Dívidas dos clubes: discussão avança, mas definição fica para quarta-feira
Em reunião, Bom Senso, clubes, governo federal e parlamentares entram em consenso sobre pontos importantes do projeto. Porém, ainda há divergências
Após
meses de debates e polêmicas, governo federal, clubes, Bom Senso F.C. e
parlamentares parecem estar perto de um consenso em relação ao projeto
de renegociação das dívidas (Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte -
LRFE), que tramita desde novembro de 2013 no Congresso Nacional. Em
mais uma reunião realizada nesta terça-feira, em Brasília, houve avanços
em alguns itens discordantes. Porém, a definição sobre o texto final
que deve ser votado no plenário da Câmara dos Deputados ficou para esta
quarta-feira.
- Acredito que evoluímos bastante. Amanhã
(quarta-feira) teremos uma definição em relação a alguns pontos que
ainda ficaram abertos... A emenda que discutimos hoje, com a inclusão
dos pontos que colocamos, está mais completa - afirmou o
diretor-executivo do Bom Senso, Ricardo Borges Martins, após a reunião
de mais de duas horas e meia nesta terça-feira, na liderança do governo
na Câmara dos Deputados.
Encontro nesta terça reuniu representantes do governo, clubes, Bom Senso e parlamentares (Foto: Fabrício Marques)
-
Avançamos muito. Algumas coisas ainda ficaram pendentes, mas achei o
encontro muito proveitoso. Foi feito uma análise de todos os pontos que
estavam em discordância entre os setores e conseguimos chegar a um
acordo. Vai ser feito um texto final e amanhã vamos ver se batemos o
martelo nisso - completou o presidente da Liga do Nordeste e membro da
diretoria do Vitória, Alexi Portela, que representou os clubes no
encontro acompanhado de dirigentes de São Paulo, Coritiba, Atlético-MG e
Ponte Preta.
Uma nova reunião entre as partes será realizada
nesta quarta-feira e a expectativa dos parlamentares é de que seja
sacramentado um acordo para votação do projeto no plenário da Câmara
ainda esta semana. Porém, tudo vai depender do resultado da reunião e do
andamento da pauta da casa, que está trancada.
-
Vamos tentar aprovar um requerimento de urgência e, se tudo der certo,
quem sabe possamos votar em plenário amanhã (quarta-feira) - disse o
relator do projeto, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ).
Após
passar pelo plenário da Câmara, o projeto de renegociação das dívidas
ainda terá que ser aprovado no Senado antes de seguir para sanção da
presidente Dilma Rousseff.
pontos de consensuais
Diretor do Bom Senso, Ricardo Borges viu avanços na discussão (Foto: Reprodução/SporTV)
Segundo
os representantes que participaram da reunião, nesta terça-feira foram
acordados alguns pontos que ainda eram discordantes entre as partes.
Para o Bom Senso, o principal deles foi a decisão de detalhar no projeto
toda a composição do comitê que ficará responsável por fiscalizar os
clubes e aplicar o chamado fair play financeiro (punição a clubes
devedores), além da definição dos participantes do conselho: atletas,
treinadores, clubes, CBF e um representante do Conselho Federal de
Contabilidade (CFC).
- Foi fundamental a aceitação de todos os
atores da inclusão na lei dos detalhes de funcionamento do comitê.
Critérios, punições, tudo isso deve entrar na lei. Definimos que o
comitê será composto por cinco representantes. Dá para considerar uma
vitória.
Ampliamos a participação do corpo técnico do futebol e mantivemos o órgão bastante técnico. Também conseguimos com que a CBF não prenomeie um presidente. Isso será decidido dentro do comitê - explicou o representante do Bom Senso, Ricardo Borges.
Ampliamos a participação do corpo técnico do futebol e mantivemos o órgão bastante técnico. Também conseguimos com que a CBF não prenomeie um presidente. Isso será decidido dentro do comitê - explicou o representante do Bom Senso, Ricardo Borges.
