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Candidato à presidência, Montenegro vê Botafogo como "cachaça"




Montenegro já faz planos para voltar a presidir o Botafogo

Ex-cartola, que esteve à frente do clube no título do Brasileiro em 95, solta o verbo sobre o futuro e o passado do alvinegro. Candidato à presidência, Montenegro vê Botafogo como "cachaça"

Candidato à presidência do clube, Carlos Augusto Montenegro fala sobre seus planos para a sua segunda gestão à frente do Glorioso Luciano Paiva e Pedro Ponzoni, especial para o Pele.Net

RIO DE JANEIRO - Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), deve ser candidato único no pleito que escolherá o próximo mandatário do clube, marcado para o dia 27 de novembro. Muitas vezes levado pela emoção, ele diz que o Botafogo é um vício e que "o nosso time de hoje é até melhor do que o do Brasil".

GALERIA DO CARTOLA
Montenegro mostra todo o apreço que tem pelo Botafogo até mesmo no seu escritório

O jornalista alvinegro Armando Nogueira prestou homenagem ao então presidente

O fanatismo de Montenegro pode ser visto em seu "porquinho" com o escudo do time

Ex-cartola registra o titulo mais importante no seu único mandato: o Brasileirão de 95.

Carlos Augusto Montenegro deve ser candidato único à presidência do Botafogo
Montenegro recebeu a equipe do UOL Esporte e revelou suas idéias para voltar ao comando do clube pela segunda vez. Responsável por levar o Glorioso de volta a General Severiano e pela conquista do Campeonato Brasileiro de 95, o dirigente analisa a gestão do atual presidente, Bebeto de Freitas, fala sobre o futuro do Engenhão, ''desafetos'' como Dodô, os possíveis reforços e até a volta do artilheiro Túlio Maravilha, do Vila Nova.

Pele.Net: Montenegro, você chegou a dizer em algumas ocasiões que estava cansado de futebol. Por que decidiu voltar a se candidatar à presidência do Botafogo?

Montenegro: "Primeiro, porque o Ibope está bem, não preciso tomar conta.

Segundo, o Bebeto de Freitas realizou uma grande administração, tirou o clube da Segunda Divisão, acertou as finanças, diminuiu as dívidas com a luta dele pela Timemania, temos o Engenhão, o Botafogo é considerado um dos melhores times do Brasil desde 2005 e acho que esse trabalho tem de continuar. Teremos dificuldades ano que vem porque já não temos mais as receitas. Foram adiantadas, pois tiveram de ser. Dá para enfrentar. Senti que baixou um astral negativo de uma hora para outra, ninguém queria ser presidente. Talvez eu possa unir as pessoas para que não venhamos morrer na praia.

A terceira razão, a mais importante, é que hoje em dia a tarefa mais difícil de um presidente é administrar vaidades. As pessoas que ficam embaixo querem poder, estacionamento, cargo e ingressos. Elas acabam brigando por causa dessas porcarias. Isso me dá um trabalho miserável. Eu sempre sou o bombeiro, o diplomata para arrumar e dar jeito nas coisas. Fazia isso sem ter a caneta. Vou colocar as pessoas, descentralizar e fazer igual eu faço aqui no Ibope: cobrar resultados".

Pele.Net: Em relação à sua última gestão, o que você não faria agora no clube?
Montenegro: "Inverterei a pergunta. Farei uma coisa que não fiz no passado. Na época, me deu um arrependimento tremendo. Vou arrumar o futebol amador do Botafogo. Quero encontrar um sócio, um parceiro e construir um novo centro de treinamento. Pretendo modernizar Marechal Hermes. Organizar e profissionalizar o futebol amador do clube. Minha meta são três: colocar ordem no futebol amador, quitar o restante das dívidas do Botafogo, vou lutar muito para isso. As dívidas federais já foram com a Timemania, agora faltam as cíveis e as trabalhistas. E tentar manter a equipe de futebol profissional no nível atual".

Pele.Net: O clube agora tem um estádio. O que ainda precisa ser feito para que a nova casa alvinegra passe a dar lucro?

