compras. Acostumados a trazer grandes nomes sem contrato ou por empréstimo, desta vez os dirigentes gastaram. Luis Fabiano (São Paulo), Alex (Corinthians), Alex Silva (Flamengo), Ibson (Santos) e Renato (Botafogo) foram apenas alguns dos grandes investimentos feitos para o Campeonato Brasileiro.

Europa: destino de oito de 19 jogadores negociados

Dos 19 jogadores vendidos para o exterior, apenas oito seguiram para a Europa, sendo um para Portugal, dois para a Ucrânia e cinco para a Itália. A grande perda do futebol nacional da janela, no entanto, não foi para o Velho Continente. Craque da última edição do Brasileirão, Conca deixou o Fluminense para receber um salário mensal de quase R$ 2 milhões no Guangzhou Evergrande. Os chineses, que levaram três dos 19 jogadores negociados com o exterior, pagaram US$ 10 milhões (R$ 15,5 milhões) pelo meia argentino. A janela de transferências para a China também fechou, assim como para o Japão. Ainda estão abertas a de Turquia (até o dia 5), Arábia Saudita (dia 6) e Qatar (dia 9).


Dos gigantes europeus, o Inter de Milão foi o único a tirar jogador do futebol brasileiro. Levou o lateral-direito Jonathan, que estava na reserva do Santos, mas tinha parte dos direitos econômicos ligada ao Cruzeiro.
Uma negociação que chamou a atenção foi a de Henrique. Valorizado pela convocação para a Seleção Brasileira, o volante trocou o Cruzeiro pelo Santos, em uma negociação improvável até pouco tempo atrás. Geralmente, os selecionáveis seguiam direto para a Europa.

- O Campeonato Brasileiro é um dos mais difíceis do mundo, tem jogadores de qualidade e, agora, temos atletas de renome retornando ao país. Também estamos vendo transferências entre grandes clubes por aqui mesmo, o que antes era muito difícil de acontecer. Isso tudo prova que o nosso mercado está bastante valorizado. Isso é importante para o nosso futebol. É por tudo isso que não estamos vendo muitas transferências internacionais - argumentou Henrique.
Santos e Cruzeiro, por sinal, foram os únicos grandes exportadores dessa janela. Além de Jonathan e Rômulo (Fiorentina), que estava emprestado ao Atlético-PR, a Raposa negociou Thiago Ribeiro (Cagliari) e o jovem Dudu (Dínamo de Kiev). No total, se for levado em conta a venda do volante Henrique ao Santos, o clube mineiro arrecadou cerca de R$ 33 milhões.

O Santos também vendeu. Apesar do esforço para segurar seus maiores talentos e reforçar a equipe, negociou Alan Patrick (Shakthar Donetsk) e Alex Sandro (Porto). Danilo também foi vendido ao clube português, mas fica na Vila até o fim do ano. Nesta janela, o Peixe faturou aproximadamente R$ 48 milhões em negociações para o exterior.

*Colaborou Adilson Barros