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Homem finge ser ex-lateral Leonardo e aplica golpe em jogadores e cantor

Com identidade do ex-atleta da Seleção, uma pessoa já extorquiu cerca de R$ 50 mil sob a alegação de ajudar criança doente. Leonardo, o verdadeiro, irá à Justiça

Por São Paulo
Conversa Leonardo  (Foto: reprodução)

Abordagem do falso Leonardo com o lateral-esquerdo Zé Roberto (Foto: reprodução)

Jogadores de alguns dos principais clubes do futebol brasileiro estão sendo vítimas de um golpe. Uma pessoa está pedindo dinheiro para ajudar uma criança doente usando a identidade do ex-jogador Leonardo, ídolo no São Paulo, Flamengo, e com as Copas do Mundo de 1994 e 98 na bagagem. Essa pessoa usa o nome da Fundação Gol de Letra, entidade que tem Leonardo como conselheiro e é presidida por Raí. No início desta semana, a farsa, que já rendeu um valor aproximado de R$ 50 mil, foi descoberta e mobilizou os envolvidos.

A  Gol de Letra tem acumulado prêmios, inclusive fora do país, por seus projetos sociais. Com a boa reputação da instituição e também de Leonardo, que atuou nos últimos anos como técnico e dirigente de clubes como Milan (ITA) e PSG (FRA), o cidadão conseguiu o número de telefone celular de inúmeros jogadores e pediu ajuda a uma criança doente, que precisaria de um aparelho importado dos Estados Unidos.

O primeiro contato, em alguns dos casos, foi feito por e-mail com assessores de imprensa. Sob a alcunha de Reginaldo Martins, e dizendo-se funcionário da fundação, a pessoa abria conversa sobre a participação do jogador numa partida beneficente, no dia 20 de dezembro, no estádio do Morumbi.

Foi assim, por exemplo, que ele chegou a Zé Roberto. Com o telefone do lateral-esquerdo do Grêmio em mãos, a pessoa assumiu a identidade de Leonardo e fez contato por WhatsApp, popular aplicativo de conversas. Com direito à foto do tetracampeão mundial.

Leonardo PSG (Foto: Reuters)Imagem do ex-jogador Leonardo está sendo usado para extorsão de jogadores (Foto: Reuters)

“VC não ta embalsamado irmão???”, questionou o falso Leonardo a Zé Roberto, em uma brincadeira com a idade do atleta de 40 anos. Zé Roberto foi companheiro de Leonardo, o verdadeiro, na Copa do Mundo de 1998. Depois de duas mensagens, o cidadão fez menção a uma ajuda para a “instituição amado”.

Zé Roberto disse que não chegou a depositar nenhuma quantia, mas ouviu no vestiário do Grêmio que outros jogadores também foram abordados. O assédio deixou o presidente da Gol de Letra absolutamente indignado com o uso de sua imagem.

- É um absurdo, estão botando em perigo minha relação com as pessoas. Nem sei o que esse cara está dizendo, como está agindo. A fundação não faz esse tipo de assédio, jamais pediu dinheiro a pessoas dessa forma. Temos projetos financiados por parcerias, entes públicos e privados. Não gostamos desse tipo de abordagem - afirmou Leonardo.

Havia uma série de brechas na história, como um telefone com DDD do interior paulista, quando Leonardo, na verdade, é carioca. Mas a ótima reputação do ex-jogador impediu quaisquer desconfianças. A farsa começou a ser descoberta quando um jogador do São Paulo desconfiou da urgência com a qual o falso Leonardo insistia no depósito.

Ele acionou uma pessoa próxima, que entrou em contato com um representante da Gol de Letra. Esse representante desmentiu a história, disse que o ex-jogador jamais entrou em contato com atletas para pedir dinheiro.

Conversa Leonardo  (Foto: reprodução)

Homem mandou foto da suposta criança doente e sensibilizou jogador, que doou. O atleta preferiu não se identificar (Foto: reprodução)

- Quando eu fiquei sabendo, liguei correndo para minha gerente e consegui recuperar meu dinheiro. Ele me pediu R$ 20 mil, eu disse que 20 não poderia dar, mas doei R$ 5 mil. Até foto da criança o cara mandou, dizendo que a mãe estava agradecida - relatou o atleta, que pediu para não ser identificado.

De acordo com esse jogador, que tratou de avisar os mais próximos, outras vítimas do golpe, a conta bancária dada pelo falso Leonardo já havia chegado à soma de R$ 48 mil em doações. A pessoa que se passa pelo ex-jogador fornece os dados de uma conta que pertenceria a um homem chamado Rafael Nicolas Stella, inclusive com o CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) do titular, necessário para o depósito. Segundo o banco Bradesco, essa conta existe desde 2007, e providências estão sendo tomadas para averiguar a origem dos depósitos e suas motivações.

No início da tarde desta terça-feira, o farsante ampliou o golpe. Entrou em contato com o cantor Daniel e pediu uma doação. O artista resolveu entrar em contato com a Gol de Letra antes, para saber a veracidade do pedido, e constatou que tratava-se de uma farsa.

O verdadeiro Leonardo disse já ter passado por situação semelhante na Itália, quando um homem organizava eventos e anunciava a presença dele e de Kaká, na época jogador do Milan. Depois de recolher dinheiro, ele cancelava ou inventava razões para justificar a ausência dos ídolos no local.

- Esse homem foi preso na Itália, está preso até hoje. E aqui eu vou usar vias legais para saber o que posso fazer com o que está acontecendo. Estou indignado com essa situação, isso tem que parar o quanto antes. Que ninguém acredite que possa existir uma abordagem assim - disse Leonardo.

Os advogados da fundação já trabalham para impedir a ação do golpista. No fim da tarde, a Gol de Letra emitiu uma nota. Veja a íntegra:

"A Fundação Gol de Letra vem a público informar que seu nome está sendo usado por uma pessoa que se apresenta em nome da organização e faz pedidos de doações de forma indevida e sem o conhecimento da Fundação. Esclarecemos que as providências jurídicas já estão sendo tomadas para coibir essa ação e punir devidamente os envolvidos.  
Nossos contatos são sempre institucionais e cuidadosos, como devem ser abordagens de captação de recursos. É essa postura que nos confere a confiança e a credibilidade depositada por todos os nossos parceiros ao longo desses 15 anos.
Lamentamos o ocorrido e orientamos todos a denunciarem no email comunicacao@goldeletra.org.br caso sejam procurados.

Fundação Gol de Letra"

Cantor Daniel (Foto: Mateus Rigola)

Cantor Daniel também foi assediado, mas entrou em contato com a fundação e não fez o depósito (Foto: Mateus Rigola)