Plantão
Carlos Albuquerque
RIO - Há cerca de 15 dias, o telefone tocou na sala do presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira. Era uma ligação ansiosamente esperada por todos ali. Do outro lado da linha, estava o arquiteto Oscar Niemeyer. Ele queria avisar a Liszt e sua equipe que o projeto que havia se comprometido a fazer para o local - um centro de exposições - estava finalmente pronto, após quase três anos.
- Criei um prédio todo envidraçado, quase transparente, exibindo uma forma irregular e surpreendente - explica Niemeyer, 102 anos, por e-mail. - Foi a solução encontrada para preservar a beleza do nosso Jardim Botânico.
Após a ligação do arquiteto, Liszt e sua equipe foram convidados a ir ao escritório de Niemeyer, receber o projeto das mãos dele mesmo.
- Depois do impacto que foi subir as escadas da sua antológica cobertura em Copacabana, eu e Liszt ainda nos surpreendemos com a postura dele - conta Guido Gelli, diretor de ambiente e tecnologia do Jardim Botânico. - Ele pareceu genuinamente surpreso com o fato de termos amado o projeto, como se fosse um iniciante e não um papa da arquitetura mundial.
O pedido para que Niemeyer projetasse o centro - que vai abrigar trabalhos que façam a ponte entre arte e meio ambiente - partiu de Liszt, "na cara de pau", segundo o próprio.
- Eu o encontrei num evento e perguntei se ele queria dar um presente ao Jardim Botânico. Ele aceitou na hora, mas depois fiquei sem jeito de cobrar. Há um ano, estive com ele de novo e Niemeyer me lembrou do projeto, dizendo que estava em falta conosco. Fiquei envergonhado e emocionado.
O centro de exposições - que Liszt, numa previsão otimista, planeja inaugurar no início de 2012 - vai ser construído em frente ao Espaço Tom Jobim, no lugar onde hoje se encontra uma garagem que vai ser deslocada. Em dois anos, o Jardim Botânico pretende também inaugurar o projeto de expansão do Museu do Meio Ambiente, que foi alvo de um concurso de arquitetura, em maio, vencido por Bruno Santa Cecília e André Oliveira.
- A área fica próxima ao centro de visitantes e é um local que chamamos de corredor cultural do Jardim Botânico - conta Liszt. - Essa garagem, com movimentação de carros e até tratores, não combina com esse corredor. Por isso, será transferida.
De acordo com Guido Gelli, o centro de exposições vai ajudar a desafogar a produção cultural do Jardim Botânico.
- Temos uma demanda muito grande de exposições e eventos de arte ligada à natureza. Como não há um espaço apropriado, estamos improvisando esses trabalhos numa tenda perto do centro de visitantes, o que não é o ideal, porque trata-se de um lugar muito pequeno. O projeto de Niemeyer resolve isso brilhantemente. É uma estrutura muito leve, com os pilotis vazados, permitindo a visão do centro de visitantes e do arboreto do Jardim Botânico.
Além da imponência e praticidade, a obra assinada por Niemeyer também vai, obviamente, valorizar o local.
- Acreditamos que os turistas que vão a Brasília e ao MAC, em Niterói, só para ver as obras de Niemeyer, vão incluir o Jardim Botânico nessa rota - diz Guido, lembrando outro compromisso do recente encontro com o arquiteto. - Ele disse que faz questão de estar presente à inauguração.