Dodô é simples. Femproporex é complicado. A soma dos dois resultou na maior punição a um jogador de futebol brasileiro por doping na história. A pena está para acabar. Na sexta-feira, o anúncio da CAS (Corte de Arbitragem do Esporte) sobre o polêmico caso do atacante completará um ano. E, no dia 7 de novembro, ele estará livre para jogar."É uma punição dura que estou passando. Uma temporada completa. Se você paga por uma coisa que fez, até que aceita, mas no meu caso não. Era algo que fugia da minha responsabilidade, coisa que me foi dada pelo clube [Botafogo], pelos médicos, fisiologistas. Fui pego como exemplo", desabafa Dodô após mais um dia de treino.
O "artilheiro dos gols bonitos" mantém a forma, sem grama e outros boleiros por perto, em uma academia em São Paulo que faz trabalho individualizado e é dirigida pelo fisiologista do Santos, Claudio Pavanelli.
"Em nenhum momento pensei em parar porque não podia parar desse jeito, com uma baita injustiça, uma carreira que eu ralei para ter", fala, convicto, o jogador que teve a sua longa suspensão festejada por Joseph Blatter, o presidente da Fifa.
A corte considera Dodô suspenso desde 6 de dezembro de 2007, ano em que ele atuou dopado contra o Vasco no Brasileiro. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) o puniu por 120 dias, depois o absolveu. Fifa e Wada (Agência Mundial Antidoping) apelaram no caso, que rendeu um ano e meio de gancho.
"O meu filho de cinco anos [Pedro] entende agora [de futebol] e pergunta por que estou sem jogar. Não dá para explicar detalhes, tem que falar que o papai daqui a pouco volta porque não pode jogar ainda. Mas ele já entende.
A revolta de Dodô com a suspensão é porque ele consumiu cápsula de cafeína ministrada pelo médico do Botafogo, Márcio Cunha. O time culpou uma farmácia de manipulação pela contaminação de três lotes de cápsulas com femproporex e saiu ileso do julgamento, assim como o médico, criticado posteriormente pela mulher de Dodô, Tatiana, por se "isentar".
"Depois de toda a novela e de ser absolvido no Brasil, o caso foi à Suíça, e eles não querem saber o que aconteceu, só o resultado final, que foi o doping", diz o jogador. "Se você for em qualquer clube do mundo, os médicos e os fisiologistas são responsáveis por aquilo que você toma.
E Dodô, que gostava tanto do Botafogo, perdeu a confiança no clube, que confiava no atacante para ganhar o Brasileiro-2007, vencido pelo São Paulo. "A partir de tudo o que aconteceu, eu já não tinha mais cabeça para continuar no Botafogo, já não confiava naquilo que as pessoas davam. Foi chegando o final da temporada e eu já tinha manifestado o interesse de deixar o clube. O médico continuou, o fisiologista continuou, o clube continua...
Márcio Cunha deixou o Botafogo no primeiro semestre do ano seguinte. Homem de confiança do então presidente Bebeto de Freitas, não foi localizado pela reportagem para falar do episódio.