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Veja a repercussão da morte do escritor português José Saramago

Prêmio Nobel e autor de 'Ensaio sobre a cegueira' morreu aos 87 anos.

'Sua morte foi uma grande perda para a literatura mundial', diz Moacyr Scliar.
Do G1

                                          Saramago morreu ao 87 anos (Foto: AFP)

A morte do escritor português José Saramago, nesta sexta-feira (18), aos 87 anos, mexeu com colegas de profissão e admiradores famosos. A Academia Brasileira de Letras, onde Saramago era sócio correspondente, decretou luto. A bandeira da ABL ficará hasteada a meio mastro na sede da academia por três dias.

Confira as declarações:

João Ubaldo Ribeiro, escritor:
"Para mim, representa a perda de um bom camarada. Nós nos dávamos muito bem acho que não nos tornamos amigos próximos por falta de convivência. Para a literatura portuguesa — a literatura do mundo contemporâneo, aliás — representa a perde de um de seus maiores escritores em todos os tempos."

Moacyr Scliar, escritor:
"Eu recebi com muito pesar a notícia da morte do Saramago, de quem eu era leitor, admirador e colega na Academia Brasileira de Letras, local em que ele foi eleito membro correspondente mas não chegou a tomar posse. Fui muito amigo dele, convivi com ele quando ele visitou Porto Alegre. Sua morte foi uma grande perda para a literatura de lingua portuguesa e também para a literautura mundial."

Luiz Schwarcz, editor no Brasil e amigo de Saramago:
"No Brasil, o lançamento de 'Jangada de pedra' foi uma festa interminável. Filas enormes na livraria Timbre e a efusão de beijos e abraços no escritor fizeram-no exclamar, 'Luiz, esta gente quer me matar de amor'. Daí para frente, esse amor dos brasileiros por José Saramago só cresceu, suas visitas se tornaram mais frequentes, e vários dos últimos livros lhe ocorreram em viagens pelo país, nas quais estávamos juntos. (...) Agora só quero me despedir mais uma vez de José. Com as melhores lembranças, o amor, e minha saudade. Maldita palavra, tão portuguesa, que agora ficará associada ao meu amigo. Mas saudade não tem remédio, não é, José?" (texto inteiro aqui).

Fernando Meirelles, cineasta, que adaptou 'Ensaio sobre a cegueira' para o cinema:
"[Ele] dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos embaçam nossa visão. (...) Mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse tendo que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui." (veja o restante da declaração aqui.)

Marcos Vinicios Vilaça, presidente da ABL:
“A Academia estava aguardando a informação de quando José Saramago viria ao Rio para providenciar a organização da sua posse na Cadeira 16 de Sócio Correspondente. A notícia nos deixou em estado de enorme tristeza. A próxima sessão acadêmica, quinta-feira que vem, dia 24, na ABL, será dedicada à memória do grande escritor português, por quem sempre tivemos o maior respeito e admiração."

Ana Maria Machado escritora:
"As letras brasileiras se associam à dor de seus leitores por todo o mundo, lamentando sua partida e celebrando sua literatura que permanece. Um sábio, um grande escritor, um ser humano de primeira grandeza."

Eduardo Galeano, escritor uruguaio:
[Quero dizer,] "simplesmente, que neste mundo há finais que também são começos, mortes que são nascimentos. E é disso que se trata (...) Ele foi embora, mas ficou entre nós."

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil:
"José Saramago contribuiu de maneira decisiva para valorizar a língua portuguesa. De origem humilde, tornou-se autodidata e se projetou como um dos maiores nomes da literatura mundial. Recebeu o Prêmio Camões, distinção máxima conferida a escritores de língua portuguesa, e o Prêmio Nobel de Literatura. Nós, da comunidade lusófona, temos muito orgulho do que o seu talento fez pelo engrandecimento do nosso idioma. Intelectual respeitado em todo o mundo, Saramago nunca esqueceu suas origens, tornando-se militante das causas sociais e da liberdade por toda a vida. Neste momento de dor, quero me solidarizar, em nome dos brasileiros, com toda a nação portuguesa pela perda de seu filho ilustre."

Letícia Sabatella, atriz:
"Conhecia Saramago pessoalmente. Interpretei dois personagens dele, na peça 'Memorial do convento' e no lançamento do livro dele 'As intermitências da Morte', em que eu encarnei a Morte. Ele me disse que eu fiz bem a Morte. (...) 'Memorial...' é um documento crítico e irônico."

Thiago Lacerda, ator:
“A perda do Saramago é irreparável para a literatura mundial, e principalmente para a literatura dos países de língua portuguesa. Eu o conheci pessoalmente quando da temporada do espetáculo 'O Evangelho segundo Jesus Cristo', em Lisboa. Levarei para sempre a lembrança da autoridade que ele tinha pessoalmente, assim como o brilhantismo eterno de sua obra.”

