O desafio de contratar: como os clubes se viram na luta por atletas
Das dicas de amigos ao uso de softwares, clubes têm estruturas muito diferentes para sobreviver em um mercado que vive revolução
Dezenove clubes contrataram jogadores depois de o Campeonato Brasileiro
ter começado. Alguns complementaram seu elenco com um par de peças,
outros taparam buracos nascidos de transferências, muitos redesenharam a
composição de seu vestiário. Não foram poucos: 19 entre 20
participantes. Diz a matemática que resta uma exceção. E a exceção
lidera a disputa.
O Fluminense não contratou ninguém. Todas as figuras que atualmente vão
a campo com a camisa tricolor já eram do clube antes do início do
Brasileirão. E isso não é gratuito, ocasional - pelo contrário. É um
processo racional, que parte de duas pontas que se entrelaçam para
minimizar a margem de erro nas escolhas tricolores: a formação de uma
estrutura profissional voltada ao processo de contratações e o aporte
financeiro para concretizar as ambições. Simplificando: não basta ter
dinheiro e não saber contratar; e pouco adianta saber contratar se não
tiver dinheiro para isso.
Esta reportagem analisa como os 20 clubes da Série A do Campeonato
Brasileiro contratam e como funciona o mercado no qual eles agem. No
infográfico abaixo, clicando em cada escudo, o leitor terá um resumo da
política e dos mecanismos usados por cada equipe para buscar reforços,
além de uma lista dos atletas adquiridos depois de o Brasileirão ter
começado - e a situação de cada contratação no elenco.
A pesquisa indica que contratar não é difícil. Difícil mesmo é
contratar bem. E contratar bem pede uma estrutura voltada para isso.
Dentro deste panorama, surge a notícia boa e a notícia ruim. Primeiro a
boa: os clubes brasileiros já perceberam que é fundamental
profissionalizar a caça por reforços. A ruim: é um processo que ainda
engatinha em boa parte das equipes do país.
Casos e acasos
Edu Gaspar, gerente de futebol do Corinthians
(Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)
(Foto: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians)
Não existe um padrão na tática de contratações dos clubes brasileiros.
Há casos e casos - ou acasos. Os procedimentos vão de métodos quase
científicos a opiniões absolutamente pessoais. Pegando o exemplo de dois
dos maiores clubes do Brasil, Corinthians e Vasco, é possível notar a
diferença na filosofia - e na capacidade de investimento.
O Corinthians, quando percebe que um jogador de seu banco de dados pode
tapar um buraco do elenco, vai em busca de vídeos de quase duas dezenas
de jogos dele. Cada observador, em uma equipe coordenada pelo gerente
de futebol Edu Gaspar, assiste a duas partidas (de diferentes
dificuldades, em diferentes momentos) do atleta e faz um relatório a
partir daí. Os dados são cruzados. Deste cruzamento, conclui-se se é um
nome a ser aprovado ou não.
Já o Vasco, quando precisa de um boleiro, fica refém de opiniões - vale
ressalvar que o clube está reformulando seu departamento de futebol. É
muito comum empresários perceberem as carências do elenco e venderem seu
peixe à diretoria, que vai aprovar ou não a sugestão. Parte do elenco é
formada assim. De resto, vai do gosto dos dirigentes e da comissão
técnica. Eles fazem suas observações e ouvem dicas de amigos para
contratar determinado jogador. Não há, no clube carioca, o mesmo método
do oponente paulista. E nem é necessariamente uma questão de visão de
futebol. É de dinheiro mesmo.
- O Vasco, no momento, não tem essa rede. Os jogadores nos são
oferecidos. Sabemos que é muito importante, mas demanda algum
investimento - comenta Daniel Freitas, diretor executivo de futebol do
clube cruz-maltino.
Criar uma rede de potenciais contratações, monitorar os jogadores,
analisar sua linha evolutiva em campo, observar números, estudar seu
histórico - é tudo um processo de profissionalização, que visa a
diminuir a margem de erro na aquisição de atletas (veja abaixo um exemplo simplificado do processo de contratações).