Montenegro: "O Engenhão é um orgulho do Botafogo, mas ainda não foi feito nada. A gente tem muita coisa para tocar ali dentro. Temos de encontrar um parceiro. Precisamos dar um jeito nas bilheterias, colocarmos uma loja de material esportivo, restaurante, um estacionamento, uma loja de conveniência. Depois, com a ajuda do poder público, precisamos melhorar o acesso ao estádio.

É a nossa casa com muito orgulho, mas precisa ser feito tudo".

Pele.Net: A torcida reclama que o Engenhão não tem a cara do Botafogo. Qual é a sua idéia quanto a isso?

Montenegro: "Não tem a cara do Botafogo, ainda vai ter. E outra coisa, não adianta dizer que o clube vai fazer isso sozinho. Tem 20 anos que a gente escuta dizer que o amador vai fazer tudo sozinho e não faz. Sabe qual é a solução? Sócio. Precisamos de pessoas que toquem operacionalmente aquilo. Pessoas que estão acostumadas com isso. O Botafogo tem de fazer com eles e ganhar dinheiro com essa estrutura. Atualmente não ganha nada, só joga lá. Depois, vai continuar jogando e recebendo. As pessoas precisam de opções ali dentro. Quem sabe até mesmo um museu do clube. O que não falta ali é espaço, pois temos muitas idéias".

HOMENAGEM

"O time do Botafogo, jogando a final, era a cara do Montenegro. De
uma tenacidade sem igual. Quem viu a decisão no Pacaembu terá visto, viu em cada
gesto da equipe, os mais claros acenos da obstinação de Carlos Augusto
Montenegro. Da santa fé que move o coração de Montenegro. Em tudo, esse jovem
lembra o velho Carlito. É fanático pelo Botafogo, sem ser desatinado. É
informal, sem perder a linha. É cartola, sem cartolices. Pelo bem do Botafogo,
Montenegro vai à missa, e se preciso for, vai à macumba, também...".

texto de Armando Nogueira, jornalista e torcedor do Botafogo

Pele.Net: Na sua visão, o que é deixar um estádio com a cara de um clube?

Montenegro: "O estádio precisa de identidade. Um mastro bem grande com a bandeira do Botafogo, que você possa ver do Rio de Janeiro todo. Segundo, ter os escudos dentro do campo, pois é onde as televisões focalizam. Terceiro, ter coisas nossas dentro do espaço: churrascaria, lojas, estacionamento. Não é sair pintando de preto e branco e colocar estrela. O Morumbi, por exemplo, não tem a cara do São Paulo. Apesar de ser particular, está mais para um Maracanã.

O Corinthians, o Palmeiras e o Santos estão sempre no Morumbi. Sabe quais os estádios que parecem seus donos? O Barradão, do Vitória, o Olímpico, do Grêmio, e o Beira-Rio, do Internacional. É nessa linha a minha idéia".

Pele.Net: Durante algum tempo chegou-se a comentar que a diretoria poderia ampliar o número de lugares no Engenhão. Você pretende tocar essa idéia?

Montenegro: "Só se precisar. Por enquanto não tivemos essa necessidade. Na verdade, são poucas as partidas que verdadeiramente lotam o Engenhão. O Botafogo enche muito mais que a seleção brasileira, o nosso time de hoje é até melhor do que o do Brasil. No dia que a necessidade pedir podemos fazer mais 7,5 mil lugares atrás de cada um dos gols. Várias coisas precisam ser estudadas e levadas em conta. Ventilação é uma delas. Mas temos previsão para isso tudo".

Pele.Net: A sua família é contra o seu retorno oficial ao futebol?

Montenegro: "A minha família pensa igual a mim. O Botafogo é uma cachaça, um vício. Eu gosto muito. Independente de ser ou não presidente, eu sempre acabo me envolvendo. Para ter todo o trabalho que dá, acatar coisas que não concordo, ficar apartando vaidades é melhor eu assumir de vez. Se eu me afastasse em definitivo e nunca mais me envolvesse com as coisas do Botafogo, talvez a família até prefira isso, tudo bem. Mas todos já sabem que não consigo. Então, se é para ter envolvimento, que seja com a caneta na mão".

