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ENGENHÃO DE PROBLEMAS

Documento mostra que prefeitura sabia de problemas do Engenhão há 11 meses


Luiz Ernesto Magalhães

O Globo



RIO - Inaugurado há menos de três anos para os Jogos Pan-Americanos e com a perspectiva de se tornar a principal arena para os jogos em casa dos times do Rio com o fechamento do Maracanã para as obras da Copa do Mundo de 2014, o Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão) já apresenta uma série de problemas em seu dia a dia, provocados por falhas de projeto e infiltrações. Um ofício encaminhado pela Companhia Botafogo (empresa formada pelo clube de futebol para administrar o estádio) à prefeitura identificou 30 itens problemáticos no Engenhão.

Como antecipou Ancelmo Gois, o prefeito Eduardo Paes marcou uma reunião para amanhã com o clube e as empreiteiras para tratar do tema. Mas os documentos aos quais O GLOBO teve acesso mostram que as falhas são de conhecimento da prefeitura há quase um ano: o ofício é do início de abril de 2009. Antes de arrendá-lo ao Botafogo, a prefeitura gastou R$ 390 milhões para construir o estádio.

Infiltrações atingem vários setores

A queda de balões que danificaram a cobertura do estádio, facilitando o acúmulo da água da chuva, é apenas um dos itens citados pelo relatório. As infiltrações atingem, por exemplo, as casas de máquinas dos elevadores, expondo equipamentos delicados ao risco de curto circuito. O problema se repete em vários pontos do estádio, inclusive nas juntas de dilatação que sustentam a estrutura. Um dos problemas identificados pode ajudar a esclarecer o apagão no estádio na partida Botafogo 2 x 0 Olaria, no último dia 14, quando um forte temporal caiu na cidade.

Segundo o relatório, o sistema no-break instalado no Engenhão não funciona direito devido a falhas de projeto. Isso porque os equipamentos não foram projetados com uma refrigeração independente. A falta de refrigeração acaba prejudicando a operação dos geradores. O apagão no Campeonato Carioca não foi o primeiro. Em 10 de maio de 2008, por exemplo, o estádio também ficou sem luz na partida de estreia do Botafogo no Campeonato Brasileiro daquele ano. O apagão, ocorrido no segundo tempo, durou 20 minutos, em partida na qual o alvinegro venceu o Sport por 2 a 0.

O relatório endereçado pelo Botafogo à prefeitura faz parte de uma série de documentos arquivados no Tribunal de Contas do Município (TCM). Eles servirão de base para o relatório final sobre o legado do Pan ainda em fase de elaboração. O TCM pediu mais esclarecimentos à prefeitura sobre que providências seriam tomadas, já que as obras ainda se encontram no período de garantia. As empreiteiras são responsáveis por reparos nas estruturas pelo prazo de até cinco anos após a conclusão da obras.

Os próprios fiscais do Tribunal de Contas, em três visitas técnicas após a conclusão das obras, identificaram as infiltrações entre outros problemas. A prefeitura pediu ao tribunal para prorrogar até abril o prazo para enviar as respostas que abastecerão o relatório final.

Apesar do documento já ter quase um ano, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, confirmou ontem à noite que pouca coisa mudou desde então. Antes de chegar ao TCM, em maio do ano passado, o documento circulou pela Superintendência de Patrimônio Imobiliário da Secretaria municipal de Fazenda, organizadora da licitação e que entregou ao clube a administração do Engenhão por 20 anos. O ofício 121/2009 do Botafogo era datado de 3 de abril. O mesmo documento foi enviado pelo clube para a Rio Urbe no dia 26 de maio, que o repassou para o TCM.

Maurício Assumpção conta que há um mês o clube elaborou novo relatório para atender à rotina da burocracia da prefeitura. Mas que, como não viu qualquer movimentação para resolver as pendências, fez questão de entregar uma cópia do documento diretamente para o prefeito Eduardo Paes.

- Temos feito manutenção no estádio. Só de equipamentos no-breaks queimados substituímos mais de 400. Mas temos limites do que podemos mexer. O estádio ainda se encontra no prazo de garantia. Se eu fizer alguma intervenção, as empreiteiras podem alegar não ser mais responsáveis pela conservação. E os custos para corrigir o que está errado acabarão sendo do clube - reclamou Assumpção.

Paes, por sua vez, comentou:

- Chamei uma reunião entre as partes para cobrar a manutenção do Botafogo e cobrar das empresas o que for a parte delas.