Paixão, amor ou necessidade? Como descrever a relação do finado Nelson Rodrigues com o Fla-Flu? De tão íntimos, quis o destino que ambos nascessem no mesmo ano: 1912. Mas, nas palavras do escritor apaixonado, o clássico mais charmoso do futebol mundial floresceu para o mundo muito antes, mais precisamente "40 minutos antes do nada".
Uns diziam que Rodrigues era tricolor, outros, que era rubro-negro, mas o poeta não tinha dúvidas: em seu coração prevalecia o Fla-Flu. Mais do que qualquer paixão clubística, ele amava o "assombro do futebol" e se emocionava com o "despertar das multidões" causado pelo clássico.
— Era o jogo preferido dele. A magia que envolvia esse duelo tocava muito o velho. Existem muitos clássicos, mas apenas um Fla-Flu — explicou Nelson Rodrigues, Filho.
Irmãos Karamazov do futebol
Mais do que o placar, o que interessava para Nelson Rodrigues era a atmosfera da partida. E, nisso, seja tendo como palco o Maracanã, o Engenhão, São Januário, ou até mesmo o Luso-Brasileiro, o Fla-Flu foi, é, e sempre será incomparável.
— Como meu pai dizia, eles são os "Irmãos Karamazov" do futebol. Os filhos de uma mesma mãe que se amam e se odeiam. Que têm aquela rivalidade louca e incontrolável — disse Nelsinho, lembrando a citação que o pai fez ao romancista russo Dostoiévski.
Esquemas táticos, Rodrigues deixava para os "idiotas da objetividade". Sua missão era descrever a dimensão épica do clássico entre o Urubu e o Pó-de-Arroz. Era mensurar o imensurável. Uma paixão que não pode ser medida nem explicada, mas que é entendida em poucas palavras: "O Fla-Flu não tem começo nem tem fim. Tudo se acaba, menos o Fla-Flu". E que venham mais cem anos!