Pele.Net: Por todo o seu amor e cuidado pelo Botafogo, muitos o consideram uma espécie de Eurico Miranda. O que você acha disso?

Montenegro: "Já me disseram que eu sou um Eurico Miranda do bem. Também me disseram que eu lembro muito o Carlito Rocha, que não o conheci. Mas eu sou o Montenegro, não vou mudar nunca. Fiquei marcado por ter conseguido levar o Botafogo de volta à sede de General Severiano. O alvinegro é muito supersticioso. Logo depois da sede, Deus e meu pai me ajudaram lá de cima, e o clube conquistou aquele título brasileiro de 95. Ficou marcado. Sou chamado de presidente eterno, tenho o carinho da torcida. Acho até que vou perder um pouco, pois você quando está no poder sempre tem um desgaste".

PeleNet: O Montenegro presidente sempre ficou conhecido por falar o que pensa. O lado torcedor atrapalha o lado dirigente?

Montenegro: "Sou mais conhecido pelo Botafogo do que pelo Ibope. São 30 anos na presidência do instituto, que tem 66 anos, mas a primeira coisa que vem à cabeça é o clube. Na verdade, o Botafogo é antagônico com o Ibope. Aqui, eu preciso ter equilíbrio, tranqüilidade, você funciona como um juiz, não pode ter lado, time ou partido. No clube, eu tenho o lado que me complementa porque posso ser tudo o que não sou no Ibope. Não vou mudar. O torcedor vem antes do presidente. Você só chega à presidência porque se é torcedor. Eu só vou aceitar continuar dessa maneira. A coisa que mais detesto é presidente com blazer, na tribuna de honra e tendo de assistir aos jogos ao lado dos presidentes dos outros clubes. Já pensou se o juiz faz uma besteira? Eu dou um soco no presidente adversário. Estou ali para gritar, desabafar e chorar de emoção ou de alegria. Para ir aos jogos e mostrar um ser que não se movimenta, todo arrumadinho, eu fico no Ibope. Sou torcedor-presidente".

Pele.Net: Caso seja eleito, qual será o papel do Bebeto de Freitas em sua gestão?

Montenegro: "O Bebeto é uma figura reconhecida como um grande botafoguense, uma liderança e tem um temperamento difícil. Em certos momentos as pessoas não o entendem. Mas ele só fez o bem pelo clube. O Bebeto pode fazer o que ele quiser. Ele já me disse que pelo tipo de vida que sempre levou, um executivo remunerado, ele precisa receber. Remunerado ou não, o Bebeto pode escolher o que ele quiser. Como ele gosta muito do esportes amadores, se quiser, pode ficar com essa parte sem problema. Além disso, já conversei com todos que trabalham na atual administração para colaborarem com o Botafogo. Melhor, todos estão intimados. Nenhum deles remunerados, pois não querem isso. O Bebeto, que durante seis anos trabalha por paixão, precisa receber".

Pele.Net: Como você explica as péssimas campanhas de Fluminense e Vasco neste Brasileiro?
Montenegro: "Não conheço a atual situação do Vasco, mas fica claro que o problema deles é sofrível por falta de recurso. Não quero que eles sejam rebaixados, torço para que o futebol do Rio esteja sempre forte. O Roberto Dinamite assumiu o Vasco e entrou às cegas, sem projeto, sem estrutura. Não sei se foi furada, mas ele sempre quis isso. Se entrou em uma furada, você pode ter certeza de que foi consciente. O problema do Fluminense parece outro. Eles quase foram ao céu e hoje estão quase chegando ao inferno. Não foi por falta de dinheiro, foi por pura arrogância. Acharam que venceriam a Libertadores e o Brasileiro seria uma brincadeirinha. Faltou planejamento, pois perdeu jogadores e não contratou".