Zeferino Coelho, editor das obras de Saramago em Portugal:
“Saramago deixou um monumento literário imponente. Do ponto de vista de Portugal, podemos comparar sua obra com a de Fernando Pessoa. Saramago sempre teve linhas próprias. Não há diferença entre o Saramago escritor e o cidadão.”

Aníbal Cavaco Silva, presidente de Portugal
"Escritor de projeção mundial, justamente agraciado com o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência de nossa cultura (...) [A realização das cerimônias fúnebres de Saramago em Portugal] é um imperativo e uma honra para o país, que tem de reconhecê-lo e valorizá-lo" (...). [O escritor era] uma grande figura da literatura mundial".

José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal:
"É uma perda para nossa cultura."

José Luis Rodríguez Zapatero, presidente do governo espanhol:
"Nós, espanhóis, choramos hoje a [morte de] Saramago como se fosse um dos nossos (...) que nos enriqueceu com seu olhar compassivo e lúcido. A balsa de pedra que ele contou, a que une além das fronteiras Espanha e Portugal, sente a perda de uma de suas vozes (...) mais preocupadas com o [ser] humano (...) espanhóis e portugueses compartilham hoje a mesma dor, mas também o exemplo que seu legado de solidariedade, de inteligência e afeto."

Juca Ferreira, ministro da Cultura:
“A sua perda é recebida com muita tristeza, particularmente pelos que têm apreço pela língua portuguesa e por sua importância cultural em tantos continentes. O Ministério da Cultura do Brasil se soma aos que lamentam e manifestam a dor pela perda desse grande escritor.”

Fotógrafo Sebastião Salgado:
"O Saramago foi um amigo, uma pessoa que eu respeitava demais. Fizemos muitas coisas juntos, inclusive o livro 'Terra', que foi lançado no Brasil (...) Ele sempre foi um militante, um homem de esquerda, comprometido com todas as causas sociais, principalmente de Portugal e do Brasil. Sinto profundamente. É uma perda muito grande." (Leia mais aqui.)

João Pedro Stedile, líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST):
"O MST teve o privilégio e a honra de ter seu envolvimento militante, quando ele somou-se ao projeto de Sebastião Salgado e Chico Buarque e nos ajudou a difundir a exposição 'Terra'. Graças aos livros e fotos dos três, pudemos iniciar a construção de nossa escola nacional. Seremos sempre gratos a sua solidariedade."

Nicole Witt, agente internacional de José Saramago nos últimos três anos:
"Para nós é uma notícia muito triste porque sentimos o Saramago muito próximo. Tanto por sua obra, como por sua orientação. Foi um amigo de muitos anos. De corpo ele estava bastante frágil, mas, ao mesmo tempo, tinha muita serenidade, sempre nas mãos de sua mulher Pillar.”

Sérgio Rodrigues, escritor:
"A língua portuguesa perde um grande mestre. É chato saber que, como vem ocorrendo há anos, muita gente voltará a se lembrar agora de Saramago apenas por suas posições políticas meio extemporâneas ou por simples oposição a Lobo Antunes, que seria este sim o verdadeiro bambambã, nesse Fla x Flu besta da literatura portuguesa. Em tempos midiáticos, é isso que dá audiência e permite a qualquer um entrar na conversa, conhecendo ou não a obra dele. Mas é chato porque Saramago é um escritor estupendo, dono de uma prosa bela e viciante e de uma voz narrativa só dele, situada a meio caminho entre o realista, o alegórico e o satírico, com algo de atemporalidade mítica. Incomparavelmente mais acessível que Lobo Antunes, é verdade - mas só os pedantes igualam acessibilidade a inferioridade estética."

Cecilia Giannetti, escritora:
Entrevistei Saramago em 2004 e guardo dessa conversa (...) duas frases dele que ainda me dizem muito (...): 'Eu não sou pessimista, o mundo é que é péssimo.' (...) 'Encaremos os fatos e decidamos que papel queremos desempenhar na tragédia do mundo'. Me pareceu um homem cansado de injustiças, sim, mas também da falta de iniciativa, ação de quem - indivíduo ou povo, como um todo - apenas se recolhe e vitimiza. 'Ensaio sobre a lucidez' é um excelente livro para nós, brasileiros, lermos em ano de eleições. Saramago se faz presente aqui."

João Paulo Cuenca, escritor:
"'O ano da morte de Ricardo Reis' é um dos melhores livros escritos na língua portuguesa. (....) Adoro também o último livro dele, 'Caim', por causa do vigor e do senso de humor. Imagino que agora, com a sua morte, esteja se repetindo a cena final do livro, com Saramago pedindo para Deus prestar contas."

