Há coisas na vida que não tem preço. São situações nas quais você sente um prazer incomensurável e se auto-questiona: “Poxa, há quanto tempo eu esperava por isso.”. Ou então você diz: “Esse momento é sempre maravilhoso. Quanto mais eu vejo, mais me divirto e me realizo”. Ontem, na mega-rodada dominical da Copa do Mundo, eu não tive esse prazer. Foi um dia espetacular. Estava no estádio comentando o melhor jogo do Mundial – Alemanha 4 x 1 Inglaterra. Falei com a minha família e Pequeno Bob disse, aos berros, que me ama. Tudo lindo. Só não tive a realização de olhar para o rosto simpático de Joseph Blatter no momento em que o uruguaio Jorge Larrionda e seu assistente não deram o já famoso gol de Frank Lampard quando a bola ultrapassou em 33cms a linha do gol. E no exato momento em que Carlitos Tevez, numa banheira sem-vergonha, abriu o caminho da ótima seleção argentina para derrotar os bons mexicanos. O que teria dito Sepp Blatter e seus seguidores do conservadorismo anacrônico, com cheiro de hipocrisia e pouco caso, sobre os equívocos históricos dessas oitavas-de-final.
Sou capaz de advinhar que será mais ou menos assim… “O erro de arbitragem faz parte do futebol. Não temos como anulá-lo totalmente. De toda maneira, estamos analisando (há vários anos, diga-se de passagem) a proposta do chip na bola. Quanto à arbitragem, nossa comissão especializada vai cuidar do assunto”.
Não sei se ele dirá exatamente isso, mas já me acostumei ouvir Blatter e outros cartolas do planeta saírem sempre com esse discursinho sem imagem, muito menos ação. Não vai acontecer nada. Absolutamente nada. Foi assim em 1966. Foi assim em 2002. Foi assim em 2006. Foi e será ainda mais assim em 2010. Os homens do futebol desenvolveram o esporte, multiplicaram os lucros, abriram as receitas, ganharam a televisão, transformaram o futebol num evento premiun mundial, mas esqueceram do básico: modernizar, aperfeiçoar e aprimorar as regras do campo.
Com um simples ON no sistema de computador, os erros de Larrionda, Rossetti e dos seus assistentes estariam reparados. E estaríamos aqui falando de Tevez, Thomas Muller, Schweinsteiger, Lampard, Messi e Javier Hernandez. Mas não: tecnologia, não. “Vai tirar a graça do futebol”, dizem os senhores da lei e bom senso. Eles preferem consultar o livro de bolso, procurar a regra tal, ler a mesma em voz cerimonial e compactuar com a falha eterna.
No fim, quem paga somos nós. Que amamos o jogo e sofremos quando a história ganha um borrão nunca mais apagado. E quem são castigados são os árbitros, falíveis, e que a essa altura do campeonato já devem ter recebido a passagem de volta. Enquanto isso, “os donos do espetáculo”, todos de paletós bem cortados e gravatas caríssimas, seguirão até o fim, sorvendo o incompreensível sabor do erro (e da desgraça) alheia.