Pele.Net: Em 95, você queria que o Bebeto fosse o jogador-símbolo da sua gestão. Pretende tentar fazer uma contratação de impacto para 2009, caso seja eleito?
Montenegro: "Claro que tenho essa idéia. O clube precisa de um atleta que venha para fazer a diferença. Quero fazer isso com a ajuda de patrocinadores. Um jogador do meio para frente, um que faça gols, um que as crianças queiram entrar com ele em campo e as pessoas comprem camisas. Não é o Túlio. Ele virá por pura condição técnica. É o segundo maior artilheiro do Brasil. É ídolo do Botafogo, mas vai disputar o Campeonato Carioca. Depois será avaliado, caso vá bem, fica para o Brasileiro. Não tem projeto de gol mil. É um atleta que dentro da função dele ainda pode ser útil".

Pele.Net: Zelar pela imagem do ídolo sempre foi uma preocupação sua?

Montenegro: "Tenho um enorme cuidado com o ídolo. Não quero fazer com o Túlio o que fizeram com o Romário e com o Edmundo. Hoje, o Vasco entra em campo com menos um. Na atual posição do Edmundo, eu jamais o contrataria. Ele está fazendo essa ligação do meio com o ataque. Não tem a mínima condição. O ídolo é quem leva a torcida para o estádio, forma uma geração de novos torcedores".

Pele.Net: Você tem mágoa do Dodô? Por que ele não foi o ídolo que o clube tanto precisa?

Montenegro: "O Botafogo sempre quis, o Dodô não. Tentamos três vezes segurá-lo, mas ele entrou e saiu em todas as oportunidades. Ele chegava, nós dizíamos que o clube estava de portas abertas e que ele seria o nosso ídolo. Porém, depois nos virava as costas. Quando o dinheiro estava acabando, ele voltava, ganhava dinheiro e nos deixava novamente. Não tenho raiva dele, tenho raiva do dinheiro".

Pele.Net: Você tem planos para ajudar ex-atletas com história pelo Botafogo?

Montenegro: "Claro. Hoje, por exemplo, o Túlio cabeça-de-área é a cara do clube. Ele, o Lucio Flavio, são pessoas que se quiserem poderão trabalhar pelo Botafogo no futuro. Caso eu vença a eleição de novembro, o ex-goleiro Vágner vai estar conosco. Ainda não sei o que ele vai fazer, mas faço questão da presença dele. É uma pessoa sensacional e tem uma história vitoriosa pelo clube". Pele.Net: E a eliminação para o River Plate, em 2007, pela Sul-Americana? Você se arrepende das atitudes e das proporções que suas críticas ganharam naquela época?

Montenegro: "Eu nunca falei sobre aquela partida abertamente, vou comentar agora
pela primeira vez. A culpa daquela eliminação foi de uma coisa chamada
pré-contrato. Esse documento é a maior covardia que existe com os clubes. Como é
que pode um atleta assina um compromisso com outro clube faltando seis meses
para o fim de um contrato em vigor? E o pior, com o término das inscrições para
os campeonatos, não se pode contratar peças para substituir esses que vão sair.
Os clubes são reféns desses jogadores que estão com a cabeça no ano que vem, que
não têm mais comprometimento, que não querem se lesionar ou se esforçar. Esses
atletas tiram o pé e não jogam com raça". Pele Net: Quais seriam os jogadores
daquele time de 2007 em questão?
Montenegro: "Vou citar três atletas: Dodô, já conversado com o Fluminense,
Zé Roberto, assinado com o futebol da Alemanha, e Joilson, que tinha fechado
com o São Paulo na véspera da partida contra essa mesma equipe, pelo
Brasileiro. O Juninho também já estava mais ou menos acertado com o São
Paulo. Naquela ocasião, o Zé Roberto foi expulso de uma maneira idiota ainda
no primeiro tempo, o Botafogo vencia por 2 a 1. Na etapa final, estávamos
jogando bem e o River teve um expulso. Naquele momento, fomos soberbos e
arrogantes, foi um festival de gols perdidos. Quando eu falei que estava
doido para terminar o ano, me livrar de alguns jogadores, contratar
argentinos e uruguaios, muitos disseram que eu estava falando besteira
porque tinha muito campeonato pela frente. Aquilo foi um recado, pois já não
tinha mais o que ser feito mesmo. Faria tudo novamente. A solução é acabar
com o pré-contrato, que é difícil, ou liberar os clubes para contratarem
outros atletas quando os jogadores assinarem um documento deste tipo".

Ouçam abaixo: