Renato Maurício Prado
Os retrógrados do futebol, aqueles que são contra o uso da tecnologia no auxílio à arbitragem, insistindo na esdrúxula tese de que uma das maiores graças do futebol está na polêmica causada por erros de arbitragem, devem estar dando saltos de alegria. Afinal, um equívoco escandaloso manchou aquele que foi, disparado, o jogo mais espetacular da Copa da África do Sul, até agora.
Uma bola chutada por Lampard bateu no travessão e quicou mais de 30 centímetros dentro da baliza! Àquela altura, em duelo disputado num ritmo alucinante, a Alemanha vencia por 2 a 1 (depois de ter feito 2 a 0), e a Inglaterra crescia na partida. Acabara de marcar um gol e, no minuto seguinte, houve o lance absurdo — o empate teria incendiado de vez o confronto.
O erro crasso da arbitragem obrigou os ingleses a voltarem para o segundo tempo buscando, desordenadamente, a igualdade negada pelo equívoco do juiz e seu auxiliar. O resultado? Deu os espaços que o jovem e talentoso time alemão precisava para contra-atacar de forma rápida e mortal.
O placar final de 4 a 1 soa incontestável, mas é impossível negar que o desenrolar da partida poderia ter sido outro se o chute de Lampard tivesse levado o placar a 2 a 2, aos 38 minutos do primeiro tempo.
Quarenta e quatro anos depois, os ingleses experimentaram do próprio veneno. A diferença é que a bola que lhes garantiu a vitória e o título, diante da Alemanha, na Copa de 66, até hoje ninguém pode dizer, com absoluta certeza, se entrou ou não. Bem ao contrário desta...
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Outro erro grosseiro favorece Argentina
México e Argentina faziam um jogo parelho até que mais um erro grosseiro de arbitragem mudou o panorama: após grande lance de Messi, Tevez, em completo impedimento, marcou de cabeça. Em seguida, numa bobeada da zaga mexicana, Higuaín fez o segundo. Após o intervalo, o time de Messi e Maradona administrou a partida. Venceu por 3 a 1, confirmando a condição de forte candidato ao título e deixando no ar a certeza de grande duelo contra a Alemanha, nas quartas de final.
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Contra a retranca, o drible. De quem?
Irônico, como sempre, Dunga disse ontem que “quando enfrenta adversários retrancados, todo mundo tem dificuldade.” Ainda segundo ele, a saída é “partir pra individualidade, pro drible.” Mas, no elenco atual, somente Robinho, Kaká e Luís Fabiano têm capacidade para isso. Ninguém mais.
Menos mal que o jogo de hoje não deve ser retrancado. Não creio que o Chile dirigido por Marcelo Loco Bielsa parta com tudo à frente. Mas, retrancado, também não ficará. É jogo bom pro Brasil.
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AINDA O COLETE. O ex-jogador de basquete e médico ortopedista Raimundo Grossi entrou na polêmica sobre o tal colete usado pelo goleiro Júlio César. Por e-mail, ele me garante: “O que o Júlio César usa chama-se cinta lombar e não colete toraco-lombar de Putii. Ele só atinge a coluna lombar. Eu mesmo o uso nas minhas peladas de basquete, agora depois de velho, por ter lombalgia crônica. Parabéns ao Dr. Runco.”
REMATADA BOBAGEM. Questionado sobre o erro grosseiro do juiz no jogo Alemanha e Inglaterra, Dunga disparou, com convicção: “Se o futebol não tiver discussão, nem polêmica, vocês (jornalistas) não estariam aí, nem eu aqui. Vai acabar o trabalho pra todos nós.” Quero ver o que ele vai dizer se o erro for contra o Brasil...
PRESSÃO. Em italiano, o técnico do Brasil fez mais um desabafo: “Temos que vencer sempre. Mas quando vencemos, temos também que dar espetáculo, e quando damos espetáculo dizem que o adversário é fraco. Não há saída. A pressão é sempre gigantesca.” Então, tá...
LEMBRANÇA FUNESTA. Ao assistir, revoltado, ao absurdo erro de arbitragem (claramente denunciado pelas imagens da TV) macular um jogão como Alemanha e Inglaterra fiquei pensando no presidente da Fifa, Joseph Blatter, e acabei divagando sobre a politicagem que move a Fifa e a Copa atual. Honduras, Nova Zelândia, Coreias, Japão etc não lembram Americano, Friburguense, Serrano, Rezende e que tais? E o Blatter me levou a recordar o (nada saudoso) Caixa D’Água? Pois é...
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FRASES
“Se de onde eu estava deu pra ver
claramente que a bola do Gerrard entrou,
como o auxiliar não viu? O erro grosseiro
mudou completamente o rumo da
partida. Lamentável!”
FÁBIO CAPELLO, TÉCNICO DA INGLATERRA, APÓS O JOGO
“Özil, o jovem canhotinho alemão não se
parece com o Hensi Muller, mas sim com
cracaço Overath. E lembra também o
Paulo Henrique Ganso. Será que o Ganso
alemão será campeão?”
PEDRO PINTO DE OLIVEIRA, POR E-MAIL