Mas o futebol não é uma ciência exata. Por mais forte que seja o filtro
adotado pelos clubes em suas análises, erros acontecem. E a opinião de
diretores e treinadores está sempre presente, influenciando no processo.
Alguns clubes acabam atrelados ao conhecimento de dirigentes. Em 2006 e
2010, o Inter ganhou suas duas únicas Libertadores. Na primeira, tinha
Fernando Carvalho como presidente e Vitório Piffero como vice de
futebol. Na segunda, tinha Vitório Piffero como presidente e Fernando
Carvalho como vice de futebol. Não é coincidência. Enquanto formava uma
base profissional, a instituição se aconchegava na boa noção dos dois
cartolas. Um caso exemplar: na primeira fase da Libertadores de 2006,
Carvalho, em conversa informal com repórteres, disse que um carequinha
do Libertad, do Paraguai, vinha sendo o melhor jogador da competição. Um
ano depois, a diretoria colorada soube que o jogador estava acertado
com o Grêmio. E mandou um representante às pressas para furar o rival e
fechar com o atleta na Argentina. Guiñazu é titular absoluto do Inter
desde então.
O problema é quando acontece o contrário. Se o dirigente entende de
futebol, ótimo; se não sabe patavinas do assunto, o clube corre risco de
se lascar. Em 2004, o Grêmio, com estádio próprio, com torcida
participativa, com camisa forte, foi lanterna do Brasileirão, nove
pontos atrás do penúltimo. Jogadores e treinadores se sucederam ao longo
do campeonato - em vão. Menos de três anos depois, o Tricolor estava em
uma final de Libertadores - com o mesmo estádio, a mesma torcida, a
mesma camisa. A diretoria é que era outra.
O método empírico, baseado na vivência dos dirigentes, segue
preponderante em clubes como Flamengo, Palmeiras e Náutico. Corinthians,
Botafogo, Fluminense, Inter e Coritiba são casos de administrações que
avançam para se desprender do cartolismo. E muitos outros estão no meio
do caminho, adotando métodos para contratações, mas ainda dependentes
dos pitacos de diretores.
Um novo jeito de contratar
Diretor Rodrigo Caetano é o núcleo de processo de
profissionalização no Flu (Foto: Edgard Maciel)
profissionalização no Flu (Foto: Edgard Maciel)
Faz pouco tempo, não mais do que cinco anos, que ganhou corpo um novo
filão no mercado brasileiro: o de diretor executivo. Trata-se de um
profissional pago para organizar a casa. É um funcionário com
atribuições administrativas - recebe salário para cumprir determinadas
tarefas, e auxiliar nas contratações costuma entrar no pacote.
Estes profissionais encabeçam um processo de migração no futebol
brasileiro. Os clubes, no esquema do Maria-vai-com-as-outras, aos poucos
vão trocando a gestão política pelo comando profissional em seus
departamentos de futebol. Ao perceber que os adversários estão
modificando suas estruturas e tendo resultados com isso, os dirigentes
se obrigam a adotar medida semelhante. Consequência: aos poucos, as
decisões deixam de ser exclusividade dos dirigentes políticos
(presidentes, vices e diretores de futebol) e passam a ser mais
compartilhadas por executivos de futebol.
A diferença entre um e outro é o preparo. O dirigente político costuma
ser indicado por um gosto pessoal do presidente - e a torcida fica à
mercê das opiniões dele. É um sujeito que geralmente gosta de futebol,
que é apaixonado pelo clube, mas que não tem um método em suas
observações - e não recebe um tostão pelo trabalho. O executivo traz a
reboque a ideia de uma gestão mais ampla. Tem (ou deveria ter) cursos de
gestão esportiva em seu currículo. É por causa dele que proliferam
pelos principais clubes figuras como as do analista de desempenho, do
observador de adversários e do olheiro - e ações como o scout.