Outra
vitória conquistada pelo movimento foi o escalonamento das penas. A
proposta inicial previa como punição aos clubes devedores apenas o
rebaixamento, aplicado aos que não apresentassem as Certidões Negativas
de Débitos (CNDs). Agora, deve ser aplicada a proposta do Bom Senso:
monitoramento feito a cada três meses para itens e seis meses em outros,
com penas variando desde um aviso, passando por multas, retenção de
verbas e, em último caso, rebaixamento e proibição de participação em
competições.
Em outro ponto, foi o Bom Senso que precisou
ceder e prevaleceu a vontade dos clubes. Uma das propostas do movimento
era limitar os gastos com futebol a 70% das receitas dos times. Ideia
rejeitada pelos dirigentes e que não será incluída no texto.
-
Uma coisa que não podíamos aceitar era a limitação de 70% para os
gastos no futebol. Acho que não podemos engessar as receitas do clube.
Pagamento de salários, responsabilidade fiscal, tudo isso acho que tem
que ter. Assim como as punições gradativas, como o Bom Senso propôs. Mas
os 70% a gente não concordou - afirmou o dirigente do Vitória, Alexi
Portela.
pontos ainda divergentes
Presidente da Liga Nordeste, Alexi Portela acredita em consenso (Foto: Fabrício Marques)
Se
algumas questões foram resolvidas nesta terça, outras ficaram para a
reunião de quarta-feira. Há dois pontos de divergência entre clubes e
governo: o prazo do parcelamento e a limitação do refinanciamento a
apenas 90% do total das dívidas.
Em relação aos prazos, a
proposta inicial era de que os clubes tivessem 25 anos para quitar as
dívidas. Porém, o governo sugeriu uma redução para 17 anos, que não
agradou os clubes. A tendência é de que seja acertado um prazo
intermediário de 20 anos (240 meses).
O governo também propôs
que só fosse permitido o refinanciamento de 90% do total das dívidas. Os
outros 10% deveriam ser pagos no momento de adesão ao programa.
Proposta considerada inviável pelos clubes.
- Essa parte, o
governo ainda vai resolver. Os 240 meses e os 10% iniciais. Vamos ver,
porque os clubes não têm condições de bancar. É um ponto que ainda está
sendo discutido. O governo vai ver como resolver. Nossa proposta é não
ter esse valor inicial e toda a dívida ser parcelada - afirmou Portela.
Outro
ponto de divergência envolve clubes e atletas. Os times propuseram uma
redução no valor da cláusula indenizatória em casos de rompimento de
contrato com jogadores. Item que ainda não foi aceito pelos
representantes do Bom Senso.
- Essa é uma demanda deles, a
cláusula indenizatória. Os clubes enviaram uma proposta de modificação e
fomos pegos de surpresa. Vamos analisar e provavelmente colocar uma
posição na próxima reunião - afirmou Ricardo Borges.
entenda a novela da lrfe
A
novela da renegociação das dívidas dos clubes - que ao que tudo indica,
se aproxima do fim -, começou ainda em 2013, quando foi apresentado no
Congresso Nacional o Proforte (Programa de Fortalecimento dos Esporte
Olímpicos). A ideia era de que os times pudessem quitar até 90% das
dívidas por meio de investimentos em esportes olímpicos, com a concessão
de bolsas a atletas e compra de equipamentos. Os 10% restantes seriam
pagos em dinheiro.
A proposta enfrentou rejeição na comissão
especial formada para discutir o tema. O relator, Otávio Leite,
apresentou então um projeto substitutivo com o nome de Lei de
Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE), que foi aprovado e
encaminhado para votação em plenário em maio desse ano. O novo texto
dava um prazo de 25 anos para que as instituições esportivas - o que não
inclui apenas clubes de futebol - pudessem quitar suas dívidas com a
União (débitos relacionados ao INSS, Imposto de Renda, FGTS, Timemania e
Banco Central), entre outras definições.
Porém, apesar de
aprovada na comissão, a proposta continuou sendo contestada,
principalmente por órgãos do governo e o movimento Bom Senso, provocado
uma série de reuniões e debates entre os interessados no projeto.