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Confiança, paciência e esperança: Rafael Marques se recusa a desistir

Sem dor, sem resultado. Obstáculos e jejum não intimidam atacante do Botafogo, que sonha com um gol na Fonta Luminosa, onde tudo começou

 

Por Thales Soares Rio de Janeiro

Rafael Marques botafogo (Foto: Thales Soares/GLOBOESPORTE.COM) 
Rafael Marques com a camisa 'No pain, no gain'
(Foto: Thales Soares/GLOBOESPORTE.COM)
 
 
O semblante ainda demonstra uma confiança que teve motivos de sobra para ser abalada diante de todas as dificuldades encontradas desde sua chegada ao Botafogo. Mas Rafael Marques se recusa a cair. A expressão em inglês na camisa que veste simboliza o momento que vive e o esforço necessário para superar o drama da perseguição ao primeiro gol que chega a 17 jogos: "No pain, no gain" (sem dor, sem resultado).

Aos 29 anos, com uma perseverança difícil de encontrar na maioria das pessoas, Rafael Marques ainda encontra forças para se mostrar disposto a vencer a desconfiança diante do olho de um furacão que precisou enfrentar. A crise pela saída de Loco Abreu, as críticas ao técnico Oswaldo de Oliveira, que o indicou, e a falta de resultados na época acabaram com qualquer possibilidade de a torcida ter paciência.

Neste domingo, contra o Palmeiras, o Botafogo vai jogar em Araraquara (SP), terra natal de Rafael Marques. O atacante ainda não sabe se será aproveitado pelo técnico Oswaldo de Oliveira, mas vive uma ansiedade pelo anúncio dos nomes que estarão relacionados para o jogo, como se percebesse que seu momento chegou. Nos punhos, traz as datas de nascimento da mulher, Carla, e da filha, Natália, de três anos. Agora, não vê a hora de repetir o gesto que fazia no Japão para comemorar seus gols, beijando as duas tatuagens.

- É jogo que eu queria. Faz 11 anos que não jogo na Fonte Luminosa, onde tudo começou. Essa é a semana em que estou sentindo mais vontade, como se fosse fazer um gol. Joguei na Ferroviária, no futsal, no campo. Acho que disputei uma Série B-1 nos profissionais e depois deixei o clube. Se eu for para o jogo, terei o apoio da minha família e meus amigos. Tenho de conseguir ingresso para todo mundo - avisou Rafael Marques.

Rafael Marques botafogo (Foto: Thales Soares/GLOBOESPORTE.COM) 
 
As datas de nascimento da mulher e da filha de Rafael Marques (Thales Soares/GLOBOESPORTE.COM)
 
Essa confiança ainda existir é uma demonstração da recusa do jogador em aceitar que não dará certo. A cada convocação de Oswaldo para entrar em campo durante os jogos, as vaias surgem, sempre fortes, acompanhadas de pedidos pela saída do treinador. Isso dá mais força ao atacante, preocupado com a situação das pessoas que o defendem das críticas e lutaram pela sua contratação.

- Procuro não desanimar. É um direito deles, torcer, vaiar. Não vou chegar aqui e dizer que eles estão errados. Eu é que vou ter de mudar isso. Não cheguei ainda onde quero e vou mostrar o que fiz lá fora ainda. Quando isso acontecer, tenho certeza de que a situação vai mudar. Encontro torcedores na rua e eles me apoiam. Ninguém veio colocar o dedo na minha cara para me cobrar. Dizem que estou me esforçando e vou conseguir - afirmou Rafael Marques.

A chegada de Bruno Mendes, de apenas 18 anos, deixou sua situação ainda mais difícil. O jovem entrou no time, marcou cinco gols em cinco jogos e assumiu a posição de titular. Rafael Marques mostra mais uma vez estar preocupado apenas com o sucesso do Botafogo. O gol da vitória por 3 a 2 sobre o Vasco mereceu uma comemoração especial.

- Não estou feliz pelo fato de não conseguir mostrar meu futebol. Claro que é importante que eu faça gols para isso melhorar, mas fico feliz por ter mudado um pouco essa questão em cima dos atacantes. Não comigo, mas com o Bruno e o Elkeson, que fizeram gols nos últimos jogos. Sempre tivemos uma das melhores médias de gols do Brasileiro. O gol do Bruno na virada contra o Vasco foi um dos momentos mais felizes que tive no Botafogo - comentou.

O jejum de gols de 17 jogos é algo inédito em sua carreira, segundo o próprio Rafael Marques. Nesse período, foi titular poucas vezes e ainda sofreu uma grave torção no tornozelo esquerdo na vitória por 3 a 1 sobre o Palmeiras, pela Copa Sul-Americana, jogo do qual saiu de maca aplaudido pelos torcedores aos 40 minutos do primeiro tempo, quando o time vencia por 1 a 0.

Na Turquia, eu era estressado. No primeiro ano de Japão, ainda reclamava muito com os árbitros. Depois, fui melhorando. O nome disso é paciência"
Rafael Marques
 
- Ninguém fica sete anos fora do país, ocupando uma vaga de estrangeiro à toa. Isso é um investimento grande e fui muito bem lá, mas nunca fui contratado para resolver, ser matador, mas para ajudar o grupo com bom futebol. Achei que minha adaptação seria mais fácil e não aconteceu. Essa situação (jejum) não está sendo agradável, mas a equipe está ganhando e isso me dá mais tranquilidade para trabalhar. Isso tem de acabar logo e penso muito nisso. Lá fora, não jogava como referência. Aqui, o Loco saiu, a posição carente, o professor precisou e me colocou. Achei até que viria para jogar com o Loco e não aconteceu. Como jogador, tenho de ajudar o time. Contra o Sport e o Palmeiras, tive a chance de jogar com mais um atacante e a torcida até me aplaudiu. Mas me machuquei, voltei contra a Ponte Preta de uma lesão chata no tornozelo, ainda sem estar cem por cento e fui muito cobrado - explicou.

Sua dedicação aos treinamentos é louvável. Rafael Marques já ficou algumas vezes depois das atividades, com ajuda de alguns membros da comissão técnica e goleiros, aprimorando as finalizações. Incapaz de se dar por vencido, ele não vai descansar enquanto se sentir em dívida.

- Sempre fui assim. Na Turquia, os treinadores não queriam deixar e eu batia de frente com eles, dizia que era bom para mim. Preciso mostrar que estou querendo, nos treinos e nos jogos. Quero fazer parte disso aqui, estou vestindo a camisa - afirmou.

Rafael Marques esteve perto de ser convocado para a seleção da Turquia. Na época, o técnico Fatih Terim respondeu uma pergunta sobre o atacante e disse que se ele fosse naturalizado, poderia ser chamado. O processo foi feito, mas ele não completou os cinco anos necessários no país para isso. De lá para o Japão, mudou seu comportamento e uma das características japonesas o ajuda a enfrentar o momento difícil que vive.

- Na Turquia, eu era estressado. No primeiro ano de Japão, ainda reclamava muito com os árbitros. Depois, fui melhorando. O nome disso é paciência - contou Rafael Marques.