A imponência destas novas estruturas depende do interesse do clube em
bancá-las. O Fluminense decidiu pagar o preço. Rodrigo Caetano foi
contratado como diretor executivo a peso de ouro no ano passado - com
salário similar ao dos principais jogadores do elenco. Estava no Vasco, e
antes trabalhou no Grêmio. Este ano, foi eleito o melhor executivo do
país por empresas de marketing e negócios no esporte. Abaixo dele, o
Tricolor estabeleceu uma estrutura de oito pessoas responsáveis pela
análise de jogadores que podem ser contratados. Uma delas é Marcelo
Teixeira, gerente de futebol, que trabalhou no Manchester United e tem
um forte banco de dados, com informações detalhadas de mais de 500
jogadores.
Ter estes profissionais permite que o Fluminense adote estratégias
parecidas com a do Corinthians (são os dois mais recentes campeões
brasileiros): forma um painel de opções, baseado em análises de
diferentes profissionais, e joga estas alternativas em um funil até
encontrar o nome que melhor complemente características técnicas,
táticas, físicas e comportamentais para o espaço carente no elenco.
Assim, o clube pode fazer contratações pontuais, respaldado pela injeção
financeira de sua patrocinadora, a Unimed. O Flu tem saúde no cofre
para manter seus jogadores. Por isso, não precisa repor vendas. Está aí o
porquê de ser o único clube que não contratou ninguém durante o
Brasileirão.
- Em 2012, ainda reduzimos nosso elenco, para que jogadores
não-utilizados de forma frequente dessem espaço a jovens. Com nosso
patrocinador, mantivemos o elenco, renovamos o contrato de quase a
totalidade dos jogadores. Com isso, os que vieram, vieram para resolver -
explica Rodrigo Caetano.
O Botafogo tenta adotar modelo parecido, mas com suas particularidades -
está longe de ter o mesmo dinheiro do rival. Se no Fluminense a
figura-chave é Rodrigo Caetano, no Alvinegro as decisões sobre
contratações passam por Anderson Barros, gerente de futebol do clube,
também um dirigente remunerado. Abaixo dele, há um departamento de
análise e estatística, que ajuda a monitorar possíveis reforços e a
dissecar atletas que entrem na alça de mira do clube.
Exemplo de parte de relatório feito pelo Botafogo ao abservar um atleta (Foto: Análise e estatística do BFR)
O Coritiba vai no mesmo embalo. Tem Felipe Ximenes, executivo de
futebol, na coordenação de uma equipe que conta com dois ex-jogadores do
clube, Pachequinho e Márcio Goiano, como observadores. Eles têm
participação direta na formação do elenco. Atletas como o volante Sérgio
Manoel e o lateral-direito Ayrton chegaram ao clube assim.
- A gente tem um grupo de funcionários do departamento de captação,
observação e scout que acaba mapeando várias regiões do Brasi. Não é
fácil, porque concorremos com outros clubes. Temos que chegar na frente,
para na hora de trazer esse atleta, não ter outro clube em cima. Também
fazemos observações ao vivo, in loco, e vamos colhendo
informações. Temos parceiros que nos trazem alguns detalhes. Nós vemos
do que o elenco necessita, o perfil de atleta, aquilo que a gente
imagina como bom jogador para o clube - diz Pachequinho.
Outros clubes adotam departamentos parecidos, mas que não estão
necessariamente focados em contratações. Eles auxiliam - porém, mais
para abastecer algum dirigente do que para sugerir alternativas a ele.
São os casos, por exemplo, da Central de Dados Digitais do Grêmio e do
Departamento de Análise e Desempenho do Bahia.
Zinho trabalha sem presença de um vice de futebol
no Flamengo (Foto: Márcio Alves / Ag. O Globo)
no Flamengo (Foto: Márcio Alves / Ag. O Globo)
É interessante observar também que a figura do executivo começa a
eliminar a presença do vice-presidente de futebol em alguns clubes. No
Flamengo, não houve um substituto para Paulo César Coutinho, demitido em
setembro. Zinho, diretor remunerado, é quem cuida das contratações. No
Grêmio, o cargo político está vago desde que Paulo Pelaipe assumiu como
executivo de futebol, em agosto do ano passado. Na contramão, está o
Inter, que tinha tanto o cargo político quanto o profissional até
Fernandão, diretor-técnico, virar treinador do time. Restou Luciano Davi
como vice-presidente de futebol - e responsável por negociações,
consequentemente. A gerência de futebol está vaga.
Enquanto uns eliminam opiniões, outros agregam. O caso do Santos é
único. A Vila Belmiro tem uma espécie de colegiado, com nove
integrantes, que delibera sobre as contratações do clube. As negociações
são decididas por maioria. O presidente Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro
tem poder de veto.
- O Santos tem um modelo de gestão pioneiro no futebol brasileiro, com
um Comitê de Gestão formado por sete pessoas de perfis complementares,
mais presidente e vice-presidente. As contratações passam pelo Comitê e
são decididas de maneira majoritária, mas com a chancela do presidente,
que tem poder de veto, já que novos reforços envolvem não apenas
questões técnicas, mas financeiras, de filosofia do clube e de
planejamento. Geralmente, os nomes são definidos pela comissão técnica e
pelo departamento de futebol. As condições gerais são passadas ao
Comitê, que analisa a operação como um todo - explica o presidente do
Peixe.
Alternativas
Em um mercado competitivo, os clubes buscam alternativas para formar
bons elencos sem gastar muito. Claro, nem sempre dá certo. Bahia, Sport e
Náutico, por exemplo, entram em um grupo de equipes que precisam
esperar o mercado esfriar para partir em busca de boa parte de seus
reforços. Afinal, eles não têm dinheiro para competir com concorrentes
de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que por
vezes começam a montar seus elencos ainda na temporada anterior - o São
Paulo, por exemplo, já tenta contratar Aloísio, do Figueirense, para
2013.
Com menos força, clubes de mercados menos abastados acabam contratando
atletas com o campeonato em andamento. Desde que começou o Brasileirão, o
Sport buscou 16 jogadores, entre apostas e atletas experientes, mas
pouco aproveitados em seus clubes. Demorou para pelo menos alguns deles,
casos de Cicinho e Hugo, engrenarem - e o time pernambucano luta contra
o rebaixamento. Sem poder competir de igual para igual no momento mais
quente das disputas por atletas, resta o que sobrou no mercado, e aí o
risco é maior. No Bahia, foram 12 contratações, e apenas Neto é titular.
Já o Náutico buscou 13 reforços desde a primeira rodada - entre eles,
Kieza, principal jogador da equipe.
- Há momentos em que o mercado fica muito aquecido, e os clubes de
menor investimento têm dificuldades. Não pode ir quando está aquecido,
porque não vai ter sucesso. Vai ter que esperar desaquecer - resume
Paulo Angioni, gerente de futebol do Bahia.
O Figueirense, por anos, usou como estratégia se unir ao empresário
Eduardo Uram, um dos principais do país, para formar seu grupo de
atletas. O atual elenco tem 12 jogadores ligados ao agente. Mas isso tem
um preço. Quando os atletas se destacam, a porta de saída fica mais
aberta. No momento, a parceria vive momento de turbulência, já que a
administração do clube quer liberdade para negociar com outros grupos ou
empresários.
Damião vai parar na Seleção depois de trabalho
de prospecção do Inter(Foto: Agência Reuters)
de prospecção do Inter(Foto: Agência Reuters)
O Inter é especialista em outra fatia do mercado de prospecção: a de
jogadores em vias de migrar para a turma dos adultos. Ninguém no Brasil
sabe captar tão bem quanto os colorados aqueles atletas que precisam de
uma última lapidada antes de ir para o elenco profissional. São jovens
de 16, 17, 18 anos, que já se destacam por seus clubes. Eles chegam ao
Beira-Rio com salários representativos para a idade, recebem um ou dois
anos de aprimoramento no último estágio da base (juniores ou time B) e
aí vão para o grupo principal. A seleção brasileira hoje tem três
jogadores com patamar de titulares que passaram por esse processo em
Porto Alegre: o volante Sandro (agora no Tottenham, da Inglaterra), o
meia Oscar (vendido para o Chelsea, também da Inglaterra) e o atacante
Leandro Damião.
- A gente tem nossa equipe sub-23, a equipe B, que disputa campeonatos
profissionais. Temos um setor de captação muito forte. São oito
observadores. Fazemos análises do plantel, as carências, e olhamos
atletas que possam suprir isso. No primeiro semestre, analisamos quase
todos os Estaduais. Agora, olhamos as Séries D, C e B - explica Jorge
Macedo, coordenador geral das categorias de base do clube gaúcho.
Cerca de 20 jogadores chegam anualmente ao Beira-Rio por meio dessa
prospecção de jogadores em vias de integrar o elenco profissional.
Alguns são espionados desde muito cedo - caso de Oscar, observado desde
os 14 anos. Quando estes atletas encontram espaço no time principal, o
clube ganha fôlego financeiro para investir em jogadores consagrados -
como D'Alessandro, Dagoberto e Forlan, por exemplo. Clubes como o
Fluminense começam a usar estratégia parecida.
Tecnologia encurta caminho para contratações
Wyscout. Soccerassociation. MF10players. Os três termos podem soar
estranhos para os leigos, mas fazem parte do dicionário de parte dos
responsáveis por contratações nos principais clubes brasileiros. São os
nomes de sites especializados em otimizar o processo de observação de
jogadores. Eles formam um banco de dados com informações detalhadas
sobre atletas de tudo que é canto. Dirigentes remunerados mergulham nas
páginas em busca de detalhes sobre boleiros que possam interessar ao
clube para o qual trabalham.
Exemplos de sites que auxiliam no monitoramento de possíveis reforços (Foto: Reprodução)
Os três sites citados acima são usados diariamente por Cícero Souza,
executivo de futebol do Sport, e por outros responsáveis por
contratações no futebol brasileiro. Um deles, o MF10players, fala
português. Foi lançado em maio e já tem como clientes três clubes da
Série A: Grêmio, Inter e Ponte Preta, além de executivos (caso de
Cícero) e empresários que trabalham com futebol. Foi criado por dois
jovens gaúchos: um especialista em informática, Marcelo Nadler, e outro
acostumado a transitar no futebol, Martin Carvalho, ex-jogador de Inter e
Vasco, filho de Fernando Carvalho.
O Wyscout também é assinado por Botafogo e Corinthians, além de uma
penca de clubes estrangeiros - alguns dos maiores da Europa entre eles. A
assinatura mensal do pacote completo custa R$ 1,8 mil mensais. O
Soccerasssociation é mais barato: R$ 650,00 por três meses.
O GLOBOESPORTE.COM teve acesso à área de assinante do MF10players. É
uma mistura de agenda com ferramenta de busca. O sistema permite que se
filtre a situação de jogadores de acordo com a necessidade do clube. Se,
por exemplo, o Flamengo quiser um meia argentino entre 22 e 25 anos que
atue na primeira divisão de seu país, poderá fazer a busca. Em um
clique, terá 68 opções. Caso se interesse, por acaso, por Luis María
Lagrutta, do Atletico Rafaela, terá acesso a uma página com a lista das
últimas partidas do jogador e o histórico da carreira dele, subdividido
por minutos jogados, quantidade de partidas, número de vezes em que foi
titular, frequência com que entrou no decorrer do jogo ou foi
substituído e montante de gols e cartões (veja o exemplo aqui).
Links de vídeos do jogador acompanham a página. O assinante pode criar
listas com atletas que caiam em sua raia de interesse - e comparar os
prós e contras de cada um a partir dela. Assim, forma uma agenda pessoal
de contatos. E já tem em mãos boa parte das informações necessárias
para decidir se vale a pena contratar ou não o jogador.
Existem outros sites e programas. O Coritiba usa um chamado Prozone.
Ele tem o incremento de aspectos táticos - costuma ser usado por
analistas de desempenho para observar adversários e até o próprio time.
Uma ferramenta de acompanhamento em tempo real dá ao assinante uma noção
imediata do desempenho de determinado jogador na partida que ele está
disputando no momento.
Até a seleção brasileira utiliza recursos assim. No caso, não para
contratar jogadores, mas para observar aqueles na mira do treinador para
futuras convocações. A estratégia começou com Dunga e continua com Mano
Menezes. O site utilizado por eles é o ISB, da Alemanha, que teve o
ex-presidente do Flamengo Luiz Augusto Veloso como representante no
Brasil.
Concorrentes e aliados
O aquecimento do mercado brasileiro fortaleceu a presença de empresas
que são, ao mesmo tempo, aliadas e concorrentes dos dirigentes. Grupos
empresariais perceberam que poderiam lucrar com o futebol. E passaram a
agir nos mesmos moldes de um clube: procurando, contratando e vendendo.
É o caso da Traffic. Antes especializada em marketing esportivo, ela
criou, em 2005, o Desportivo Brasil, um clube-empresa que reúne os
jovens atletas nos quais se interessa. Dali, eles são repassados a
outros clubes. E isso rende lucro.
A descoberta e posterior negociação de jovens atletas foi, por anos, o
melhor filão da Traffic. Mas o panorama mudou, e a empresa se viu
obrigada a focar em duas outras frentes: a representação de jogadores e a
intermediação em negociações. Como os clubes brasileiros passaram a
girar mais dinheiro, os elencos ficaram mais exigentes, com contratações
pesadas. Encaixar jogadores jovens nos clubes virou tarefa complicada. O
jeito foi entrar na roda dos negócios mais caros mesmo.
Conca na China: negociações interessam aos
investidores (Foto: Reprodução / Sina.com)
investidores (Foto: Reprodução / Sina.com)
Mas a mão que afaga é a mesma que apedreja, parafraseando o poeta
Augusto dos Anjos. Uma empresa não entra no mercado para rasgar
dinheiro. Se a Traffic ajuda a colocar, por exemplo, Conca no
Fluminense, vai querer vender o jogador quando pintar uma negociação
boa. Foi o caso da proposta da China por ele. Se ela firma uma parceria
como a que colocou Ronaldinho no Flamengo, vai querer ver perspectiva de
futuro lucro. Uma confusão jurídica rompeu a relação entre a empresa e o
Rubro-Negro sete meses depois da chegada do meia-atacante ao Rio de
Janeiro.
É a lógica do mercado. E aí os interessem se confundem. A Traffic tem
oito observadores que analisam jovens jogadores e concorrem com os
clubes por eles. Estes mesmos clubes, tempos depois, podem precisar dela
para ter determinado atleta. E fica ciente de que em seguida poderá
perder este reforço, porque vê-lo estacionado por muito tempo em um
mesmo local não costuma ser o mais interessante para o parceiro do
clube. Não por acaso, o investimento em jogadores já rendeu cerca de R$
180 milhões à Traffic.
Há outros casos. A Brazil Soccer, empresa do empresário Eduardo Uram,
passou a coordenar o Tombense, clube mineiro que acaba de subir para a
primeira divisão. O banco BMG age em duas frentes: ou como forte
financiador de contratações, ou como patrocinador. E há ainda a DIS,
braço esportivo do Grupo Sonda, que costuma ter pesada participação em
jogadores de alguns dos principais clubes brasileiros - casos de Inter e
Santos, especialmente. A saída turbulenta de Paulo Henrique Ganso da
Vila Belmiro para o São Paulo teve a influência do grupo comandado por
Delcir Sonda. Chegou um momento em que clube e empresa não se entenderam
mais, e as mãos que antes afagaram passaram a trocar pedradas - e a
oferecer até ameaças jurídicas.