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Atletas prestam queixa e inquérito será aberto contra "falso Leonardo"

Golpista vira alvo de jogadores que fizeram doações e da fundação Gol de Letra. Grafia do nome errada e sumiço de telefone serão investigados

Por São Paulo
Conversa Leonardo  (Foto: reprodução)
 
Abordagem do falso Leonardo com o lateral-esquerdo Zé Roberto (Foto: reprodução)

A farsa que envolveu o nome do ex-jogador Leonardo entre o fim da semana passada e o começo desta já virou caso de polícia. Um homem assumiu a identidade do lateral-esquerdo campeão do mundo em 1994 e, pelo WhatsApp, aplicativo de conversas pelo celular, pediu doações a uma criança doente. Atletas de diferentes clubes do Campeonato Brasileiro foram assediados e contribuíram antes que o golpe fosse descoberto.

Na última terça-feira, segundo um desses jogadores, uma gerente do banco que recebeu os depósitos havia afirmado que R$ 48 mil foram acumulados em poucos dias. O Bradesco foi procurado pela reportagem, que questionou sobre a veracidade da conta e as providências tomadas, mas respondeu por e-mail: "O banco não comenta".

A conta está no nome de Raphael Nicolas Stella. Só que ao fornecer os dados para os jogadores, o falso Leonardo deu o nome de "Rafael", com grafia diferente do nome do titular da conta, aberta em Jundiaí, no interior de São Paulo.

Três atletas prestaram queixa na polícia e a Gol de Letra deu uma procuração ao escritório de advocacia que presta serviços à fundação para tomar providências legais. Nesta sexta-feira, será pedida instauração de inquérito no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

 Leonardo é conselheiro da Gol de Letra, presidida pelo também ex-jogador Raí e premiada por seus projetos sociais. Além de seu nome, o golpista usou outro contato, o de um suposto funcionário chamado Reginaldo Martins, que não existe, e um e-mail criado com o nome da fundação em um provedor gratuito de endereços eletrônicos.

A maioria dos envolvidos no caso disse que a reputação de Leonardo e a foto de uma criança foram as principais motivações das doações. O retrato sensibilizou os atletas. Para cada um, uma versão diferente era contada. Ou o menino precisava de dinheiro para uma cirurgia complicada, ou então para o tratamento pós-operatório. A um dos jogadores, o falso Leonardo chegou a dizer que era necessário importar um aparelho dos Estados Unidos.

Leonardo PSG (Foto: Reuters)

Nome de Leonardo foi usado por golpista para conseguir dinheiro de outros jogadores (Foto: Reuters)

A reportagem também tentou contato com o telefone usado pelo golpista para falar com os atletas. Se antes o número era registrado no WhatsApp com a foto de Leonardo, agora está excluído do aplicativo, e todas as chamadas são direcionadas para a caixa postal.

Num momento de fúria após descobrir a farsa, um jogador do São Paulo xingou o golpista pelo WhatsApp, o que permitiu a ele saber que havia sido desmascarado.

Por muito pouco, outras pessoas não doaram dinheiro. O cantor Daniel, por exemplo, só não doou porque ligou antes para a Fundação Gol de Letra. Para ele, foi narrada em tons dramáticos a história de uma menininha que havia sido estuprada e contraído o vírus da AIDS.

O técnico Muricy Ramalho não chegou a ser vítima do golpe, mas comentou no São Paulo que foi alertado no fim da semana passada por um amigo de Ribeirão Preto. O falso Leonardo também tentou chegar ao goleiro Victor, do Atlético-MG, e ao volante Arouca, do Santos. O lateral-esquerdo Zé Roberto, do Grêmio, chegou a trocar mensagens saudosistas com o golpista, achando que estava falando com o companheiro de seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998. Ele diz que a farsa foi descoberta antes que fizesse qualquer depósito