Ivana Arruda Leite, escritora:
"Comecei por um livro de contos pouco conhecido chamado 'Objecto Quase'. Genial. Dentre os romances, o meu preferido é 'O Evangelho segundo Jesus Cristo', o relato mais apaixonante de Jesus Cristo já feito na literatura."

Arthur Dapieve, escritor e jornalista:
"Acho que a riqueza da prosa do Saramago de certa forma deu um novo status à língua portuguesa. O Nobel foi apenas um reconhecimento a isso. Nosso idioma ainda é muito subestimado, claro, mas ele foi fundamental para ao menos o português sair do ostracismo. Além disso, ele estabeleceu novos desafios para quem quer que se disponha a escrever bem no nosso idioma."

Fábio Fernandes, escritor e tradutor:
"Dizer que Saramago foi um dos maiores escritores da língua portuguesa vai ser, claro, a frase-clichê do ano. Porque é verdade. Mas as provas estão aí, para quem tiver olhos de ler: "Ensaio sobre a cegueira", "História do cerco de Lisboa", "A jangada de pedra", "Memorial do convento"... a lista é imensa, e certamente cada um terá seu favorito. Eu tenho vários. Hoje mesmo vou tirar um livro de Saramago da estante e reler. Se as lágrimas deixarem."

Cassiano Elek Machado, editor:
"Questionei-o em uma entrevista sobre a questão da morte, da idade, ele me falou uma frase sobre a velhice, em 2005. ‘Pela idade, há muito tempo que sou um velho. Mas só pela idade. Trabalho com a mesma vontade de sempre, a imaginação ainda não desertou de mim, compreendo melhor o mundo em que vivo, sou consciente do valor da vida, e, quanto à morte, ela chegará no seu dia, nem antes nem depois. Quem morre aos 20 anos, morre na sua velhice e não o sabia. Pense nisso’."

Bernard Kouchner, ministro de Assuntos Exteriores da França:
"Portugal perde um de seus maiores escritores e a França um amigo próximo. Durante toda sua vida, José Saramago foi um homem comprometido com as liberdades. Lutou contra a ditadura para que seu país reencontrasse a democracia e seguiu, em nome dos mesmos ideais, este combate no mundo todo e especialmente no Timor-Leste."

Miguel Barnet, poeta e romancista cubano:
"Cuba perde um grande amigo e a literatura universal um exemplo de ética e de criatividade perene."

Ángeles González-Sinde, ministra da Cultura da Espanha:
"Hoje é um dia triste para a cultura, nós temos de começar a nos acostumar com a ideia de que não vamos ter novos romances de Saramago, nem mais artigos seus; nós tínhamos nos acostumado a sua presença. Muitos leitores, e muitos de nós espanhóis, infelizmente, vivemos de costas à cultura portuguesa e olhamos mais em direção ao nosso lado da fronteira do que para o país vizinho, mas Saramago nos abriu a porta a essa cultura tão maravilhosa, da qual depois nos apaixonamos para sempre. Era um homem comprometido, progressista, muito de esquerda, tinha um compromisso ideológico e vital com as vítimas e com os conflitos, que era parte de sua ideologia, era parte também de sua vocação, porque o impulso de escrever é sempre uma tentativa de contar de outra maneira o que estás ocorrendo, com o desejo de mudá-lo."

José Sarney, ex-presidente do Brasil e membro da Academia Brasileira de Letras:
"A perda de um escritor do porte de José Saramago abre um espaço na literatura de língua portuguesa. Autor de estilo difícil e provocador, trabalhava seus personagens sempre com características psicológicas. Quando foi escolhido Nobel, achei que tinham preterido Jorge Amado, maior do que ele. Mas Saramago tornou-se um personagem mitológico, um centauro que dividia a literatura com a política, sempre em posições críticas sobre a sociedade atual. Tínhamos uma convivência estreita e carinhosa. Mas ele me conquistou definitivamente quando visitou o Maranhão, em 1989, e deslumbrou-se com a arquitetura colonial portuguesa de São Luís. Ao olhar as ruínas de Alcântara, disse que aquele era o lugar ideal para se passar os últimos dias da vida. Tive a honra de ser escolhido para saudá-lo quando, em 1997, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Brasília. Saramago morreu no ápice de sua produção literária. Prova disso é o seu último livro intitulado 'Caim', onde repete a temática exuberante e uma jovialidade que enganava a idade cronológica. Deixa marca indelével."


Felipe Calderón, presidente do México:
"A obra de José Saramago é uma referência indispensável na literatura universal, já que permite entender, através da imaginação e de uma ironia sutil, as transformações da sociedade."

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura de Portugal:

"Saramago é o escritor português mais traduzido e o mais conhecido internacionalmente. Ele sempre valorizou muito a liberdade. Era um homem de determinação e liberdade interior elevadíssimas. Sua morte é uma perda incalculável "