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Joia 2012: apelidado de Mini Mago, Vitinho curte a bonança pós-guerra

Com trajetória relâmpago e morador do Complexo do Alemão, atacante, comparado a Maicosuel, será integrado aos profissionais na pré-temporada

Por Thales Soares Rio de Janeiro
 
Há pouco mais de um ano, o Complexo do Alemão foi transformado em um palco de guerra. Policiais invadiram o local e imagens da fuga de dezenas de bandidos correram o mundo. Ali, começava a pacificação de um dos pontos mais perigosos do Rio de Janeiro. Bem de perto, o garoto Vitinho acompanhou as cenas. Do alto do morro, ele se cercava de cuidados para evitar balas perdidas, ao lado do pai Rinaldo e do irmão Vagner, de apenas oito anos.

Depois do sufoco e ainda sem saber o que futuro reservava para a sua vida, Vitinho também começou uma trajetória relâmpago. Contratado por empréstimo pelo Botafogo, em janeiro deste ano, passou a receber tratamento de jóia nas categorias de base do clube. Rapidamente, teve seus direitos comprados junto ao Audax Rio e o compromisso assinado até o dia 10 de outubro de 2016. Agora, no dia 4 de janeiro de 2012, inicia uma nova etapa, quando estará no grupo principal, aos 18 anos, durante a pré-temporada.

Vitinho revelação do Botafogo (Foto: Fernando Soutello / Divulgação AGIF) 
O atacante Vitinho conduz a bola no confronto com o Flamengo (Foto: Fernando Soutello / Divulgação AGIF)
 
- Era uma situação muito complicada, com guerra e tiro para todos os lados. Deixei de ir a vários treinamentos por causa disso. Na época, eu estava no Sendas (que mudou o nome para Audax Rio). Pensei em sair de lá e morar com um ti. Minha casa é bem no alto e cercada por várias outras. Mesmo assim, a gente ficava no quarto, com medo de que acontecesse alguma coisa. Às vezes, ficava deitado para diminuir o risco – disse Vitinho.

Ao contrário de vedetes do futebol atual, os contratos da jovem promessa ainda não permitiram uma mudança radical em sua vida. Vitinho ainda mora no Complexo do Alemão. A dificuldade nunca o impediu de sonhar com um futuro melhor para ele e sua família, que sofreu um baque em 2009, quando sua mãe Fernanda se separou do seu pai e foi morar em Caxias.
Até me colocaram o apelido de Mini Mago, sei que ele é um jogador que tem características parecidas com as minhas, mas não gosto de ficar me comparando a ninguém"
Vitinho
 
- Meu sonho agora é poder jogar bem, em alto nível para chegar em grandes clubes do futebol europeu e poder ser convocado para jogar uma Copa do Mundo – comentou Vitinho, sem se intimidar com a proximidade da próxima edição da competição, que será em 2014, no Brasil. - Para o futebol, não é tão cedo assim.

Vitinho começou cedo. Aos seis anos, quando ainda morava em Bonsucesso, foi descoberto no campinho de um conjunto habitacional. Passou a integrar o time de futsal do Mello Tenis Clube. Aos 12 anos, recebeu a chance de fazer a mudança para o campo e não hesitou em aceitar o convite do Sendas, atual Audax Rio. Ficou lá até os 17 anos, quando acabou derrotado pelo Botafogo na semifinal do Campeonato Carioca juvenil de 2010, nas cobranças de pênaltis. O maior incentivo para seguir na carreira foi do pai.

- Na época, estava mal nos estudos e minha foi contra eu fazer o teste. Mas fiz, passei por várias peneiras e fiquei – comentou Vitinho, fã de Robinho. – Meu pai me levou para assistir a um jogo dele contra o Flamengo, em 2003, no Maracanã. O Santos ganhou (2 a 0). Hoje, sempre que posso, vou ao Engenhão acompanhar o Botafogo.

No time principal atual, a comparação é inevitável com Maicosuel. Com a camisa 7 e um corte de cabelo parecido, Vitinho brilhou nos juniores com um estilo parecido ao do Mago, um dos principais ídolos da torcida do Botafogo. Agora, terá a chance de jogar ao lado dele nos profissionais, mas tentando se desvencilhar das semelhanças com o craque, inclusive com muito bom humor.

 

- Ele é feio para caramba. Eu sou muito mais bonito – brincou Vitinho. – Até me colocaram o apelido de Mini Mago, sei que ele é um jogador que tem características parecidas com as minhas, mas não gosto de ficar me comparando a ninguém.

Consciente da história da camisa 7, a jovem revelação mostra até uma certa superstição, bem no clima dos botafoguenses. Quando Cidinho ainda estava no time de juniores, Vitinho usava a 11. Com a promoção do companheiro para os profissionais, mudou de número e viu a sua vida mudar junto.

- O Cidinho era o 7. Quando ele subiu, passei a usar a camisa dele e começou a dar sorte. Depois, até pensei em voltar a usar a 11, mas o meu técnico (Eduardo Húngaro) falou que eu estava fazendo com gol com a 7. Pensei bem e achei melhor deixar como estava – comentou Vitinho, que foi um dos destaques do Campeonato Brasileiro Sub-20, quando o Botafogo chegou na semifinal da competição, fato inédito para o clube.

Este ano, Vitinho chegou a participar de um jogo pelos profissionais, mas a experiência não foi boa. Quando o time principal não se classificou para as semifinais da Taça Rio, os juniores foram chamados e sofreram uma goleada de 5 a 2 do Boavista na disputa do Troféu Carlos Alberto Torres. Ele marcou um dos gols.

- Na hora em que eu fiz o gol, o nosso time ainda estava ganhando (o Botafogo chegou a fazer 2 a 0). Foi muito legal ter essa chance. Ainda mais com o meu pai assistindo. Não tem sensação melhor do que essa - contou Vitinho, que hoje pode curtir a vida no Complexo do Alemão com mas tranquilidade, com direito a uma vista inesperada no passeio de teleférico.

Nome: Victor Vinícius Coelho dos Santos (Vitinho)
Nascimento: 09/10/1993, no Rio de Janeiro (RJ)
Idade: 18 anos
Altura e peso: 1,78m / 71kg
Último clube: Audax Rio
Títulos: Campeão Estadual de Juniores (2011)