por Renato Maurício Prado
Um diz que o outro precisa levar chute na
bunda; o outro diz que não fala mais com o
um que, de quebra, é chamado de
vagabundo pelo terceiro. É neste clima
"cordial, educado e de fina sintonia" que o
Brasil e a Fifa vem tratando da Copa do
Mundo de 2014. Barraco internacional
vergonhoso que nos leva a refletir sobre as
reais vantagens de sediar tal competição.
bunda; o outro diz que não fala mais com o
um que, de quebra, é chamado de
vagabundo pelo terceiro. É neste clima
"cordial, educado e de fina sintonia" que o
Brasil e a Fifa vem tratando da Copa do
Mundo de 2014. Barraco internacional
vergonhoso que nos leva a refletir sobre as
reais vantagens de sediar tal competição.
Não bastasse a colossal derrama de dinheiro
público num Mundial anunciado a princípio como
"da iniciativa privada" (lembra?), ainda se é
obrigado a acompanhar tais baixarias, sabendo, de
antemão (por tudo que vem acontecendo e tem
sido fartamente noticiado), que o legado que de
fato interessa (ou seja, melhorias efetivas nas
cidades, nos seus aeroportos, ruas, estradas e
redes hoteleiras) será pífio — na base dos
"puxadinhos" e dos esquemas especiais de trânsito,
de férias no calendário escolar etc, para tornar
viável o que seria impossível com a estrutura atual.
Um descalabro que, a cada dia que passa fica
mais evidente, se limitará a plantar estádios de
futebol até onde, eles não são necessários. E tome
de elefante branco a preços estratosféricos.
Haja aumento no fluxo turístico para compensar
o monstruoso investimento — e aí, voltamos ao
ponto crucial do legado: se a rede hoteleira não
será aumentada, mas apenas artificialmente inflada
(até com transatlânticos alugados servindo de
hotéis, nos portos), os turistas pós-Copa se
hospedarão aonde? Pois é..
No meio desta vexaminosa balbúrdia, ótima
reportagem de Gilberto Scofield Jr., no GLOBO de
domingo, revela a estratégia das empresas de
marketing esportivo, para vender, por preços
salgadérrimos, os camarotes VIPs do Mundial.
Eles custam entre US$ 1,4 e 2,3 milhões. Seus
alvos, naturalmente, não são os torcedores (por
mais ricos que sejam), mas as grandes firmas que
podem usar a Copa do Mundo como oportunidade
para aumentar o seu relacionamento com os
clientes e, naturalmente, incrementar os negócios.
Que muita gente lucrará muito dinheiro com este
Mundial, não duvide. Pena que, entre eles, não
estarão o torcedor e o cidadão comuns. A estes,
resta ouvir o bate-boca insano e de baixo nível de
cartolas e políticos e, de quebra, sofrer com o
futebolzinho medíocre da seleção de Mano Menezes
que, pelo andar da carruagem, se encaminha para
levar o Brasil a perder a sua segunda Copa em casa.
A menos, é claro, que o barraco chegue a tal
ponto que a Fifa resolva levar a sede para outro
país — possibilidade remota, mas não impossível.
Aí, acabaríamos sediando uma nova especialidade
de cemitério de elefantes. Brancos e inacabados...
PREÇOS POPULARES. A reportagem de Scofield
revela também o valor mais barato do assento (ou
seja, um único lugar) no mais modesto dos
camarotes VIP: US$ 4 mil (desde que não seja a
final). Se o jogo for do Brasil, pula para "precinhos"
entre US$ 5.750 e US$ 8.750. Na fase inicial! Quanto
custará uma entrada para um simples mortal?
TUDO OU NADA. Derrotado na primeira rodada,
jogando em casa, o Vasco faz hoje, contra o Alianza,
de Lima, uma partida de vida ou morte, na
Libertadores. Novamente atuando em São Januário,
qualquer resultado que não seja a vitória equivalerá
a um desastre, deixando o campeão da Copa do
Brasil e vice Brasileiro em situação delicadíssima.
Por isso, é preciso ousadia e uma formação
ofensiva. Juninho e Felipe deveriam voltar a jogar
juntos? Nesta partida, eu os escalaria — avançando
Felipe para a ponta-direita, como atuava (e
muitíssimo bem) na época do Flamengo. Lado a
lado, no meio, os dois veteranos acabam tornando
a equipe lenta e frouxa na marcação. Mas com o
carequinha lá pela direita, poderia dar caldo. Até
porque Éder Luís ainda não está 100% e o jovem
Barbio não tem feito a diferença.
GUERRA DOS PLANOS. A Golden Cross negocia
com o Flamengo o patrocínio master da camisa.
Quer combater o investimento maciço da Unimed
no futebol e evitar a entrada da Amil no mercado.
GUGA FOREVER. Gustavo Kuerten entrou para o
Hall da Fama do tênis. Merecidíssimo. Junta-se a
fantástica Maria Esther Bueno e me deixa alegre,
por um lado, e triste, pelo outro — pois não há nem
sequer um brasileiro pintando para ser o seu
herdeiro e jogar de igual para igual com feras com
Dokovic, Nadal, Federer e que tais...
PROVIDÊNCIA DIVINA. Encontro o Bagá,
chutando pedras, na praça General Osório e, ao me
ver, o ciclope dispara, com sua voz roufenha:
— Chefia, os garotos até que melhoraram o passe
e o toque de bola, mas o Dentuço continua a não
armar bulhufas. Assim não adianta!
Face as contusões generalizadas dos antigos
titulares do setor, o meio-campo formado pelos
jovens deverá enfrentar o Emelec:
— Já que o Luxemburgo e o Joel teimavam, Papai
do Céu resolveu dar uma ajudinha — emendou o
ciclope, piscando o olho. Que nenhum deles tenha
nada de mais grave. Mas que continuem de fora...